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Posts - Venshad

Páginas: [1]
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Campanhas Online / [PbF] GURPS SUPERS 4.0 cenário
« Online: Outubro 18, 2014, 01:00:32 pm »
Informo que iremos começar uma mesa de PbF de SUPERS, no sistema GURPS 4.0.

O cenário será baseado no filme Flashpoint Paradox, da DC.

Já temos duas pessoas confirmadas. Se você tiver interesse, basta se prontificar aqui.

Começaremos assim que o grupo tiver 3 jogadores. A mesa terá um máximo de 5 jogadores.

Bruno

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Contos / As Montanhas Azuis
« Online: Julho 22, 2013, 05:16:11 pm »
Gostaria de oferecer à apreciação de todos o meu mais novo conto: As Montanhas Azuis.

O conto, e outros de minha autoria, pode ser acessado em http://horrorfantastico.blogspot.com

Gostaria de receber os comentários dos colegas de fórum.

3
[RPG] Deus lo Vult - GURPS 4e / Re:Agenda
« Online: Maio 23, 2012, 11:20:21 pm »
Lut, mandei uma MP para você, mas não sei se você viu. Dê uma olhada e me responda.

Abraço

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Diários de Campanha / Re:Crônicas de Midgard - A Maldição das Runas Antigas
« Online: Novembro 18, 2011, 03:46:24 pm »
Segue a ficha de Ragnar, filho de Hakon, portador da lâmina Gwyrfindël.

(click to show/hide)

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Contos / Re:Onde caminham os deuses.
« Online: Novembro 06, 2011, 09:21:08 pm »
Gostou dos outros?

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Contos / Re:Onde caminham os deuses.
« Online: Novembro 06, 2011, 10:42:16 am »
Muito obrigado!

Confira outros já feitos no site da assinatura!

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Contos / Onde caminham os deuses.
« Online: Novembro 06, 2011, 10:15:00 am »
Onde caminham os deuses
Texto baseado em  1 Samuel 25, 2-3
I

Situado fronteiro ao território de Tiro e Sidon, o Monte Carmelo levanta-se imponente, delimitando a medida do orgulho do Grande Mar. As vagas do Mediterrâneo chocam-se violentamente contra as estruturas monolíticas da base do monte, que resolutamente insistem em invadir os domínios do oceano.

À base do monte, propriedades esparsas e distantes uma das outras se fazem notar pelo brilho lúgubre que emitem após o ocaso da luz. Vistas do cume plano da montanha, percebe-se claramente a distribuição das posses ao redor da mesma, como que a indicar algum tipo de reverência sacramental.

De fato, mesmo antes da tomada da terra, o monte já era reputado sagrado pelos ancestrais dos que hoje jazem à base do Carmelo, em túmulos profanados por séculos de dominação.

Como que resultado de eras de conflito entre mar e rochedo, a paisagem monótona de praias sem fim é subitamente interrompida por penhascos que invadem a água, como que reclamando de volta algo há muito perdido.

Em um desses pontos há uma pequena baía, cuja reentrância em forma de foice oferece uma trégua ao embate milenar entre os elementos, possibilitando que águas calmas toquem gentilmente a enseada ali formada.

Neste local, habitado muito antes de qualquer memória escrita, existe uma comunidade composta por todo tipo de seres decadentes e agoureiros, cuja influência pagã faz-se notar tanto no vestir, quanto no falar, mas principalmente nos sacrifícios oferecidos diante do mar.

Devido à influência fenícia, até mesmos crianças eram oferecidas aos deuses do céu, do mar, e do Carmelo. Contudo, após a colonização hebréia dos últimos séculos, tal costume cedeu lugar a uma forma cultual onde somente animais são oferecidos nos altares de pedra. Estes, feitos de forma anormalmente detalhada em relação ao povo que ali habitara e à época de sua criação, demonstram o emprego de ferramentas e métodos até então desconhecidos naquela região.

O primeiro altar encontra-se localizado de frente para o Grande Mar, na porção de terra da pequena baía em forma de foice, assentado sobre um piso uniforme de pedras lavradas que, ao serem observadas com mais vagar, representam um círculo em perturbadora perfeição.

