Poisé, esses dias em mesa percebi que sofro com falta de eloqüencia nas falas de meus personagens, tanto jogadores quanto NPCs. Não consigo criar frases de impacto, fazer o personagem ter bons discursos nem nada parecido, pelo contrário, alguns perderam muito do fator "fodice" que deviam ter (claro que NPCs/oponentes que apanham fácil dos players contribui pra isso), mas alguns desses NPCs tem sofrido bastante.

 Um exemplo da minha última campanha é um NPC ladino mestre do ladino do Aluriel. Basicamente o personagem era pra ser um Jack Sparrow misturado com Tony Stark, tipo sedutor, safo, sempre com uma resposta na lingua, mas acabou saindo alguém que fala pouco e não solta nenhuma frase de impacto, meio desarticulado, refletindo mais o jogador do que o personagem. Daí desanima. Nem preciso dizer o problema com personagens bardos, se eu quisesse jogar ou usar um em mesa, pois nem sei cantar ou rimar.

Eu gostaria de dicas pra melhorar isso. Imagino que alguns diriam pra ver mais filmes, e é uma dica válida, mas muitas vezes pra tipos específicos falta saber quais os filmes adequados pra pensar melhor num personagem. Eu pensei em escrever algumas frases por personagem pra usar antes das sessões, e daí adaptar conforme a situação. É basicamente isso.

Ok, eu confesso. Eu entrei aqui pensando que teria algumas dicas de como falar e se articular melhor em publico, porque eu sou meio timido. 

Rapaz, eu sou extremamente tímida, mas com o RPG melhorei um pouco.

Principalmente na hora da aventura, e de todo mundo falando e montando um raciocínio ao mesmo tempo; ou quando o mestre fala diretamente comigo eu travava.
O que me ajudou um pouco foram os livros e os filmes, principalmente quando se trata de D&D e afins.

Sou tímida assim e a primeira personagem que decidi fazer foi uma "barda" (pense na luta), a saber, a Ielena! kkkk me apeguei tanto à personagem que coloquei ela como Nick da Spell, e meu mestre ficou com pena de matá-la pelo crescimento no decorrer da aventura.
Na época eu assisti a trilogia de Senhor dos anéis de novo, assisti a série Game Of Thrones. E principalmente comecei a ler Game Of Thrones. O personagem que mais me inspirou foi o Tyrion Lanister, com aquele humor sarcástico dele; e é claro, o Mindinho (que é um menestrel nato).

Pessoal, mesmo que RPG seja um local onde podemos ter uma fuga de nossa própria vida para encarnarmos outra personalidade, ainda há um fator preponderante nas nossas interpretações: nem sempre conseguimos ser aquilo que não somos.

Se alguém é afiado nas falas, possui tiradas ou consegue sempre se expressar com bastante destaque, pode ter dificuldades em interpretar um PJ caladão e tímido. E o contrário também vale.

Não é questão de vergonha ou de não ser assim: muita gente é tímida porque não sabe ser comunicativa. E muita gente é comunicativa porque não sabe ser tímida. É sim questão de incapacidade ou de falta de habilidade em conseguir mudar a própria personalidade para se interpretar outro personagem.

Ou alguém consegue imaginar um Keanu Reeves carismático e em papéis diferentes do que ele sempre interpreta?

Alguns truques que eu sei sem pensar muito ou pesquisar.

Foque em um ponto. Mantenha sua concentração quando estiver falando em publico em um ponto especifico, pode ser qualquer coisa, uma camiseta mais colorida de alguém, um vaso de planta no fundo. Isso ajuda MUITO na hora da "timidez".

Tente criar um ambiente mais amigável vc mesmo, faça alguma piada consigo mesmo, ria de alguma coisa, faça as pessoas darem uma risada com vc tbm. Vai te ajudar a pegar o ritmo da sua platéia.

Obviamente leia MUITO!

Em mesa eu tinha um macete, bem simples ate. Longe do jogo, ainda quando eu pensava na aventura eu imaginava algumas situações de ante-mão, assim na hora do jogo era só aplicar essas situações. Tipo, vc preparou um combate contra alguns orcs em um salão cheio de estátuas? Imagine com calma enquanto estiver no ônibus indo trabalhar o que o Ladino Jack Sparrow faria ali naquela luta? Talvez ele fugisse para se esconder em uma das estatuas, mas na verdade estava procurando uma estatua solta para derrubar em cima de um orc desavisado, quem sabe? Fica mais fácil ter "cartas de efeito" na manga assim!

Citação de: Cebolituz em Março 05, 2013, 05:51:28 pm

[...] nem sempre conseguimos ser aquilo que não somos.

Mas não conseguir é uma coisa, não tentar é outra (tema de Rocky Balboa toca ao fundo). Principalmente quando se é o Mestre/DM/Narrador-ou-seja-lá-o-nome-que-vc-queira-dar-pra-essa-função, onde representar o "mundo" cabe a este papel. E mesmo no caso de jogadores, acho válido, afinal se o cara quer jogar com algo assim, por que não? Vide o exemplo da Ielena acima.

A questão do tentar é diferente da opção "ficou bom e eu gostei". E é isso que o Youkai postou, que tentou fazer uma personalidade e não conseguiu.

Não que seja impedido de tentar. Porém, ficar bom, aceitável, agradável e etc, já são outros quinhentos. E se o cara tenta emular uma personalidade que o torne chato para o restante, então pior ainda.

Habilidades de comportamento são bem difíceis de aprender, mas não impossíveis. O treino é a chave.

Uma coisa que você pode fazer pra facilitar as coisas é não ficar esperando as oportunidades aparecerem, mas criá-las. Comece um diálogo de uma forma diferente do usual, induza o outro a perguntar alguma coisa ou fazer algum comentário que pode ser usado numa dessas frases de impacto. No caso do ladino, ladinos tem habilidades com as mãos, ele pode fazer coisas sem que ninguém perceba, colocar objetos em bolsos, em lugares inusitados, e usar isso como o fator surpresa. Use o seu conhecimento de acontecimentos anteriores a seu favor, como algum evento que aconteceu com algum personagem no passado e que pode ser usado em alguma fala ou resposta marcante.

Criar as próprias oportunidades é a melhor forma de começar a se adaptar com esse tipo de comportamento. Um bom exemplo disso é isso aqui:

Aulas de teatro ou oratória são uma proposição absurda.

O que você quer emular? Você curte os momentos "rule of cool" de certos desenhos, filmes ou HQs? Beba direto na fonte. Leia, assista e anote. Ensaie, se for o caso. Não adianta recomendarem "ler muito". Se seu personagem não é um pároco que vai evangelizar indígenas e abolir a escravatura, não adianta ler os sermões do Padre Antônio Vieira.

Por outro lado, ter um personagem que depende de bordões chega a ser meio ridículo. Você tem que tentar "programar" a atitude correta que o personagem teria: pense (e escreva!) na postura que ele tem, alguns trejeitos e se foque neles.

No caso do seu personagem mezzo Tony Stark mezzo Jack Sparrow, que trejeitos dele dão a entender que ele é safadão e pilantrão? Ele não olha o interlocutor no olho, ele toca demais o interlocutor (mão no ombro, dedo em riste, pega o queixo, mão na perna da mulherada), ele faz truques com cartas e flores para impressionar as mulheres, o quê? Depois de definidos esses trejeitos, faça um esforço para interpretá-los e acredito que as palavras virão mais naturalmente.

Eu creio que boa parte da impressão do personagem se dá por uma boa descrição e por AÇÕES. Depois que a imagem que você descreveu fica fixada na mente dos jogadores, acredito ser mais fácil agir de acordo.