Em suma, Cigano é a favor do genocídio.
Quanto à minha opinião eu falei lá no shout. Não dá nenhum resultado.
E crude, como assim, velho, você quer o direito de ser revanchista mas reclama quando o Estado é injusto?
E quem disse que revanche é justiça?
Você falou de heróis orientais, pois é, eu estudei um mínimo de História do Japão pra ver a merda que era isso de honra, o mais fraco era quem se fudia. E em todas as sociedades o conceito de vendetta só leva a sangueira generalizada.
Eu não vejo pq se vingar deveria ser um interesse humano. Você não está ganhando nada com isso. Pode conseguir gratificação emocional melhor em outros setores, e com menos efeitos colaterais psicológicos.
Devo citar que mesmo a revanche tinha normas, porque era uma obrigação moral do samurai se vingar das ofensas dirigidas ao seu senhor. Há um relato famoso de um samurai que derrotou vários oponentes e chegou até o ofensor. Quando começaram a lutar o ofensor percebeu que perderia a luta e cuspiu no rosto do samurai. Ele então se apartou do oponente e foi embora.
Porque se matasse o ofensor ali, teria sido por uma ofensa à sua pessoa e não pelo que sua obrigação moral determinava.
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Isso é igualmente bem retratado nas obras de Kazuo Koike e Gozeki Kojima, que frequentemente tratam de romances históricos focados em temas de vingança (como Lobo Solitário e Shura Yuki).
Não sei se poderia dizer que o desejo de se vingar é algo natural porque não encontramos facilmente na natureza, embora eu saiba que chimpanzés são capazes de atos grotescos contra seus pares. Nós temos um amplo espectro no pensamento humano que vai do extremamente vil ao santo. E há um bom número de santos na história que tentaram contagiar as pessoas à sua volta e no meio de seus ciclos os indivíduos violentos conseguiram deixar marcas mais fortes nos viés da história.
Mas eu diria que apesar de tudo, até que a humanidade tem aprendido com seus erros e tentado se organizar para tentar ser evitar injusta e descrever aquilo que seria o padrão moral ideal esperado do ser humano. A ONU é uma boa tentativa e deverá continuar a ser assim por um bom tempo. Mas o potencial está aí.
Considerando a quantidade de guerras e massacres que tivemos durante a história e como quase não havia formas de mediação de conflitos que não a guerra comparados a hoje, acho que houve enorme evolução, embora eu não me iludo em achar que tudo está bem. Estamos muito longe do ideal. A África padece com os monstros que os colonizadores ajudaram a criar e hoje censuram. O fanatismo religioso é uma ameaça forte e crescente no mundo, que fomentará muitos conflitos, fora os conflitos causados pelo egoísmo individual e corporativo.
Tudo isso foi uma digressão para o desgosto do Crude.
Ele pensa que o Estado é uma opção ruim diante do caos social... mas as pessoas todas irão discordar dele que o caos seria melhor, porque o caos seria... caótico. Porque vivermos ao deus-dará, sem saber o porvir de nossas vidas, já que as pessoas que aponta como problema no Estado serão um problema fora dele? O Estado pode não ser a melhor opção. Mas é ainda melhor que viver no caos e melhor que as outras formas de governo tentadas no passado.
Aliás nem é preciso ir longe. O Estado não alcança toda parte com eficiência, deixando o caos imperar mesmo onde ele deveria exercer o controle. Lá vai o Estado atrasado investigar crimes e punir os culpados causados pelo caos que se rebela contra ele. A maioria das pessoas acha mais produtivo viver numa sociedade ordeira, menos violenta e segura para a convivência de todos. Para isso devem ter sido criadas leis para o benefício da maioria. Claro que estou resumindo muito, mas essa é a ideia.
Na prática, os governantes costumam acrescentar leis que beneficiem eles, mas hoje em dia não vemos governantes com desejos alexandrinos nem similares. Então não vejo tanto motivo para esse ódio contra o Estado, até porque as experiências que descreveu parecem ter sido causadas por indivíduos que pelo Estado. Você deveria ser menos pessimista...
Pessoalmente, antes era contra a pena de morte. É simples pensar que o Estado (especialmente o brasileiro) não teria como lidar com ela de forma justa. Não é que hoje eu seja a favor, mas estou mais numa neutralidade com relação ao assunto. Penso inclusive que ela já acontece a margem da lei, com esses esquadrões de extermínios que existem em alguns lugares. São pessoas que se acham no direito de punir com a morte quem eles acham que merece.
Já soube de relatos por aqui e em outras partes do Brasil por conhecidos que souberam de muito perto de eventos do gênero e vejo que parece realmente coisa de justiça com as próprias mãos, mas que afetam no geral apenas pessoas de classe baixa, envolvidas com o tráfico ou crime organizado. Nunca ouvi falar de caso de pessoas de classe média-alta nem (especialmente) políticos corruptos serem mortos por esses vigilantes.
Eu penso que seria uma solução para a corrupção no Brasil se surgisse um serial killer de corruptos ou uma lei muito rígida para quem fosse pego assim. Mas estes aqui, são apenas pensamentos sobre como poderíamos fazer para o país mudar...
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Ainda sobre pena de morte, prisão com objetivo de recuperar e motivação para cometer crimes, acho particularmente um assunto polêmico, pois há algumas teorias que pessoas com problemas de comportamento anti-social seria assim por fruto de alguma espécie de distúrbio que os fazem não conseguirem se controlar para evitar infringir a lei. Indivíduos, se comprovadamente assim, seriam simplesmente culpados por nascer assim ou poderiam ser desculpados por ter esse imperativo biológico afetando seu viver em sociedade? Seria o caso de pensar por exemplo de como tratar os psicopatas que são assim porque nascem assim...
Tudo isso precisaria passar pelo crivo de como punir e se matar resolveria ou não a questão.
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Se eram antes do ato todos humanos falhos, após não é possível que não mudem. Como?
Que ato?
Me desculpe mas você está sendo quase um überman com esse desapego à sua própria existência.
Nem é preciso ir muito longe. O princípio-mor do budismo é alcançar esse nível de desapego a existência. Também o é dos as que vão poupando o mundo do mal de sua própria existência parando de se alimentar pouco a pouco para não ter que matar ou mutilar outras formas de vida com sua alimentação, o que leva a um tipo de abandono do viver suicida e ritual.
Apesar de termos em nós esse gene violento, há também hum harmônico, sem o qual a vivência em sociedade não seria possível, incluindo a capacidade de fazê-la crescer e chegar ao porte que temos hoje.
Vi um evolucionista dizer certa vez que temos como ancestral comum um ser que era o intermédio entre os violentos chimpanzés e os hippies bonobos. Acho a comparação apropriada, já que conseguimos mesclar em nosso comportamento tanto extremos de um quanto dos outros...