Desculpem a demora em continuar, mas fiquei preso em uma análise para um artigo, sem contar que o capitulo em questão é bem longo e, como é basicamente uma aula de roteiro, foi meio difícil para mim resenhar ele. Mas vamos lá...
Capitulo 1
Sim, esse é o capitulo 1, o outro era "apenas" a introdução.
Esse capítulo foi meio difícil de resenhar, principalmente porque aprendi muito com ele e também por se tratar de um capítulo quase inteiramente de dicas e métodos de “como escrever uma crônica”. Se alguém me perguntasse o que deveria ler para mestrar RPG de modo decente eu colocaria esse capítulo em questão e o primeiro capítulo do Dungeon Master Guide da 4ª edição como obrigatórios. Embora as dicas e exemplos usados sejam voltados para uma crônica envolvendo o God-machine elas são facilmente exportadas para qualquer outro sistema e provavelmente servem até pra contos e romances.
O capitulo inicia com o conceito de tiers, eu conhecia eles do livro Apocalipse para Lobisomem, onde as crônicas sobre o Apocalipse podiam ser locais, regionais, globais ou universais, mas segundo o livro elas foram introduzidas no nWoD em Hunter: The Vigil (que eu não li). Basicamente os tiers são a primeira coisa que você define quando decide iniciar uma crônica e eles te dão uma margem de até onde os eventos da sua história devem ir. Os tiers são local, regional, global e cósmico. Me lembraram os tiers heróico, exemplar e épico de D&D 4e, tanto pela limitação de poder, que não existe de modo mecânico, mas conceitual e seguindo uma gradação do local sendo o mais restrito e o cósmico o mais sem fronteiras. Cada tier é discutido em separado e conta com um exemplo de plot.
Uma crônica local tem um escopo restrito, uma escola, caverna ou fábrica, mas muito aprofundado nos personagens e seus problemas não se estendem além desses locais. Segundo o próprio livro são ideais para inicio de campanha ou one-shots.
Já em uma crônica regional as consequências aumentam para o nível de uma cidade, país ou mesmo continente; tipo de problema que pode facilmente decorrer do regional e ser uma ponte para o global. Os autores colocam como o tier mais fácil de sair do controle. Sou obrigado a concordar, é fácil para um personagem ter acesso a informações ou poder além do que deveria ou mesmo resolver zoar o barraco só pra ver o circo pegar fogo. Diferente dos tiers global e cósmico onde a escala de poder já é elevada do inicio.
As entranhas do God-machine dentro de cidades fantasmas do interior dos EUA é um exemplo de plot regional apresentado no texto. O interessante dele é que se trata de um exemplo onde os personagens realmente descobrem que dentro dessas cidades estão as entranhas do God-machine, e embora o livro diga que não existe uma verdade oficial sobre o deus, ele bate com frequência na metáfora dos quatro cegos e o elefante, com inumeros exemplos que encorajam o narrador a dar alguma verdade aos jogadores, mas nunca toda a verdade ou permitir que os jogadores deduzam a verdade, mas nunca dizer se ela está certa ou errada. Afinal se isso realmente são as entranhas do deus, o que diabos elas processam? O que aconteceria se nos as atacássemos e destruíssemos? Essas perguntas devem revelar mais perguntas e nunca chegar a verdade definitiva.
O tier Global, como o nome sugere, é uma crônica que envolve o mundo todo. A pergunta deve ser: a humanidade vai sobreviver a isso? No entanto, o God-machine aprecia a sutileza e portanto nem sem o evento precisa ser esplhafatoso. O 11 de setembro mudou o mundo e foram dois prédios acertados por dois aviões. Mas o evento também pode ser algo no nível do final de Watchman. Narradores são encorajados a voltar aos tiers regional e local para mostrar como as consequências estão agindo nesses cenários mais pessoais. Importante frisar isso, em histórias nesse nível, jogadores tendem a verem a situação como um tudo ou nada e os fins justificam os meios, abrindo mão da vida de NPCs que em histórias mais locais não o fariam.
Por fim, o tier Cósmico é indicado como para o fim de crônicas, já que segundo os autores é um dos tiers mais difíceis de ser usado e uma crônica inteira nesse nível causa a perda do senso da realidade. O narrado deve se preocupar com o nível de poder dos jogadores e dos desafios em crônicas assim, demais do primeiro e pouco do segundo, vira Marvel, pouco do primeiro e muito do segundo e eles não tem chance. Os exemplo dados: 2001, obelisco como agente do God-machine. Outras fontes citadas são Stargate e Fringe;
Segue então uma explicação de como determinar a faixa etária para qual a sua crônica é direcionada. Sim, eles usam a classificação G-rated, PG-rated, R-rated, X-rate e é a primeira vez que vejo isso em um livro de RPG direcionado para a aventura em si. Não, sei, fiquei com a sensação de exagero, parece que estou lendo um manual de como escrever roteiros ou livros de ficção. Não sei vocês, mas minhas aventuras todas caem em R-rated com um pé (e as vezes uma perna inteira em X-rated), mesmo aquelas que não deveriam. Ao mesmo tempo, penso que usar termos como esse para definir bom senso são meio que um desperdício de espaço no livro. Falo em bom senso porque, como os próprios autores admitem, nenhuma crônica vai se encaixar perfeitamente em um ou outro desses rótulos.
Por fim, os autores avisam que as crônicas devem acabar com a sensação de vitória significativa, porém lembrando que as engrenagens continuam a rodar. Seguem então mais algumas dicas, usando os contos do capitulo dois como exemplos, de como pode acontecer o primeiro contato dos personagens com o God-machine e progressão entre os tiers.
O capitulo não acabou, em seguida tem a criação de personagens (nada de regras, apenas diretrizes e dicas de como guiar a construção dos personagens para eles se adequarem a sua crônica), da network desses personagens e das localidades. Assim que terminar de ler posto o restante.
Uma coisa que me surpreendeu foi a total ausência de regras de qualquer tipo, todas elas ficam restritas ao apêndice, que é a atualização de regras do nWoD. O que só torna o livro um suplemento quase universal que pode ser usado em qualquer sistema. Tá, posso estar exagerando, mas as dicas de construção de crônicas e o plot do God-machine não serem dependentes de um sistema para funcionar torna bem menos intimidante e trabalhoso adaptá-las a outro sistema. Você pode usar o God-machine no nWoD, no cWoD ou até em GURPS Iluminati.