O segundo altar está no cume do Carmelo, também voltado em direção ao oceano. Contudo, diferentemente do primeiro, este possui uma grande mesa sacrificial composta por um único bloco rochoso, finamente trabalhado, contando com mais de três metros de comprimento, dois de largura e um de espessura.

Tal gigantesca mesa é suportada por outro bloco menor, mas igualmente massivo. O piso também apresenta diferença para com o primeiro altar, constituindo-se claramente em forma triangular perfeita.

Há uma última diferença entre ambos os altares que, no entanto, não pode ser percebida apenas pela simples observação. O segundo altar raramente é visitado pelos que habitam ao redor do monte, uma vez que, segundo reza o credo, nele caminham os deuses.

II

Existe uma estrada simples e rudimentar que cruza parte da costa, ligando as cidades do reino aos demais povos circunvizinhos, especificamente Tiro e Sidom.

Esta estrada, em algum ponto, gera uma bifurcação que quando trafegada, leva tão somente a uma grande casa. Talvez pela posição em que ocupa entre as colinas, ou devido a um efeito da luminosidade desconhecido ao homem, possui aspecto sombrio e desolador.

A maioria daqueles que pegam este caminho logo percebem que saíram de sua rota, sem darem conta que passaram pela propriedade de Nabal, homem próspero e rico tal qual nenhum outro.

Desde a época da colonização, a região é tida por herança dos filhos de Caleb, quando este pessoalmente escolheu a parte que lhe caberia na repartição da terra prometida a seus pais. Assim sendo, grande parte do contingente hebreu daquela área pode, em algum momento, traçar sua genealogia até Caleb, e, portanto, reivindicar o solo da herança.

Este Nabal, descendente de Caleb, é possuidor de muitos bens e gado, tendo a seu dispor dezenas de servos, animais e talentos de prata e ouro. Contudo, a fonte de tal riqueza não deve ser reputada à uma herança abastada, ou ao excepcional tino comercial, mas sim a uma origem mais insidiosa.

Diferenciando-se dos demais tipos de sua região, Nabal teve por servo o sábio Josef, sendo instruído por este nos costumes e nas letras de seu povo. Por muitos anos o sábio ensinou o jovem Nabal, inclusive a cerca dos conhecimentos mais obscuros das artes divinatórias, até que veio a falecer, sob circunstâncias misteriosas, após o aparecimento do livro.

Certa noite, após severa tormenta ter assolado a região, um pequeno grupo de aldeões foi à casa de Nabal, portando uma peculiar caixa de madeira, apodrecida por anos de contato com a água.

Argumentando que esta possuía o selo de sua casa, a deixaram sem demora, apenas revelando, quando inquiridos, que a caixa aparecera após a tormenta, jogada na areia da praia, como se vinda arrastada pelo mar.

Ao abrir a caixa, Nabal percebeu que o conteúdo em seu interior estava envolto em anormalmente grossa camada de cera, totalmente selado, o que pode ter garantido sua conservação.

Josef estava junto quando a cera foi removida e seu conteúdo revelado, pausando por um tempo até que seu rosto mudou da curiosidade ao espanto, quando um grande livro foi revelado.

Meu senhor, disse ele, reconheço este tomo e peço que meu senhor se livre dele o quanto antes! A tragédia acompanha estas páginas! Jogue-o ao fogo, antes que pior mal se faça a esta casa!

Sua capa era feita de couro, mas, talvez devido ao tempo, estava enegrecida como piche, suas páginas, feitas de papiro finamente trabalhado, continham escritos em diversos idiomas, além de desenhos e ilustrações variadas, ora retratando figuras de homens e animais, ora figuras híbridas, cujas formas somente poderiam ter sido concebidas por alguma mente doentia.

Nabal permaneceu observando as várias páginas enquanto escutava, despreocupadamente, o velho Josef predizer maldições e calamidades, até que o ouviu referir-se a seu pai e as circunstâncias de seu desaparecimento.

Que tem meu pai?, perguntou Nabal enquanto fechava o estranho tomo.

