Autor Tópico: Em decisão inédita, STJ condena pai por abandono afetivo  (Lida 3373 vezes)

0 Membros e 1 Visitante estão vendo este tópico.

Offline Assumar

  • Quid inde?
    • Ver perfil
Em decisão inédita, STJ condena pai por abandono afetivo
« Online: Maio 02, 2012, 08:39:48 pm »
Citar
Em decisão inédita, STJ condena pai por abandono afetivo

Em decisão inédita no Superior Tribunal de Justiça (STJ), um pai foi condenado a pagar indenização de R$ 200 mil por abandono afetivo. De acordo com a assessoria de imprensa do STJ, a filha entrou com uma ação contra o pai após ter obtido reconhecimento judicial da paternidade e alegou ter sofrido abandono material e afetivo durante a infância e adolescência. A autora da ação argumentou que não recebeu os mesmos tratamentos que seus irmãos, filhos de outro casamento do pai.

A decisão da ministra Nancy Andrighi, da Terceira Turma do STJ, é do último dia 24 de abril, mas foi divulgada apenas nesta quarta-feira (2). “Amar é faculdade, cuidar é dever”, disse a magistrada ao garantir a indenização por dano moral. Em 2005, a Quarta Turma do STJ, que também analisa o tema, havia rejeitado a possibilidade de ocorrência de dano moral por abandono afetivo.

O caso em questão foi julgado improcedente na primeira instância judicial, tendo o juiz entendido que o distanciamento se deveu ao comportamento agressivo da mãe em relação ao pai. A autora recorreu, e o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) reformou a sentença, reconhecendo o abandono afetivo e afirmando que o pai era “abastado e próspero”. Na ocasião, o TJ-SP condenou o pai a pagar o valor de R$ 415 mil como indenização à filha.

Foi a vez de o pai recorrer da decisão, afirmando que a condenação violava diversos dispositivos do Código Civil e divergia de outras decisões do tribunal. Ele afirmava ainda não ter abandonado a filha. Ao julgar o caso, o STJ admitiu a condenação por abandono afetivo como um dano moral e estipulou indenização em R$ 200 mil –os ministros mantiveram o entendimento, mas consideraram o valor fixado pelo TJ-SP elevado.

Para a ministra Nancy Andrighi, “não existem restrições legais à aplicação das regras relativas à responsabilidade civil e o consequente dever de indenizar/compensar, no direito de família”. Ainda segundo ela, a interpretação técnica e sistemática do Código Civil e da Constituição Federal apontam que o tema dos danos morais é tratado de forma ampla e irrestrita, regulando inclusive “os intrincados meandros das relações familiares”.

Em sua decisão, a ministra ressaltou ainda que a filha superou as dificuldades sentimentais ocasionadas pelo tratamento como “filha de segunda classe”, sem que fossem oferecidas as mesmas condições de desenvolvimento dadas aos outros filhos, mas os sentimentos de mágoa e tristeza causados pela negligência paterna perduraram.

Em entrevista à Rádio CBN, a ministra afirmou que os pais têm o dever de "fornecer apoio para a formação psicológica dos filhos". Andrighi ressalta, ao longo da entrevista, que a decisão do STJ "analisa os sentimentos das pessoas” e disse que “novos caminhos e novos tipos de direitos subjetivos estão sendo cobrados". "Todo esse contexto resume-se apenas em uma palavra: a humanização da Justiça", finalizou. (Com Agência Estado)

Fonte: http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2012/05/02/em-decisao-inedita-stj-condena-pai-por-abandono-afetivo.htm
"Sonhos são o que temos." Jojen Reed

Arcade

  • Visitante
Re:Em decisão inédita, STJ condena pai por abandono afetivo
« Resposta #1 Online: Maio 02, 2012, 09:19:43 pm »
Gostei de alguns comentários:

Citar
A intromissão do Estado na vida privada e íntima das pessoas está chegando num nível insuportável. Multiplicam-se pelos tribunais, sentenças pretensamente 'humanas', cheias de boas intenções e enunciados politicamente corretos, mas que não passam de 'arbitrariedades legais', com capa de justiça. Pessoas do Judiciário parecem ter-se descobertas ungidas por Deus no saber sobre as entranhas da alma e da psicologia humana, talvez lastreada em algum livro 'porreta' de auto-ajuda, ou em algum cursinho de 30 horas de psicologia. Afinal, para quê o Direito (objetivo) se podemos ir direto à Justiça, pelos novos caminhos de análise do subjetivo? Aiatolás fazem isso, mas apoiam-se na religião. E nós?

Citar
Caso o aborto um dia seja liberado no Brasil, será necessário tornar a decisão bilateral. Se a mulher tiver o exclusivo direito de decidir pelo aborto, a continuação da gravidez também deverá ser decisão exclusiva dela.O acordo judicial livraria o homem da responsabilidade compulsória de sustentar a mãe e a criança, e anularia futuros direitos de herança. Ter direitos implica assumir responsabilidades. Dessa forma encerraria o golpe da barriga. Só peço para não jogarem a conta do aborto no SUS. Aborto não é controle de natalidade.

