Enquanto relógios escorrem vagarosos das paredes
E o pêndulo vacila entre dois extremos que os sábios
Classificariam como idênticos mas que eu
Em minha cínica sabedoria classifico como diferentes
Fecham-se os portões da alma, selam-se as saídas do meu destino
Caminhando por um labirinto de um só caminho e uma só parede
Onde todas as esquinas são como as dobras que apertam meu espírito
E os candeeiros, acesos sob a luz da lua, sonham um dia se elevarem
Além do sol, volto, retorno e recomeço, sento em posição de lótus
Sobre os restos que caem da boca daqueles que me prenderam aqui
Sonho um dia cavar um túnel
Ao dormir ouvindo os ruídos das quimeras do outro lado da parede
Sinto nada se mexer, só ritmo do sangue a pulsar em minhas veias
E eu suponho que algo se esconde ali, no âmago da prisão
Sonho um túnel a cavar o dia
Até o desespero cavou um buraco dentro dos mantos que me abrigam
Rezo, em medo, a ponto de gargalhadas lacrimejarem sob minha pele e ossos
E surpreendo a lágrima em sua doçura a renegar o sal que a gerou
Passam-se os dias, horas e minutos
Maníaco silêncio do outro lado, fascinante agonia nas palmas das mãos
A parede parece sorrir e as estrelas parecem querer cair em meu colo
E eu percebo novamente o pêndulo a tremer ante meus olhos cansados
Passam-se os minutos, horas e dias
Até que a coragem venha para agarrar a haste que rasga os espaços
E a use para rasgar meu próprio coração em chamas,
Inutilmente tornado em cinzas por tanto amor desperdiçado.
Arthur Ferreira Jr.'.
Fins de 1999
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Credo, como eu era pomposo.
Assim como os contos, meus poemas caem no Lançados ao Caos:
http://insanemission2.blogspot.com/