Não sou contra a dublagem. Considero a dublagem uma forma de apresentar obras diferentes a uma gama de pessoas muito maior do que se tudo fosse legendado.
A questão é não poder haver somente um ou outro. Querendo ou não, ainda temos uma massa de pessoas que ainda não conhecem um segundo idioma e as dublagens são uma forma de apresentar diferentes obras cinematográficas a este vasto público, que tem o direito de poder conhecer um filme mesmo que de maneira adaptada.
Não podemos achar que tudo que funciona conosco, funcionará com o restante. A dublagem é uma ótima forma de apresentar para essas pessoas uma enorme possibilidade de entretenimento. O problema aí entra na parte educacional: é simplesmente a falta de incentivo a leitura e das pessoas evoluírem e exigirem mais de si mesmos. Com tudo muito mastigado e facilitado, perde-se muito em termos de pesquisar sobre, por exemplo, o contexto social que se passa o filme. É extremamente triste as pessoas envelhecerem e simplesmente se acomodarem naquilo que é o mais fácil.
Em uma prática de cinema, assistir filme legendado seria um passo a mais na sua compreensão de linguagem e de cultura. Querendo ou não, sabemos que ouvir o áudio original e as palavras originais e compreendê-las são meios de se aprofundar cada vez mais em seu aprendizado.
A meu ver, ser totalmente contra as dublagens é meio que ser contra a tradução: duvido muito que a maioria aqui consegue ler um Nietzsche no original. Alguém aqui pegando seu livro traduzido realmente acha que aquilo que o bigodudo disse foi o que ele realmente disse no original? Infelizmente, muita coisa se perde, embora as ideias principais se mantenham. Querendo ou não, no meio da tradução, há influência pessoal do tradutor que está ali.
Tradução é uma profissão ingrata. Ninguém nunca está satisfeito com ela. Mas se não existisse, ficaríamos presos ao que temos de produção cultural na nossa língua materna. E eu acredito que isso vale tanto para coisas mais complexas, como livros de filósofos alemães malucos, quanto a coisas mais simples como o filme do Crepúsculo.
Acredito que ambos podem muito bem conviver: dublado e legendado. Só existindo um ou outro, a obra se perde em seus objetivos.