Citar
Amor e afeto no Brasil agora passa a ter valor venal !!!

Parece que tem mais gente percebendo que há algo flagrantemente errado (e podre) na lógica dos Deuses Juristas brasileiros...
« Última modificação: Maio 02, 2012, 09:24:10 pm por Nihil »

Re:Em decisão inédita, STJ condena pai por abandono afetivo
« Resposta #2 Online: Maio 02, 2012, 09:28:15 pm »
Só eu que fico abismado com o fato de um sentimento como o amor (ou ausência dele) ser legislado?
« Última modificação: Maio 02, 2012, 09:29:51 pm por Dr. Faustus »

Offline Madrüga

  • Coordenação
    • Ver perfil
Re:Em decisão inédita, STJ condena pai por abandono afetivo
« Resposta #3 Online: Maio 02, 2012, 09:33:20 pm »
Lá vem o miniluv.

Mas, no final das contas, o processo não ficou por conta do abandono material citado no primeiro parágrafo, bem como o dano moral decorrente?
"If there are ten thousand medieval peasants who create vampires by believing them real, there may be one -- probably a child -- who will imagine the stake necessary to kill it. But a stake is only stupid wood; the mind is the mallet which drives it home."
-- Stephen King, It (p. 916)


Offline Skar

  • Hail!!! O Tubarão
    • Ver perfil
Re:Em decisão inédita, STJ condena pai por abandono afetivo
« Resposta #4 Online: Maio 02, 2012, 09:42:26 pm »
Citar
Só eu que fico abismado com o fato de um sentimento como o amor (ou ausência dele) ser legislado?

Nope eu tbm achei a parte do "amor" a maior besteira.

Eu tive a mesma impressão do Madruga que a sentença levou em consideração o fator do pai ter ligado um fo%$ para criança.

-----------------------

Gente eu não concordo com o Arcade em tópico algum. Aborto legalizado deve ser seguido de exclusão da obrigação paterna de ajudar na criação do filho  :shock:
The essentials for a productive discussion:
•    Tact: Be friendly, helpful, and cooperative.
••    Candor: Be frank and sincere.
•••    Intelligence: Think before you speak.
••••    Goodwill: Reasonable people can disagree.
•••••   Reception: Listen to what others are saying, not to what you think they're saying.

Arcade

  • Visitante
Re:Em decisão inédita, STJ condena pai por abandono afetivo
« Resposta #5 Online: Maio 02, 2012, 09:46:37 pm »
Skar, a postagem do cara ficou mesmo muito simplista, maniqueísta, mas eu gostei de um ponto que ela resume: mais direitos implicam em mais responsabilidades. O que se vê o Brasil é justamente o contrário: todo mundo tem que ter direito a tudo (geralmente com a validação de algum Deus Jurídico ou Político) e ninguém deve ter o dever de nada.

No mais é bem difícil opinar sobre a notícia em si, já que não temos acesso ao processo e todos os seus detalhes sórdidos...

Re:Em decisão inédita, STJ condena pai por abandono afetivo
« Resposta #6 Online: Maio 02, 2012, 10:42:41 pm »
Meio em off, mas esclarecendo:

Citar
Gente eu não concordo com o Arcade em tópico algum. Aborto legalizado deve ser seguido de exclusão da obrigação paterna de ajudar na criação do filho 

Na verdade, é parte de uma ideia extremamente avant-garde chamada de "Aborto Masculino", que serve para reestabelecer o desequilíbrio criado pela legalização do aborto, mas onde apenas a mulher decide o que faz com o bebê.  Nessa situação, mulheres tem uma forma de evitar a maternidade caso seja indesejada (e em muitos casos, não precisam nem avisar o futuro pai quanto a isso), mas homens não podem fazer o mesmo com a paternidade. Para corrigir esse desequilíbrio, defende-se que exista a possibilidade de homens (e mulheres) abdicarem da paternidade (maternidade) legalmente.
« Última modificação: Maio 02, 2012, 10:45:48 pm por Dr. Faustus »

Arcade

  • Visitante
Re: Em decisão inédita, STJ condena pai por abandono afetivo
« Resposta #7 Online: Maio 02, 2012, 11:30:15 pm »
E o abortismo livre cai mais uma vez em contradição lógica quando confrontado com a complexidade da vida real (até porque no fundo não passa de mais um dos desdobramentos da crença na superioridade de um sexo sobre o outro, nesse caso, a misandria). Não tem a ver com o tópico, mas obrigado por mais essa fonte, Faustus.

