O problema não está na concepção de humor. O problema é que, com uma frequência absurda, esse tipo de humor vem acompanhado de (ou se origina em) um conservadorismo safado muito interessado em negar as conquistas de grupos e movimentos que se fuderam bastante até chegarem onde estão hoje - e, a julgar pela mentalidade média, ainda tem que se fuder mais pra sequer vislumbrar a liberdade e a igualdade almejada.
Daí, duas ilusões comuns: (1) achar que o humor coloca o mais e o menos favorecido num mesmo patamar, pelo instante da duração do humor; não coloca. Me parece que isso não depende do humor, e, por mais que eu, você e muitos outros membros desse forum compreendamos e tentamos transmitir e praticar a igualdade racial, sexual, etc, sabemos que ainda não chegamos lá, que falta um caminho e que não é bolinho conseguir;
(2) acreditar que se é "responsável pelo que fala, e não pelo que você escuta". Cretinice em maior grau, porra! Isso não é comunicação - deve ser quase uma antítese. Quem quer que se exima da responsabilidade de se fazer compreender é um covarde, ou um filha da puta mesmo. Porque tem muito cara que se diz humorista que não tá "fingindo", não tá entrando em personagem algum ali no palco. Tá só vendendo a própria mediocridade.
Então, mal ae, mas acho que o humor tem limites sim. É a linha tênue que separa a Risada e o Horror frente ao pior do homem (na forma de catarse), da Idolatria ao Pior do Homem, que é o que acontece com essa leva medíocre do stand up brasileiro e com esse movimento babaca do "politicamente incorreto".