Exercício divertido: pare na saída de algum culto evangélico. Pegue algumas histórias icônicas do Velho Testamento. Entreviste as pessoas que passam, perguntando quantos acham que são fatos históricos e aconteceram exatamente como relatado.
Mais divertido ainda: pare pra pensar na proporção numérica entre esse perfil de pessoa e as pessoas que sequer entendem o significado da expressão "mitologia historicizada".
E por "divertido" eu quero dizer "deprimente".
Houve um erro de compreensão aqui, provavelmente porque eu fui bem pouco específico na minha mensagem, então hora de corrigi-la: Eu não falei que no meio dos praticantes religiosos (o "cristão médio") essa visão é difundida, seria simplesmente loucura se eu afirmasse isso.
Quando falei da posição maximalista (e seu contraponto, minimalista. Ambas são relativamente comuns) é a visão de acadêmicos do meio da crítica bíblica, arqueologia e de teólogos modernistas.
A maioria da população que me cerca, hoje, mesmo com todo acesso à informação e à ciência, acredita que Jesus realmente botou paraplégicos para andar, curou cegos, reviveu mortos e ressuscitou. Me parece bastante fácil, e até evidente, que a população da época acreditasse literalmente em Hércules (que eu usei só como exemplo) e toda aquela coleção de monstros e superpoderes da mitologia grega.
Então, eu tenho a mesma impressão que você, Árcade - só não tenho (agora) como confirmar tal suspeita. Honestamente, acho que existe um abismo imenso entra "religião popular" e a "religião literária" (ainda mais quando existe um grupo dentro dessa religião só para preservar, interpretar e compilar textos dessa crença).
Mas eu concordo que a Bíblia seja uma fonte, no mínimo, parcial no que diz respeito à existência das figuras cristãs. Por isso é importante obter o conhecimento de outra fonte (como o Josefo, que era um judeu, ou Tácito, que era um romano).
Na verdade, a Bíblia por si só não é só uma fonte, mas ao menos três conjuntos delas, todas relativamente independentes entre si: As epístolas de Paulo (ao menos as 7 delas que podem ser atestadas a ele, como a I Tessalonicenses e as I e II aos Coríntios), os Evangelhos Sinópticos (atribuídos a Mateus, Marcos e Lucas) e o Evangelho (supostamente) de João - sem contar que o Evangelho de Tomás que é quase tão antigo quanto esse conjunto e pode ser também uma fonte independente.