Primeiro, seja bem vindo Rocha! Acho interessante termos alguém da "industria" do rpg aqui, para nos trazer uma visão mais ampla do mercado.
Valeu cara, mas assim, acho que os dados e informações que eu tenho são o que qualquer um mais ligado tem acesso hoje em dia na cena do RPG nacional.
Dito isso, ao assunto:
Rocha: A moda agora é E-Book + Suplementos (e Suprimentos) online.
Não entendi. Moda onde?
Nos states é. Mas são realidades completamente diferentes. Lá o mercado de e-books (em geral, não apenas de RPGs) já ultrapassou o mercado de livros físicos. No Brasil ainda estamos longe disso. Até que leitores portáteis se tornem populares, o jeito é continuar investindo em material impresso mesmo.
O que é pessimo para a industria. E-books são muito mais baratos e portanto atingiriam um publico muito maior, além de não exigirem uma tiragem mínima para diminuir os custos de impressão.
Cara se o outro usuário tava falando dos EUA (e por isso eu perguntei "
onde"), a tal "moda" da publicação em PDF não é de hoje, mas vai do início dos anos 2000. Diabos, até a gente na Secular publicou em PDF lá pelos idos de 2005... Agora, dureza é chamar de "moda" quando claramente é um formato (que nem é mais tão novo), como você mesmo colocou, com várias potencialidades interessantes, como o baixo custo de entrada para quem quiser começar a se aventurar na publicação de material.
Pessoalmente, acho que publicação em PDF e Financiamento Coletivo são as duas formas de menor risco para lançar um RPG que temos atualmente. Não sei se o camarada ali falou que "a moda hoje é..." pra tentar desqualificar o formato (até porque a 'moda hoje" já é publicação em PDF com opção de POD), mas enfim, tomara que uma "moda" que torne mais barato e fácil publicar dure pra sempre...
Agora, é fato, hoje é muito mais fácil lançar um jogo de RPG em baixa tiragem, com menos de mil reais, só de brincadeira, para testar formatos, mecânicas, ideias. E você ainda recupera a grana! Na pior das hipóteses você lançou seu jogo doidão e os amigos compraram. Na melhor seu jogo "pega" e você pode continuar brincando de lançar coisas. Me diz como isso faz mal pro RPG?
Olha, mal não faz. Mas se todos desenvolvedores se focarem neste modelo, o hobby tende a afundar. E acho que é sobre isso que foi a pergunta do amigo ali que começou a discussão: me parece que todos estes lançamentos são focados em vender para macacos-velhos. Não se vende Shotgun Diaries para iniciantes, ou para quem não conhece nada de RPG.
O lance é que não são todos os desenvolvedores que estão se focando neste novo modelo - são os
novos desenvolvedores. Vamos pegar de 2008 ou 2009 pra cá. Quem de grande lançava RPG por aqui? A Devir e a Jambô.
Fast foward para 2012: quem de grande publica RPG atualmente? A Devir e a Jambô. A diferença crucial de 2012 em relação a 2009 não são os grandes, que continuam lançando e mandando bem (a Devir até começou a mandar melhor, pela primeiro vez em muito tempo segurando bem duas linhas), mas a RedBox, Coisinha Verde, Secular e Retropunk. Ou seja, quem já liderava o mercado em um formato tradicional continua fazendo isso atualmente, não houve migração, o que houve foi o surgimento de um novo formato de publicação, que coexiste com o antigo, mas não o substitui.
Forçando um pouco, é quase como se a gente achasse que os Humble Bundle e os jogos indies no Steam fossem legais, mas a médio e longo prazo ameaçassem as Eletronic Arts e Biowares da vida por apresentarem outro modelo de venda e de jogo...
Como eu já falei antes neste tópico, faz falta um meio de trazer novos jogadores da forma que a Dragão Brasil fazia nos anos 90. O mercado nos EUA se renova constantemente porque eles conseguem atrair jogadores novos. Como fazer isso aqui? Passar uma propaganda na globo? Duvido que um jogo com tiragem de 1000 exemplares tenha cacife pra isso.
Olha Iuri, pra ser muito sincero, nem as editoras brasileiras dos jogos com tiragem de 10 mil unidades estão fazendo isso, imagina os indies né? Ainda assim acredito que os jogos independentes podem sim fomentar uma entrada de novos jogadores, seja através de iniciativas como pequenos eventos regulares, ou mesmo designs mais voltados para iniciantes como o Mighty Blade e o Old Dragon.
Agora esperar que os indies façam essa divulgação de uma forma massiva que nem a Devir e Jambô tem feito na publicação do hobby por falta de estrutura, aí realmente não tem como...
Rocha, não vejo problema a Secular e outras editoras que estão pipocando por aí, lançarem seu RPGs da forma como estão lançando. Elas tem o meu apoio! Porém, o que me preocupa é esse mercado estagnar somente nos jogadores antigos.
Então Alduim, é uma preocupação real, as coisas tem que se renovar, claro. Mas assim, acho que existe mais chance de renovação com novos jogos e editoras, do que com as mesmas duas editoras saca? Não acho que a situação seja ideal ainda, mas como disse uns posts atrás, é um ponto muito melhor que 2009.
Sinto uma certa implicância e receios com indies por aqui. Minha única 'frustração' com eles é que a maioria não cabe em campanhas longas(ou se tornariam repetitivos numa), mas isso não é o ponto fraco; É justamente o ponto forte.
Pois é, sinto a implicância também. Ninguém é obrigado a amar a parada, óbvio, mas falar que é tudo cópia do que vem de fora já é birra e chilique mesmo.
'Mas vincer, se os indies são essa solução cadê o resultado?'
O foda é a resistência e certo desinteresse do próprio público rpgista; Mesmo o pessoal antenado que sabe desses jogos ainda os olha como algo menos interessante que os rpgs robustos(maioria, estou generalizando). Outro problema dos indies é que muitos poucos(aqui no Brasil não sei de nenhum) tentam arriscar. Eles têm um público de nicho focado e não tentam divulgar e alcançar além desse público.
Mas acima disso tudo eu ainda acho falta mais 'evolução' nesse viés indie. Mais variedades, outros estilos, outros conceitos de design. Os indies ainda se esforçam em oferecer algo muito diferente dos rpgs clássicos, ou pecam pelo extremo na simplicidade de regras. Se tornam simplórias, fáceis de dominar; sistema engajante não se resume a funcionar dinamicamente.
Concordo com muito do que você disse aí cara. Se a gente parar pra ver que a produção indie nacional se fortaleceu mesmo em 2011, ou seja, a um ano, ainda tem muito chão pela frente. Acredito que se essa tendência se manter, nos próximos anos teremos designs ainda mais interessantes e diversos, e que eventualmente preencham essas lacunas que você apontou.