Desculpem pela demora.
Barão e kinn:Mas e se for uma espécie de lavagem cerebral?
Off: Depois do Kinn falar disso: Sampaio, seria possível falar mais sobre isso de lavagem cerebral? Sempre me pareceu um pouco como teoria da conspiração
Na verdade, é um pouco teoria da conspiração sim. Depende do que entende por "lavagem cerebral", já que este conceito é apenas popular e não existe na Psicologia ou na Neurociência. O que geralmente se pensa quando se fala em "lavagem cerebral" é alguém modificando totalmente um outro alguém contra sua vontade. Ou, como parece ser o que o kinn quer dizer, quando alguém altera os comportamentos de uma pessoa, mas esta continua sendo, "no fundo", a mesma pessoa (se quis dizer alguma outra coisa, me explique melhor).
No primeiro caso, isso realmente pode ocorrer, mas é bem mais complicado do que a maioria imagina. A maneira mais fácil de fazer isso é através de um procedimento chamado
emparelhamento de estímulos, que é o que fazem com o Alex no Laranja Mecânica. Grosso modo, você associa algo que antes a pessoa gostava a algo muito desprazeroso, fazendo com que ela passe ´também a ter aversão àquela coisa que antes gostava, por mais que ela queira não ter essa aversão. Uma ilustração simples e verídica disso é o experimento que ficou conhecido como
"Pequeno Albert":
(há várias informações equivocadas ou simplificadas no vídeo, mas mostra trechos do experimento)
Neste, o psicólogo John Watson colocou um bebê (Albert) diante de ratinhos, outros animais peludos e ursinhos de pelúcia e observou que o bebê não demonstrava medo ou incômodo com ele. Depois, passou a, sempre que o bebê entrava em contato com algo peludo, disparar um som muito alto e muito desagradável, que incomodava muito o bebê o fazia chorar. Após feito isso sistematicamente, observou que bastava a presença de qualquer coisa peluda para que o bebê já chorasse, gritasse, sentisse medo.
O mesmo pode ser feito com adultos e, caso seja feito, não há, comprovadamente, absolutamente nada que você possa fazer para impedir seu organismo de responder com reações de medo, repulsa, náusea, etc., àquilo que ficou emparelhado com a coisa aversiva.
O emparelhamento de estímulos não necessariamente este procedimento condenável, mas também pode ser e é usado para acabar com fobias, transtornos ansiosos, alguns casos de depressão, etc. O mesmo princípio básico, mas feito de outra forma, para outros fins.
Sobre o segundo caso, da pessoa ainda "no fundo" ser homossexual, é algo complicado, porque envolve a crença em algo como "essência" do ser humano. Não existe a mínima possibilidade disso existir. Como disse no texto, você é fruto de sua filogênese (seu organismo biológico, como você nasce) com sua ontogênese (suas experiências ao longo da vida). Se o cara diz não ter mais desejos homossexuais, não tem mais atos homossexuais e não se considera homossexual, o que nos permite dizer que, no fundo, ele ainda o é? Como exemplifiquei para outra pessoa, fica algo como:
- Não, você ainda é gay, morre de vontade, mas tá aí se iludindo.
- Não tô não, cara. Tô de boa. Agora realmente curto o sexo oposto tá muito bom meu casamento, inclusive.
- Não tá não, você está sofrendo por dentro! SOFRENDO, sufocado!
- Não tô. Estou me sentindo bem.
- SOFRENDO! SOFREEENDOOO!
Não faz sentido. Estaríamos supondo que sabemos mais sobre como ele se sente do que ele mesmo.
Daí você pode ESPECULAR que estes na verdade sempre foram bissexuais e por isso conseguiram essa transição ou que estes não eram "homossexuais de verdade", mas apenas devido a algo como no caso analisado por Freud. Mas aí você cai em uma falácia lógica conhecida como falácia do Escocês de Verdade:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Expuls%C3%A3o_do_GrupoPara piorar, mesmo que queiramos muito que isso seja verdade, não temos dados para sustentar essa afirmativa.
Meu ponto ao longo do texto foi mostrar justamente que isso não é importante. Mesmo as terapias de reorientação sexual sendo possíveis, não há porquê ela ser feita, ao faze-la estamos contribuindo para o sofrimento alheio e, adicionalmente, existe grande chance de ter consequências desastrosas ao paciente.
Não querendo fazer papel de advogado do diabo, mas essa foi a parte menos relevante do texto.
Concordo, e sua colocação foi perfeita. O limiar entre o natural ou não e se devemos nos ajustas às exigências alheias realmente é tênue.
Agnelo: antes de tudo, obrigado pelos elogios. Valem muito.
Isso posto, eu gosto de ver tu participando aqui, acho que tu é bem recebido por aqui. Queria saber o que tem que ser feito pra aliviar a mágoa que tu tá guardando da gente.
Sem querer tornar isso um momento Casos de Família, mas já tornando... Eu realmente fiquei bastante desanimado com a Spell após o embate no qual defendi uma postura menos "ursinhos carinhosos", como chamei, e acabei retirado da supervisão. Fingi que não me importei, mas fiquei chateado, tal qual qualquer outro (como o Gilnei), após sentir que enfrentou muita coisa para tentar melhorar a Spell e esteve firme desde sempre, se sentiria se fosse expulso pelos demais.
Hoje isso me afeta pouco, sinceramente. Porque acabou que fui tomado pela minha vida pessoal e profissional e arrumei outros locais e outros debates virtuais que me atraiam mais. Mas de vez em quando eu venho, cara. Não tenho problema nenhum com vocês, pelo contrário, amo muito isso aqui. Quando entrei na Spell eu já escrevia, lia muito, estudava Filosofia, etc., mas mesmo assim, não tenho a menor dúvida de que aqui foi importante em minha formação. Aprendi a escrever melhor, argumentar melhor, entrar em contato com outras coisas, et cetera. Se um dia eu fosse escrever uma autobiografia, certamente iria mencionar a Spell nela. <3
Mas é isso, hoje tô sumido principalmente por passar meu tempo livre debatendo outras coisas, escrevendo artigos, preparando palestras. Já procrastino demais pra me deixar ser sugado pelo (delicioso) buraco negro spelliano.