Nossa mãe do céu. Vendo agora com calma, esse kickstarter é o mais ganancioso que eu ja vi. $ 50 só pelo PDF, e $ 80 pelo livro físico é um absurdo. Parece que foi feito pra colecionador profissional isso. Aqueles velhinhos ricos que não comem ninguem e podem gastar 3.000 dólares numa edição de colecionador.
Eu nunca sequer lembro de ter ouvido falar desse cenário
Normal. Glorantha tá longe de ser popular atualmente. Já até foi - nos '80, Runequest (que é o nome do seu sistem) dividia com D&D e Traveller o Top 3 de RPGs mais populares nos EUA e Inglaterra - mas hoje em dia ocupa um nicho bem específico, junto de cenários como Tekumel, caracterizados por serem antigos, exóticos (não bebem da mesma fonte das outras fantasias ),
e possuírem uma certa "verossimilhança antropológica" (mitológica no caso de Glorantha, linguística no de Tekumel) rara na indústria.
Alguns exemplos legais que diferenciam Glorantha de D&D:
- spells funcionam como nas culturas antigas - pequenos encantos e mandingas pra curar doenças, trazer boas colheitas, sorte na batalha, afastar maus espiritos, prosperidade pro lar, etc. e qualquer personagem pode "lançá-los".
- personagens são definidos por cultura, religião e ocupação ao invés de funções marciais.
- religião é ligada ao jogo em si, ao invés de mero fluff (ou justificativa pra spells divinos), pois define a progressão do personagem. Se em D&D sua progressão é definida pela quantidade de monstros que você mata, em Glorantha/RQ a progressão é definida pela dedicação de seu personagem aos valores de sua religião. Ao invés de passar do Levels ( 1, 2, 3, etc), você passa de Rank dentro de um culto divino ("Seguidor" > "Iniciado" > "Acólita" > "Sacerdote" > "Alto Sacerdote" ), cada nivel abrindo novas habilidades mundanas e mágicas (e também deveres para com o culto).
- o nivel cultural e tecnológico do cenário é era do bronze ao invés de medieval, com influencias sword & sorcery de Howard. Ou seja, tá mais pro tipo de heróis visto em... digamos.. Shadow of the Colossus, Conan ou Tróia (pés-de-sandália, espada curta, lança e bandana), do que o típico cavaleiro medieval em armadura reluzente.
-
mito é real. Essa é a característica mais marcante. Ele assume que os tipos de crenças antigas são, de fato, reais - o mundo é
realmente um bloco de terra flutuando em um mar gigantesco e "reto", ao invés de uma esfera/planeta; o céu é
realmente um domo de vidro cheio de buraquinhos através dos quais se vislumbra o mundo celestial onde moram os deuses; etc. Além disso, o mito também constitui as "leis físicas" do mundo - as plantas crescem porque Aldrya a deusa-planta assim deseja, e se você quer ter uma colheita abundante, fazer sacrificios em seu nome ou rituais que reconstituem seus feitos, serão muito mais efetivos do que esforços mundanos.
A melhor introdução ao cenário é o game de PC King of Dragon Pass (compre
aqui por 10 reais ), que é sobre a saga de um clã bárbaro em sua tentativa de colonizar um vale proibido. A cultura desse clã é uma das mais importantes do cenário e inspirada na cultura celta/urn-field/hallstati (a outra cultura importante do cenário é inspirada parcialmente nas mesopotâmicas - babilônia, assíria, etc).
Deu pra ver que eu me empolgo quando falo de Glorantha/Runequest, né ?