E tudo que a civilização fez consigo mesma foi apenas para o melhor né? Veja que bela sociedade temos hoje, graças a isso!
Iuri, não entendi se você estava sendo irônico, mas não posso concordar.
Talvez você tenha uma visão muito idealizada de como as coisas funcionam, ou apenas gosta de um Apelo a Tradição, mas o fato é que só conseguimos chegar onde chegamos graças a revoluções (sejam políticas ou científicas) e mudanças de paradigmas. No momento em que pararmos de confrontar ideias e questionar hábitos, a civilização vai parar de evoluir. Mas sou otimista, acredito que isto está longe de acontecer.
Essa ideia de revolução e ruptura constantes, herança do ideal moderno, nos trouxe a um ponto em que perdemos qualquer referencial. Cultural, social e politicamente, estamos acelerando no vácuo, rompendo por romper, e é claro que os mecanismos sociais fazem o possível para legitimar essas inovações, por mais absurdas que sejam.
Acho excelente que hoje todos tenham direitos, não me entenda mal. Mas tenho a forte impressão de que estamos em uma espiral rumo ao nada, abdicando de tudo o que é ativo, vigoroso, vital, até mesmo cruel – pois a crueldade é um elemento fundamental no homem desde a origem da civilização – em nome do que é reativo, fraco, ressentido, indiferente. Qual o ponto final disso? Quando é que vão tomar as rédeas da história rumo a algo que não seja uma simulação de justiça, de política, de sociedade? Vivemos uma crise de imaginário.
Você consegue se orgulhar da nossa cultura contemporânea? Onde todas as correntes de pensamento coexistem em total indiferença? Tomando o exemplo da arte, o neo-concretismo, o neo-impressionismo, o neo-futurismo, o que você quiser pôr no meio – tudo isso convive num limbo do qual nada se extrai. Quando não existe um referencial de belo – ou de político, ou de social – só pode haver o mais belo que o belo, uma pensamento de Baudrillard. E então caímos nessa polarização a qual se referiu o Madruga: hoje há militante pra tudo. E todos têm razão.
Por que não lutar pelo direito de ser um animal?
Por que não?
Porque é um absurdo. Eles apenas são, não precisam do direito à existência sendo defendido pelos homens. Quem quiser conferir esse direito em um decreto de lei é, no mínimo, um megalomaníaco patológico.