Acho que o que vc quis dizer é "Como algo pode NÃO ser prescritivo e responder questões morais ao mesmo tempo?", certo? Do contrário sua primeira frase estaria entrando em contradição com a segunda.
Isso, perdão.
"Existem instituições seculares prescritivas: o Estado moderno. O que não existe são instituições seculares prescritivas de associação voluntária." - Nicolas Santos
Sr. Elfo?
Pois bem, por que precisamos de mais? É sério, pra quê precisamos de um papai-moral para nos dizer o que devemos fazer diante de cada dilema? Não basta a descrição das causas, das consequências, uma agência prescritiva e que pune as ações indesejadas, para que vc possa tomar sua decisão, baseado nas consequências que deseja para si?
O que estou dizendo é que ninguém resolve, portanto, questões morais como vcs parecem acreditar que alguém resolva e exigem o mesmo da ciência. Só fazem prescrições baseados nas consequências que eles julgam mais desejáveis. A ciência faz uma descrição disso bem melhor, além de fazer uma descrição das causas (que também auxilia muito, como exemplifiquei nos posts anteriores), só não explicita o que vc deve fazer.
Eu não entendi por que você saiu do debate epistemológico e entrou no debate político. Eu nunca disse que "um grupo de pessoas que pratica ciência" deveria nos dizer o que é certo ou errado, aliás, eu não acho isso. Quando eu falei de ciência, falei sobre o conjunto de conhecimentos, não sobre os cientistas.
Ela apenas descreve a ação e a consequência, de maneira explícita ou implícita: você deve fazer X porque é a vontade de deus (ou seja, se não fizer, terá problemas com ele)
Sendo analiticamente chato, você está pulando uma parte importante aqui. Não é apenas "Você deve fazer X porque é a vontade de deus.", é "Você deve fazer X porque é a vontade de deus. A vontade de deus é boa. (valoração)". Uma pessoa não pode seguir a religião e dizer "ah, tudo bem, eu topo peitar deus, não me importo de ter problemas depois", pois no conjunto de valores da religião, "A vontade de deus é algo bom", portanto "A vontade de deus deve ser seguida".
Não acho que conhecimento seja uma posse, mas uma probabilidade de o indivíduo agir sobre o mundo de modos produtivos. Ou seja, tô com Peirce e Ernst Mach nessa.
Não conheço os autores, mas....Hein? Conhecimento é ação? Esse conceito é estranho, pois, para conhecer, precisa-se de uma outra finalidade, um outro objetivo?
A distinção, portanto, entre a realidade em si e o que apreendemos dela é inútil, porque, falando em termos práticos, tudo que a ciência tem como suporte são aparências – isto é, observações ou experiências a partir de nossos orgãos do sentido.
Dizendo que discorda de mim, você chegou a uma conclusão idêntica.
Porque a maioria das justificativas morais envolvem regras, como "não mataria alguém" ou "só mataria se fosse para salvar outras mais". Nesse caso, colocamos um sujeito diante de um dilema cujas consequências são as mesmas e queremos compreender o que motiva sua escolha.
Não, ele também procura descrever o porquê.
E a pergunta continua. Você pode aprender tudo sobre as causas para as pessoas acharem determinada opção melhor do que outra. Isso pode te dar argumentos e informações para te ajudar a fazer a melhor escolha. Porém, se você não tiver qualquer valor prévio, esse conhecimento não te dará nenhum. Lei de Hume: é logicamente impossível derivar um "dever ser" de um "ser". Eu não estou negando a importância desse tipo de pesquisa, pelo contrário, eu considero interessantíssimo. Estou apenas questionando a possibilidade da ciência dar respostas morais (e por respostas morais, estamos falando de valores) por si mesma. (Ou seja, se fazem sentido frases do estilo "A ciência já descobriu que X é bom")
Não sei se estou conseguindo ser claro, então me perdoe se os próximos parágrafos forem repetitivos, mas lá vai: Chegou a ver o meu exemplo da medicina? Vou dar outro, que surgiu em um debate na faculdade. Imagine um super computador (uma enorme inteligência, que seja) com enorme conhecimento científico, descritivo. Imagine que nenhum tipo de juízo valor foi programado nesse computador. Ou seja, ele não considera nada como "bom" ou "ruim". Ele não considera a morte ruim nem a vida boa, assim como não considera a morte boa e a vida ruim. Ele simplesmente não tem qualquer juízo do tipo. Esse computador poderia nos dizer "É bom proibir o aborto" ou "É ruim proibir o aborto"? Não, tudo que ele poderia nos dizer é "Proibir o aborto gera as conseqüências X, Y e Z, enquanto permitir gera as conseqüências A, B e C.". Se nós, pessoas, acharmos X, Y e Z bom, proibiremos. Se, por outro lado, acharmos A, B e C melhores, permitiremos. Só que mesmo os valores mais básicos não podem ser dados pelo computador ou pela ciência "pura".
Ou então pense no exemplo do "e daí?".
Informação: A gera apenas B.
Pessoa: E daí?
Informação: B gera apenas C.
Pessoa: E daí?
Informação: Tudo que C causa é a morte de criancinhas.
Pessoa: E daí?
E aí temos um impasse. Se a pessoa não achar morte de criancinhas algo ruim, ela não achará A, B ou C ruins. O valor "morte de criancinhas é algo ruim" não é algo que a ciência pode dar. Nós podemos achar porque "sentimos" que é ruim, porque a religião diz que é ruim, porque temos uma idéia filosófica do que é o bem e nessa idéia esse é um exemplo de algo ruim... Mas não porque a ciência disse. No fim, o valor deriva de outras coisas, mas não da ciência pura. Obviamente esses valores podem se associar à ciência. Se você "sente" que a morte de criancinhas é ruim, as informações acima são úteis, pois você dirá também que C é ruim, daí que B é ruim e aí que A é ruim (valores que você não teria gerado se não tivesse as informações descritivas). Mas o valor original não "nasceu" da informação. Da mesma maneira, da ciência não pode "nascer" qualquer valor.