Eu concordo que o transporte público deveria ter mais enfase. Só acredito que resolver essa questão seja muito mais de uma conscientização da população que tornar a comprar de carros mais complexa.
Vou fazer uma comparação totalmente esdrúxula pra ver se vc entende:
Pedofilia. Existem campanhas de conscientização contra ela, mas ninguém deixa de prender pedófilos.
EDIT:
Exemplo mais palatável. Cigarros de nicotina. São uma droga legalizada (e concordo com isso, por sinal). São nocivos à saúde e viciam bastante. Existem campanhas de conscientização contra o cigarro. Mas ALÉM delas existem LEIS que impedem o consumo em uma PÁ de locais públicos, pq afinal quem se ferra mais é o fumante passivo.
Existem também impostos sobre os cigarros que os tornam propositalmente mais caros.
Essas leis são atentado contra a liberdade?
E quanto aos carros que atravancam as ruas e me tornam fumante passivo de sua fumaça?
--- fim do EDIT --
Pelo que já li da questão da mobilidade e transportes, carros privados são totalmente DESNECESSÁRIOS. São um luxo tolo, que prejudica a todos e inclusive ao próprio motorista chafurdando no engarrafamento e respirando a atmosfera quase venenosa quando abre a porta. É aquela velha história de criar demanda, criar necessidades, foi essa a armadilha da automobilidade, há a ilusão de que carros são necessários.
Sim, a automobilidade é necessária, mas não a propriedade privada de carros.
Se isso parece estranho e ditatorial, também poder-se-ia haver um debate (ou um referendo, né...
) sobre se armas devem ser vendidas para todos e irrestritamente. O "direito ao conforto" sacaneia uma cidade inteira, o mundo inteiro.
Sim, conscientização seria muito bom. É o que acontece em Copenhague, onde as pessoas lidam com carros de maneira diferente. Só que lá, além da população ser consciente do problema (não se vê nenhum fdp como os que vi ontem, ocupando uma calçada inteira perto de um show, e me forçando a andar pela rua, numa esquina onde eu podia ser atropelado), os preços dos carros são simplesmente exorbitantes, por política do governo. Lá, não é normal um jovem ter carro. Ele jamais teria dinheiro pra bancar um carro e seus pais jamais considerariam a ideia de presenteá-lo com um carro.
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Criado em 2009, o blog Livro de Humanas reunia mais de 2 mil títulos acadêmicos para download gratuito. O site foi retirado do ar no fim de maio, devido a uma ação judicial movida pela Associação Brasileira de Direitos Reprográficos (ABDR), entidade que representa dezenas de editoras do país. No texto abaixo, escritores e acadêmicos defendem o blog.
http://oglobo.globo.com/blogs/prosa/posts/2012/06/02/em-carta-aberta-intelectuais-apoiam-blog-livro-de-humanas-448445.aspEm defesa de uma biblioteca virtual
*Por Alexandre Nodari, Eduardo Sterzi, Eduardo Viveiros de Castro, Idelber Avelar, Pablo Ortellado, Ricardo Lísias e Veronica Stigger
A liberdade de expressão moderna é indissociável da invenção da imprensa, ou seja, da possibilidade de reproduzir mecanicamente discursos e imagens, fazendo-os circular e durar para além daquele que os concebeu. A própria formação da esfera pública, bem como do ambiente de debate científico e universitário, está umbilicalmente conectada à generalização do acesso aos bens culturais. Sem a disseminação da diversidade e do confronto de opiniões e de teorias, a liberdade de expressão perde seu sopro vital e se torna mero diálogo de surdos, quando não monólogo dos poderosos.
A internet eleva ao máximo o potencial democrático da circulação do pensamento. E coloca, no centro do debate contemporâneo, o conflito entre uma visão formal-patrimonialista e outra material-comunitária da liberdade de expressão. Tal cisão, bem real, pareceria manifestar-se no conflito entre direitos autorais e direito de acesso. Estes não são, porém, necessariamente antagônicos, pois o prestígio moral e econômico de um autor ou de uma obra está, em última análise, ligado à sua visibilidade. São incontáveis os exemplos de escritores e editoras que não só se tornaram mais conhecidos, como tiveram um incremento na venda de suas obras depois que estas apareceram para download. O público que baixa livros é o mesmo que os compra.
Assim, o verdadeiro conflito não é entre proprietários e piratas, mas entre monopolistas e difusionistas. A concepção monopolista-formal dos direitos autorais está embasada na ideia de que aquilo que confere valor à obra é a sua raridade, o seu difícil acesso; já a difusionista-democrática se ampara na inseparabilidade de publicidade e valor. A internet favorece a segunda concepção, uma vez que a existência física do objeto cultural que sustentava a primeira vai sendo substituída por sua transformação em entidade puramente informacional. Desse modo, também se produz uma transformação da natureza das bibliotecas. As novas bibliotecas virtuais se baseiam no armazenamento e na disseminação tais como as antigas bibliotecas materiais, mas oferecem uma mudança decisiva porque a estocagem depende da distribuição e não o contrário: é a difusão que garante o armazenamento descentralizado dos arquivos.
É uma biblioteca sem fins lucrativos e construída nesses moldes modernos e democráticos que se acha sob ameaça devido ao processo movido pela Associação Brasileira de Direitos Reprográficos (ABDR), sob o pretexto de infringir direitos autorais. O alto preço dos livros, o desaparelhamento das bibliotecas públicas e o encarecimento do xerox levaram um estudante universitário a disponibilizar online textos esgotados ou de difícil acesso para seus colegas. A iniciativa cresceu, atraiu a atenção de estudantes e professores de todo o país e se tornou a mais conhecida biblioteca virtual brasileira de textos acadêmicos, ganhando prestígio comparável ao site “Derrida en castellano”, que sofreu processo semelhante e foi absolvido nas cortes argentinas, como esperamos que o “livrosdehumanas.org” o será pela Justiça brasileira.
Os defensores da concepção patrimonialista dos direitos autorais costumam pintar cenários catastróficos em que a circulação irrestrita de obras gera esterilidade criativa. No entanto, ignoram, ou fingem ignorar, que os textos nascem sempre de outros textos e que o autor é, antes de tudo, um leitor. Hoje, lamentamos a destruição das grandes bibliotecas do passado, como a de Alexandria, e das riquezas que elas protegiam. Poupemo-nos de chorar um dia pela aniquilação das bibliotecas virtuais e pela cultura que elas podiam ter gerado.
*Alexandre Nodari é doutor em Teoria Literária pela UFSC e editor da Cultura e Barbárie; Eduardo Sterzi é escritor e professor de Teoria Literária na Unicamp; Eduardo Viveiros de Castro é antropólogo e professor do Museu Nacional/UFRJ; Idelber Avelar é crítico literário e professor da Tulane University (Nova Orleans, EUA); Pablo Ortellado é professor de Gestão de Políticas Públicas e de Estudos Culturais na USP, coordenador do Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas para o Acesso à Informação (Gpopai); Ricardo Lísias é escritor, autor de “O céu dos suicidas”, entre outros; Veronica Stigger é escritora, professora de História da Arte na FAAP, coordenadora do curso de Criação Literária da Academia Internacional de Cinema (AIC).