Lendo As vésperas do Leviathan - Instituições e poder político em Portugal - séc. XVII, de António Manuel Hespanha.
"Desde há muito que a imagem do Leviathan, esse emblema da centralização do poder político na época Moderna, se instalou na historiografia européia. O objectivo deste livro é, justamente, o de problematizar esta visão da época moderna como um tempo já dominado por um sistema tendencialmente estadual de poder. Sublinhando, em contrapartida, tudo aquilo que - no plano da prática quotidiana, mas também no das representações da sociedade e do poder - dava aos pólos políticos periféricos forças para resistirem, com bastante sucesso, a um projecto de centralização política que, no plano doutrinal, se anunciava já.
Muito do peso do trabalho foi posto numa averiguação sistemática dos elementos sobre os quais pode ser reconstituída, a partir dos factos, a lógica do sistema social de distribuição do poder. A reconstituição das estruturas demográficas, financeiras, administrativo-burocráticos, serve de pano de fundo ao estudo detalhado dos aspectos dogmáticos e prático-institucionais das isenções corporativas, da autonomia concelhia, do regime senhorial, do estatuto dos oficiais. Ao mesmo tempo que se destaca a eficácia, sub-reptícia mas efectiva, dos mecanismos políticos "não oficiais".
No final, uma visão algo inusitada do poder e das instituições no Portugal do Séc. XVIII - a de uma estrutura ainda fortemente marcada pelo pluralismo da "respublica" medieval, apesar de tópicos e fórmulas doutrinais prenunciadoras dessa nova entidade política que Thomas Hobbes estava, entretanto, a teorizar, mas cuja aurora, em Portugal, não raiara ainda. "