Seu pai, meu senhor, desapareceu há muito, quando o senhor ainda era infante. Ele o deixara sob meus cuidados, enquanto viajara até a terra de Cam, mais precisamente à cidade de Mênphis. Ele dizia ter encontrado evidências da existência de um certo código arcano. Contudo, passados meses de jornada, a embarcação fenícia em que estava naufragou nestas águas, após uma noite tempestuosa como esta. Somente dois sobreviveram a este desastre. Por isso lhe peço, meu senhor, livre-se desta maldição! Seu conteúdo são apenas sombras.

Não, disse Nabal para tristeza de Josef, se meu pai perdeu sua vida em busca disto, ele agora é minha herança.

O velho Josef era o único servo na casa de Nabal, que estava em grave declínio após anos de penúria e privações.

Sentindo-se na obrigação de guardar seu senhor, Josef esperou que ele adormecesse, cuidadosamente recolheu o tomo e, pondo sua capa, saiu noite afora, para nunca mais ser visto com vida.

Pela manhã, Nabal foi acordado por um incessante bater em sua porta. Eram aldeões. Contudo, estavam visivelmente aterrorizados, portando em suas mãos trêmulas o tomo negro, agora levemente manchado por substância avermelhada.

Nós ouvimos os gritos antes do amanhecer!, bradava um dos aldeões, a gente achou que ele tinha ficado maluco, mas quando ele começou a gritar com mais força a gente ficou com medo. Somente a velha Lia saiu para ver o que estava acontecendo, e agora ela está de cama, delirando! Ficou louca também!

Onde está Josef?, perguntou Nabal, logo após percebendo a futilidade de sua pergunta. Os aldeões se entreolharam de modo suspeito. Estava claro que ele havia tentado destruir o tomo. Contudo, algo o destruíra primeiro.

Onde está o corpo dele?, insistiu Nabal.

A resposta demorou a vir, enquanto alguns dos aldeões se retorciam e tampavam seus rostos devido ao horror pelo que passaram.

O corpo, respondeu um deles, não existe mais. Está todo espalhado pela aldeia! Tem gente tentando recolher os pedaços antes que os abutres cheguem!

As crianças da Sara, retorquiu outro, ficaram doidas quando encontraram a cabeça do pobre homem na frente da casa! Deuses, aqueles olhos!

III

Foram necessárias algumas horas de trabalho para recuperarem todos os restos mortais de Josef. Após algum tempo, os abutres chegaram e revelaram os que faltavam aos aldeões, que aterrorizados, providenciaram um esquife e prontamente sepultaram aquele homem.

Aquele dia passou lento e sufocante para os que habitavam à base do Carmelo, terminando em uma tarde serena. Contudo, o espírito dos aldeões estava sobremodo inquieto. A velha Lia ainda delirava a respeito do que matara Josef, enquanto em estado febril. Aqueles que a ouviam não sabiam se deveriam considerar o que ouviam, ou apenas reputá-la como lunática. O fato, no entanto, não poderia ser negado. Josef não apenas fora morto, mas impiedosamente esquartejado por algo que ainda estava do lado de fora das casas.

Eu vi! Eu vi!, berrava a velha Lia enquanto outras mulheres a tentavam acalmar. Vocês não entendem! Eu acordei com o brilho da tocha dele. Achei estranho alguém sair aquela hora... quando eu decidi ver quem er... oh deuses! Aquilo era enorme! Saiu do mar na frente do altar e segurou Josef com apenas uma mão... nós vamos morrer!

Alguns dos anciões da vila, que estavam ouvindo as palavras de Lia, decidiram sair e se reunir em um local melhor, onde poderiam discutir o que aconteceu.

A despeito do que acontecera a Josef, os anciãos decidiram por permanecerem em suas casas, uma vez que em nenhuma outra ocasião tal fato ocorrera. Assim sendo, consideraram tão somente que todos se recolhessem às suas casas após o ocaso.

A mente de Nabal, contudo, permanecia ligada ao significado daquele livro e a que tipo de poder conteria em suas páginas.

