Ferdineidos,
Tem duas coisas muito interessantes na sua fala, uma com a qual eu concordo e uma da qual eu discordo, mas o problema é que elas estão misturadas. Então, da parte que eu concordo:
o ponto é que pedir pra "banir" a PM do local na base da porrada é, no mínimo, imbecil.
Fazer invasão de reitoria e depredar o campus só faz é ver quem tem o pau maior. E nesse quesito, a administração tem um muito maior.
Isso é quase perfeito. Existe uma ultra-esquerda na USP que é doida, barulhenta, extremamenta antidemocrática e preguiçosa. Eles não têm vontade de construir argumentos, não têm vontade de construir movimento; é um erro estratégico terrível o priemiro passo da mobilização já ser o passo radical, principalmente quando a maioria dos alunos nem tem uma opinião formada ou não vê muitos problemas da PM no campus. Sem contar que é mesquinho: você quer a PM só fora do campus, mesmo? Mais nada? Quando ela tiver fora do campus, então tudo certo?
Agora a parte problemática:
Se estão ocorrendo TODOS esses desrespeitos por parte da PM, deve haver um confrontamento dentro dos limites da legalidade. Pô a gente tá tratando de uma faculdade do porte da USP, onde teoricamente tem pessoas mais esclarecidas.
Não tem como negar que o El Shaddai tem toda razão. Esse "movimento" estudantil é um bando de viuvete de 68. A forma de combater a administração tem sido a mais "revolucionária" possível. E isso não é um elogio.
Sério, chega a ser patético esse grito do "proletariado" exigindo o "povo" nas ruas pra acabar com a "opressão".
Logo de cara, é meio ingênuo achar que dá pra vencer um embate dentro da legalidade (especialmente se essa legalidade for encarada no seu modo mais tacanho), principalmente quando esse embate é contra as formas problemáticas da própria legalidade. E a PM no estado de São Paulo (e não só nele, vamos combinar) não tem medo de utilizar de métodos ilegais (uso de força excessiva, retirar a identificação do uniforme para que se possa bater sem medo de ser identificado, agressão a jornalistas, intimidação de testemmunhas, etc.), enquanto é protegida pelo aparato legal do estado. Mas isso é o de menos.
O que está realmente em jogo nessa parte da sua fala é uma contradição entre a superfície e o fundo de um impulso que parece democrático, mas é antidemocrático, e que pode ser traduzido da seguinte maneira: "Eu sou a favor de manifestações, desde que elas não afetem a ordem corrente". E isso fica bem patente no momento em que você escolhe em vez de debater comigo e com o que eu digo, debater com uma voz que não tem muito respaldo na realidade. Isso aqui:
chega a ser patético esse grito do "proletariado" exigindo o "povo" nas ruas pra acabar com a "opressão"? Puro espantalho.
De qualquer forma, muito mais democrático é o sistema de leis que permite que se aponte suas próprias falhas. Neste sentido, eu nunca vou questionar a legitimidade de uma pequena transgressão que aponto para o não cumprimento de uma lei, de um pequeno crime que aponta para uma lei criminosa, e, portanto, eu nunca questionarei a validade de manifestações que interrompem o trânsito, greves que param os dias de trabalho, invasões, ocupações como métodos legítimos de participação política.
E aproveitando que o Phil foi junto, e postou a babaquice:
É que os estudantes da USP são em massa, de colégios estaduais.
A FFLCH, que é onde o coro está comendo, é a unidade da USP com maior número de alunos vindos do ensino público. Mas mesmo se não fosse, e daí? É babaca porque diz que se eu vim de escola particular, eu não posso ter empatia por quem não teve essa opção e teve que encarar o sucateado ensino público. Se eu sou rico, não tem porque eu me preocupar com a situação dos mais pobres.
É uma boa deixa, entretanto, que desde a morte do Reader quero compartilhar esse texto do Paul Krugman:
http://krugman.blogs.nytimes.com/2011/11/04/i-do-not-think-that-word-means-what-you-think-it-means-hypocrisy-edition/E, sobre a galera aí que tá falando em vídeos e youtube, depoimento de uma conhecida minha:
"a Fernanda Garcia Alfonsi me contou que rolou policial batendo na cara de estudante dia desses na praça do relógio, procurando maconha. um menino começou a filmar, e o celular dele foi confiscado pelos policiais como "provas do delito". esse menino foi também coagido. também me contou que o centro estudantil da ECA foi revirado pela pm atrás de drogas, que entraram sem mandato, com a cara e a coragem. também disse que dali, uma semana depois, sumiram 4 mil reais, dinheiro destinado a promoção de eventos esportivos e acumulado nas cervejadas, coisa que nunca na história desse país aconteceu na ECA.
eu, na condição de alguém que já levou tiro de raspão da polícia militar (não, não era bala de borracha) e que fui coagida a não dar parte, imediatamente, por um policial que pegou o projétil dizendo NÃO ACONTECEU NADA AQUI, NÃO CONTECEU NADA AQUI, sei muito bem que o buraco é muito mais embaixo. além disso, esse foi apenas o estopim de um descontentamento anterior com a política promotivo pelo Rodas, que vem reprimindo movimentações estudantis e de funcionários sistematicamente, além de muitos outros crimes."