# Enviado via GT-I9100 #
« Última modificação: Maio 02, 2012, 11:34:10 pm por Nihil »

Offline VA

  • Moderador
  • Be vigilant
    • Ver perfil
    • Adepto do Heroísmo
Re:Em decisão inédita, STJ condena pai por abandono afetivo
« Resposta #8 Online: Maio 02, 2012, 11:41:50 pm »
Artigo 4º do Estatuto da Criança e do Adolescente (destaques meus):
Citar
Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.

Não acho que a decisão tenha sido precipitada ou injusta. Os pais têm deveres expressos na constituição relativos aos filhos. Se ele não estava correspondendo aos deveres, estava errado.

Arcade

  • Visitante
Re:Em decisão inédita, STJ condena pai por abandono afetivo
« Resposta #9 Online: Maio 03, 2012, 10:56:14 am »
Sei lá, VA, ainda fico com a minha posição: não tenho muita informação para achar ou deixar de achar alguma coisa nesse caso concreto. Só temos a notícia, e convenhamos, imprensa não é lá uma fonte razoável para formarmos opiniões.

Re:Em decisão inédita, STJ condena pai por abandono afetivo
« Resposta #10 Online: Maio 03, 2012, 11:25:41 am »
Eu acho estranho que nem o número do REsp eles colocam para ver a decisão na íntegra.

Arcade

  • Visitante
Re:Em decisão inédita, STJ condena pai por abandono afetivo
« Resposta #11 Online: Maio 03, 2012, 11:38:11 am »
Até onde eu sei, seria segredo de justiça por se tratar de assunto de família, então não adiantaria muito pra quem não tem acesso aos sistemas corporativos do judiciário.

Offline Assumar

  • Quid inde?
    • Ver perfil
Re:Em decisão inédita, STJ condena pai por abandono afetivo
« Resposta #12 Online: Maio 03, 2012, 12:08:38 pm »
REsp 1159242
"Sonhos são o que temos." Jojen Reed

Offline VA

  • Moderador
  • Be vigilant
    • Ver perfil
    • Adepto do Heroísmo
Re:Em decisão inédita, STJ condena pai por abandono afetivo
« Resposta #13 Online: Maio 03, 2012, 12:51:19 pm »
Citar
Sei lá, VA, ainda fico com a minha posição: não tenho muita informação para achar ou deixar de achar alguma coisa nesse caso concreto. Só temos a notícia, e convenhamos, imprensa não é lá uma fonte razoável para formarmos opiniões.

Mas o argumento usado por todo mundo era de que a decisão judicial estava errada porque o Estado não poderia legislar sobre essas coisas. Só que pode, tá até aí, no ECA.

Offline ferdineidos

  • - Alugo esse espaço -
    • Ver perfil
Re:Em decisão inédita, STJ condena pai por abandono afetivo
« Resposta #14 Online: Maio 08, 2012, 09:55:15 am »
Artigo 4º do Estatuto da Criança e do Adolescente (destaques meus):
Citar
Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.

Não acho que a decisão tenha sido precipitada ou injusta. Os pais têm deveres expressos na constituição relativos aos filhos. Se ele não estava correspondendo aos deveres, estava errado.

VA, tem que colocar o resto do artigo:

(click to show/hide)

Então, esse artigo não fala sobre abandono afetivo, mas sim que crianças e adolescentes tem prioridade em atendimentos públicos, casos de investigação policial, etc. Engraçado que idosos também tem, então se tiver um garoto e um coroa pra ser atendido ambos teriam prioridade. Estranho, não?

Skar, a postagem do cara ficou mesmo muito simplista, maniqueísta, mas eu gostei de um ponto que ela resume: mais direitos implicam em mais responsabilidades. O que se vê o Brasil é justamente o contrário: todo mundo tem que ter direito a tudo (geralmente com a validação de algum Deus Jurídico ou Político) e ninguém deve ter o dever de nada.

No mais é bem difícil opinar sobre a notícia em si, já que não temos acesso ao processo e todos os seus detalhes sórdidos...

E isso realmente tem virado tendência. Considerar Direito como sendo instrumento de "Justiça" dá nisso, o problema é que ninguém nunca fala "Justiça" na visão de quem.

Com relação à notícia em si: é um verdadeiro absurdo, pai não é obrigado por lei a amar filho, isso não está escrito em lugar nenhum, os únicos deveres dos pais são: "Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educação dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, no interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as determinações judiciais."

A guarda tava com a mãe, logo, o único papel do cara era de sustentar, o que ele fez.


Dona Edit
Esqueci de comentar isso:
Até onde eu sei, seria segredo de justiça por se tratar de assunto de família, então não adiantaria muito pra quem não tem acesso aos sistemas corporativos do judiciário.

Isso que é pior, é ação civil, não de família, por isso não tem segredo de justiça.
« Última modificação: Maio 08, 2012, 10:06:34 am por ferdineidos »
"Entre todas as tiranias, a tirania exercida para o bem de suas vítimas é a mais opressiva.Talvez seja melhor viver sob o olhar de nobres usurpadores do que de intrometidos moralistas onipotentes."