IV

A noite avançava pela madrugada e Nabal, agora sozinho, sentava-se junto à lareira crepitante. Ele ainda não se atrevera a olhar novamente o velho tomo, lembrando das últimas palavras que ouvira de Josef, acerca de maldições e sombras nele contidas, mas olhava-o fixamente sobre uma velha mesa de madeira.

Reunindo coragem, levantou-se e segurando o livro sentiu-o pesado, como se o peso dos conhecimentos milenares ali contidos fosse real.

Ao abri-lo, notou uma folha desgarrada que, pela sua aparência e caligrafia, deduziu ser algo não pertencente ao conjunto daquela obra.

Detendo-se com mais calma, Nabal percebeu que se tratavam de anotações em seu próprio alfabeto, diferentemente do restante do livro, e que ao fim das mesmas estava o selo de sua casa. Aquilo fora escrito por seu pai.

Analisando-o com mais vagar, Nabal percebeu que aquele enxerto seria crucial para o correto entendimento daquele tomo, uma vez que nele estava contido uma espécie de fórmula arcana capaz de elucidar seu conteúdo.

Na verdade tratava-se de uma espécie de preparado místico, composto por ervas aromáticas especiais, água do mar e gotas de seu próprio sangue, que quando devidamente manufaturado, abriria a percepção do usuário ao mundo como ele realmente é.

Alguns dias se passaram até que Nabal conseguiu reunir todos os ingredientes necessários à feitura do preparado arcano. Alguns destes, por sorte, estavam sendo transportados por uma caravana de mercadores que passava nas proximidades do Carmelo na ocasião.

Quando a noite chegou, Nabal separou todos os ingredientes em sua grande mesa, dispondo-os de forma que ficassem sempre à mão. Um pequeno caldeirão no centro da mesa retangular, mas próximo a um dos lados onde Nabal estava, com o tomo à direita e, partindo deste, vários ingredientes distribuídos em forma de semicírculo, que contornando o caldeirão, davam ar de simetria à mesa.

Um por um os elementos foram inseridos na ordem que o fragmento ditava. Por fim, Nabal perfurou um de seus dedos e fez gotejar algumas gotas de seu próprio sangue naquela mistura. Finalmente estava pronta.

Nabal então tomou o caldeirão e, pondo-o sobre o fogo da lareira, esperou até que seu conteúdo aquecesse e começasse a evaporar.

Após alguns minutos, Nabal viu começar a subir um vapor espectral, branco e denso. No início era apenas um filete, porém tornou-se maior em volume, até que copiosamente preencheu o aposento com um odor nunca antes sentido.

Sentindo-se entorpecido, seus olhos formigantes começaram a ser abertos para a realidade do mundo como ele realmente o é.

O que pareciam ser sombras geradas pela luz da lareira, logo revelaram-se seres fantasmagóricos, desprovidos de matéria e substância, mas presentes e observadores, disformes mas assustadoramente humanoides, calados mas sussurrando poder.

Ao se deter no tomo, viu-o com um leve brilho rubro que emanava de seus escritos. Ao contemplá-lo logo percebeu que os símbolos e figuras antes desconhecidos, tomaram uma clareza tal que o livro poderia ser lido e entendido totalmente em seus significados mais obscuros.

Finalmente o conhecimento das eras foi seu.

V

Nabal não foi visto por semanas pelo povo da pequena vila, após a morte de Josef. Contudo, mais e mais caravanas passavam por aquela localidade, oferecendo como única explicação um súbito e irresistível desejo de sacrificar e adorar aos deuses.

Na primeira noite de Lua Nova, exatamente um mês após a morte de seu servo, houve grande desentendimento entre os habitantes locais e os mercadores que ali se encontravam, uma vez que diversos animais haviam desaparecido do aprisco dos aldeões, recaindo a culpa sobre os mercadores que ali estavam. Nabal, contudo, sabia exatamente quem surrupiara os animais: ele próprio.

A noite avançava lentamente no Carmelo enquanto uma figura encapuzada deixava a propriedade de Nabal, trazendo consigo diversos animais cuidadosamente amarrados em fila, rumando em direção à encosta mais suave do monte sagrado.

