Elfo:
Para maioria dos fins de discussão, pode tratar como segurança e legislação (ou "Estado Guarda Noturno"). Mas como eu coloquei algumas vezes antes, eu oscilo entre libertário e liberal clássico, e o grupo que eu tenho tido mais inclinação no momento são os Libertários de Esquerda.
Bem mais simples se denominar apenas liberal progressista, não? É o que tenho procurado fazer, afinal a esquerda está bastante associada com centralização do poder no Estado, que é exatamente o oposto do liberalismo.
Okay, o que te coloca como um liberal clássico ou social (que são relativamente similares aos SocDem).
Não tem nada a ver com a social-democracia, que é uma ideologia socialista que apenas achava que a mudança poderia se dar por intervenções estatais e não por revolução. Hoje os sócio-democratas são bem plurais, mas a maioria ainda defende um Estado bastante intervencionista, com papel de regulador e distribuidor. Se existem adeptos do Estado de Bem-Estar Social entre os sócio-democratas, é só porque aquilo lá virou um samba do crioulo doido, mas de modo algum podemos confundir o Estado de Bem Estar Social (este sim, similar à minha posição) com a social-democracia.
E você se opõe a existência de concorrência do setor privado com o setor público em setores onde o Estado tem monopólio, como "uso da força" e "aplicação da Lei"? (Não é algo ligado a essa discussão, é mera curiosidade minha).
Não sou contra haver segurança privada (como já existe), mas a princípio seria contra sim haver concorrência privada com a polícia, ou seja, empresas privadas com pessoas que fazem o papel da polícia, fiscalizando as ruas, dando voz de prisão, etc. Por quê? O que pensa a respeito?
Eu não discordo quanto a existência desse problema - eu só questiono a efetividade da solução estatal a ele. Saúde e Educação são direitos positivos, aqueles onde para que uma pessoa desfrute dele, é preciso que alguém pague por eles (geralmente por meio de impostos, nesse caso) - o que leva aos tradicionais problemas da escassez e da efetividade da alocação de recursos, na qual o Estado é notavelmente ineficaz.
Sim, mas não vislumbro outra solução. Do contrário você estaria supondo que as pessoas irão por livre e espontânea vontade querer doar parte de seu dinheiro para que os mais pobres tenham também satisfatório acesso à saúde e à educação, o que me parece algo otimista demais e arriscado. Como acho que não podemos correr risco com relação a isso, são questões muito básicas e fundamentais para alguém ter (são o mínimo), entraria o Estado e, consequentemente, o imposto.
Mas, cá pra nós, se o Estado ficasse restrito a segurança, saúde e educação, já teríamos uma taxa tributária infinitamente menor do que a que temos, além de serviços de melhor qualidade.
Contudo, isso não implica que eu não consiga aceitar o envolvimento estatal nessas área - só que eu prefiro a abordagem mais próxima do Estado como uma "rede de segurança" (safety net), onde ele realiza o papel de um provedor mínimo de serviços básicos de saúde e educação para aqueles que não podem pagar. Contudo, essa abordagem geralmente é unida com o imposto de renda negativo, que até onde eu sei, não teve uma aplicação muito funcional nos EUA.
Mas o que é "um provedor mínimo de serviços básicos"? Se você se refere ao fato da educação e da saúde também poderem ser apenas privados, mas com o Estado subsidiando educação e tratamento em instituições privadas para quem não tem condições de pagar, eu já pensei nessa possibilidade, mas ela não daria certo. Ela tem o benefício de praticamente garantir melhor qualidade dos serviços e ainda opção de escolha para quem for subsidiado, mas como funcionaria isso na prática?
Além do Estado também já ter de alocar recurso de impostos para oferecer este serviço, poderíamos entrar em uma enorme briga legal dentro de um triângulo Indivíduo - Setor Privado - Estado que prejudicaria a todos. Por exemplo, o cara cai doente na porta do hospital. Deve ser tratado? Como comprovar que o cara não tem recurso para pagar o tratamento? Eles vão procurar averiguar isso antes para decidir se o Estado vai pagar enquanto o cara morre? Ou depois, e daí o hospital pode empurrar o problema pro Estado, que empurra pro indivíduo, que empurra pro hospital e qualquer variação dentro deste triângulo. Da mesma forma, não parece difícil pensar em várias formas de pessoas com recursos explorarem brechas nessa ideia, além dos problemas dos limites legais de quando o hospital pode se recusar a atender e, vendo que está tomando prejuízo atendendo de graça pessoas que tinham recursos mas caíram doente na porta e o Estado não quer subsidiar, passar a não atender nestes casos.
Problemas ainda maiores no caso da educação, onde certamente haverão problemas ao decidir se o Estado é obrigado a pagar qualquer valor de escola, qualquer tipo de ensino que a pessoa escolha e como isso gerará problema. Há também o problema do acesso, onde pode não haver interesse da iniciativa privada em construir escolas em locais remotos, que pode dar prejuízo, embora as pessoas lá também precisem de educação (aliás, idem ao caso da saúde e do transporte). A solução mais próxima que não seja estatal seria uma parceria público-privado (a la Reino Unido) onde o Estado "ajuda"/cobre prejuízos das iniciativas privadas para estes locais onde há carência. Mas, de novo, iríamos criar brechas para muitos problemas similares aos já descritos e ainda haveria um tremendo gasto estatal.