Eu acho que vocês viajam demais. O guerreiro de D&D não é Perseus nem Ulisses. O guerreiro de D&D mata monstros pra saquear calabouços. Querer comparar ele com Perseus e Jasão é viajar na batatinha. Quer jogar com esses caras, vai jogar outro jogo: Gurps Grécia Antiga, Runequest, sei lá.
A lógica faria sentido se essa limitação (mata monstros para saquear calabouços em histórias de feitos mundanos) fosse para todas as classes. Se todas as classes tem habilidades focadas nisso e no mesmo parâmetro, sem problemas. O problema é que enquanto o guerreiro passa os 20 níveis fazendo a mesma coisa (batendo sua arma nos oponentes), em algum ponto o clérigo do grupo está tratando criaturas divinas invocadas como se fossem estagiários, o druida se transforma num tiranossauro e o mago está criando seus próprios planos de existência.
Eles entram em patamares diferentes. Não faz sentido o mago do grupo poder ser o Merlin, se os combatentes do grupo não podem ser o Hércules ou Aquiles.
É como querer criar um samurai de rua em Shadowrun que é igual ao Neo de Matrix ou sei lá o quê. Mermão, samurai de rua dá tiro na cara dos outros por dinheiro - o Neo por acaso faz isso? Não! Então não viaja, porra!
O exemplo não procede porque em Shadowrun a magia É equilibrada. As magias de invocação de espírito são quebradas se o personagem for construído para apelar, mas tirando isso a maioria das magias são equilibradas com o resto das opções de personagem. Simplesmente porque lá, ainda se mantém uma série de fatores importantes: magia não é infalível, automática, precisa, rápida e sem custos. Eu já mestrei Shadowrun e não era incomum ver o usuário de magia do grupo preferindo usar uma pistola durante o combate, porque era mais seguro.
Um dos grandes problemas do D&D é que a magia foi se tornando cada vez mais confiável e prática com o passar do tempo. Como eu já comentei antes, ela chega a ser mais útil e épica que a magia de Exalted, que deveria ser sobre feitos épicos.
Comparativamente, magia em Exalted é sobre grandes feitos e coisas impressionantes, capazes de destruir exércitos ou invocar demônios poderosos para te servirem (já vi as duas coisas serem feitas em mesas). Mas ela não é prática para usar num combate, porque é demorada, difícil e custosa.
Se a magia de D&D não fosse tão perfeita assim, já ajudaria bastante a equilibrar as coisas.
Dois centavos, na verdade o sistema permite fazer o Neo, só que ele seria um daqueles usuários de magia que focam seus poderes no próprio corpo. É uma cópia bem descarada, aliás, quando você lê as regras para essa opção.
E ele É equilibrado com os samurais urbanos.