Tendo apenas aqueles animais por testemunha, Nabal chegou ao cume do rochedo, parando somente ao se deparar com a ancestral mesa sacrificial que, pela suas proporções colossais, somente poderia ter sido utilizada por algo que transcendesse a humanidade, tanto em volume quanto em antiguidade.

Após prender todos os animais, Nabal, sacando uma adaga sinuosa, começou a sacrificá-los, enquanto entoava cânticos com nomes daqueles que não deveriam ser lembrados.

Yamm, decaído do monte sagrado Sappan, as estrelas chamam-te Lotan, Rahab e Tannin, o abismo primordial, a serpente do mar, o grande dragão de sete vozes.
Leviathan.
[/i]

Ao terminar o último sacrifício, já exausto, Nabal pôde sentir o vento até então implacável cessar por completo.

Já pressentindo que algo estava para ocorrer, percorre a escuridão com seu olhar, até que, ao observar o mar, percebe os clarões que prenunciam o aproximar-se de grande tormenta.

Seus olhos se fixam em uma grande nuvem que parece tocar o mar ao longe, intrigando-o principalmente porque aparenta mover-se de forma independente do vento, sendo tal observação somente possível quando raios iluminam a escuridão da noite.

Por alguns instantes houve silêncio absoluto, até que um grito abafado pelas mãos postas sobre os lábios, quebra aquela monotonia.

Ao longe, um clarão solitário revela uma forma colossal, de proporções absurdas e impossíveis na natureza, movendo-se rapidamente no mar sem fim. Ao se aproximar da costa, aquilo começou a sair da linha da água, revelando a terrível realidade da condição humana.

Nabal, horrorizado, debruça-se sobre a gigantesca mesa cerimonial, enquanto um número incontável de apêndices grotescos e tentaculares, exerce influência esmagadora sobre sua mente.

Quando aquilo finalmente chegou ao Carmelo, percebendo a presença de Nabal, esticou grande par de asas e, subitamente, cravou suas enormes garras nas laterais do monte, liberando rugido tão grande que fez toda aquela região tremer.

Nabal, recompondo-se e recordando o que dizia o tomo, pôs-se de joelhos com o rosto em terra, porque sabia que sua vida dependeria disso.

Após instantes ouvindo aquela respiração grave e poderosa, sentiu uma leve vibração perto de si, ao que se seguiu o ruído abafado de dezenas de ossos sendo triturados. Ele sabia que o sacrifício fora aceito.

Levantando-se, viu aquilo o observando com dezenas de olhos, sem qualquer tipo de simetria ou ordem natural, enquanto poderosa mandíbula terminava o sacrifício.

Lembrando-se novamente do tomo, Nabal procurou compatibilizar sua respiração com a daquele ser, enquanto acendia um braseiro já previamente preparado.

A fumaça que passou a subir tinha a propriedade de limpar a mente do usuário, colocando-o de forma mais propensa a receber estímulos externos.

Ao estarem em sintonia, foi dado a Nabal escolher o objeto de seu desejo e a saber o preço que deveria pagar. A escolha foi simples, mas o preço terrível.

Um a um, todos os habitantes foram mortos, devorados perante Nabal, que os ofereceu como sua parte do sacrifício exigido.

Os gritos daquela gente ecoaram por muitos dias, na mente de Nabal, após aquela noite. Suas faces aterrorizadas, seus gemidos lamuriosos, tiveram efeito devastador sobre ele, tanto física quanto espiritualmente.

Todo o horror indescritível pelo qual foi obrigado a passar, infligiu em seu corpo o peso de vinte anos. Sua alma, contudo, sofreu o pior dano. Se havia algum resquício de bondade e decência em seu coração, estes foram substituídos pela brutalidade, indiferença e extrema avareza.

Como recompensa, ao raiar do sol, Nabal já era um dos homens mais ricos do oriente, uma vez que no lugar dos casebres dos aldeões, jaziam diversas embarcações, cujas cargas reluzentes contrastavam com o estado decrépito daquelas, como que retiradas dos domínios do mar.

VI

Dez anos se passaram desde aquela noite. Nabal, já contando com certa idade, prosperou grandemente ajuntando ainda mais bens, sem que viva alma o pudesse acusar do morticínio por ele desencadeado.

Os mercadores que passavam por aquela região, seduzidos pelo reluzente ouro, de bom grado proveram servos e servas que trabalharam toda a região ao redor do Carmelo, não apenas plantando vides, mas pastoreando toda espécie de gado miúdo. Com o tempo, Nabal tornou-se grande fornecedor de lã, vinho e carne, sem temer nada nem ninguém.

Certo dia, viu bela escrava sendo oferecida por um dos mercadores. Seu nome era Abigail.

Pagando seu preço, a tomou por esposa, mas sua mente ainda estava ligada a seus bens e poder, passando a expô-la mais como um belo pássaro engaiolado do que como sua mulher.

Abigail, por sua vez, passou a cuidar de suas tarefas domésticas, auxiliada por grande número de servas, garantindo que à mesa de seu marido nunca faltasse vinho e carnes em abundância.

Tudo parecia ir bem a Nabal, até que, certo dia, um de seus servos voltou com a notícia de que determinado refugiado estava às portas de sua terra, acompanhado por grande multidão, e que solicitava comida, bebida e local para pouso. Seu nome era Davi, e era fugitivo do Rei Saul.

Nabal, ouvindo seu servo, muito se revoltou com a petulância deste foragido. Pensava consigo em tudo o que tinha e de como tal homem poderia sequer pensar em ter algo seu.

Após algum tempo, mandou seu servo de volta com a difícil missão de negar provisões a aquele que seria, no futuro, Rei sobre todos os filhos de Israel. Abigail, que diligentemente trabalhava perto de seu marido, ouviu tudo o que disse e temeu pelo pior.

Ao saber da negação, Davi muito se enfureceu contra Nabal, decidindo fazer tamanho mal que ninguém em sua casa sobreviveria.

Já tinha reunido seus homens e os aparelhado para a peleja quando, para sua surpresa, viu várias pessoas descendo colina próxima, cada uma portanto diversos mantimentos em suas mãos, afora dezenas de jumentos carregados.

O primeiro a chegar, prostrando-se aos pés de Davi, lhe informou que sua senhora, Abigail, enviara todos aqueles suprimentos e que lamentava profundamente o comportamento de seu marido.

Davi, retornando à bainha sua lâmina, louvou a seu Deus pela atitude sensata de Abigail, porque estavam para matar a todos da casa de Nabal.

Dispensando o servo, passou a distribuir os bens para os demais que o acompanhavam, trezentas almas, somente contando os homens aptos à guerra.

Ao retornar à casa, o servo procurou Abigail e lhe contou tudo quanto Davi o fizera saber, pelo que sentiu-se aliviada do terror que fora poupada sua casa, mal sabendo ela que o juízo já estava determinado contra Nabal.

Ao cair da noite, chegando de fiscalizar seus campos, Nabal sentou-se e preparou grande mesa para si, um banquete digno de um rei, mas apenas para si mesmo.

Solitariamente comeu, bebeu e se fartou, até que sua esposa o fizera saber de tudo quanto fez e das palavras de Davi acerca sobre o mal intentado sobre sua casa, e de como ela pôde refrear sua ira.

Ao terminar de ouvir sua esposa, Nabal sentiu um grande peso no peito, não conseguindo esboçar qualquer tipo de reação às suas palavras, à medida que o aposento ia se enchendo de sombras somente vistas por ele.

Ninguém poderia saber!, pensava Nabal, mas sua riqueza e existência tinham como condição nunca dar livremente qualquer bem de sua imensa fortuna.

Tudo agora acabaria pelo zelo inocente de sua esposa.

Dez longos dias se passaram, enquanto Nabal, impossibilitado de sequer se alimentar, definhava lentamente sobre sua cama finamente trabalhada, enquanto era sobrenaturalmente forçado a relembrar o sofrimento daqueles que matou.

Tudo isto sob os olhares de seres espectrais que, silenciosamente, observavam a miséria humana, às bases do Carmelo, o monte sagrado onde caminham os deuses.

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