Já que falamos de Esoterismo e Cultura Pop, antecipando o que provavelmente a Malena faria: Leiam os trabalhos recentes do Alan Moore, especialmente Promethea e Neonomicon. Embora Moore seja adepto do que é chamado de Magia Caótica ou simplesmente Esoterismo Pós-Moderno, ele empresta e usa (alguns puristas diriam que ele abusa) diversos elementos do esoterismo ocidental tradicional, especialmente da Cabala e da Thelema.
Exatamente, e eu reli Neonomicon hoje, e sou praticante de Magia do Caos e também uma ex-thelemita.
No caso de Neonomicon as referências são mais pra Thelema mesmo, mas Thelema depende da Cabala, mais especificamente da Qabalah, a linha mais.. como dizer, hermética e não-judaica da Cabala. A judaica em geral se escreve Kabbalah.
A principal referência thelemita, no caso de Neonomicon, é o ocultista Kenneth Grant, da O.T.O-T, ou Ordo Templi Orientis Typhoniana. Grant se considera tanto o herdeiro de HP Lovecraft (é, é isso mesmo, argh, ele não escreve tão bem) quanto Alesteir Crowley.
NÃO recomendo a nenhum novato em ocultismo que vá ler as obras de Grant, a não ser que você queira rir. E olha que a primeira obra thelemita que li, bem antes de estudar Cabala, foi dele, com dez anos, enquanto esperava um avião pousar, na livraria de um aeroporto, mas isso sou eu, que sou louca. Grant é verborrágico, inventa neologismos e principalmente, ele se baseia em conceitos thelemitas que demandariam outras leituras e diria mais ainda que demandariam prática, o que eu NÃO recomendo.
Moore cita O Renascer da Magia, mas este é apenas o primeiro de uma série de nove, as três trilogias typhonianas. Eu tenho todos os nove livros. No meio ocultista este Renascer e "The Nightside of Eden", o quarto na cronologia, são os mais conhecidos. Tanto que, se não muito me engano, só existe o primeiro traduzido e impresso por editora... enquanto existe rolando por aí tradução em pdf do Nightside, feita por um certo Rubens Bulad que como eu hoje é ex-thelemita, só que a criatura se voltou para a famigerada gnose hiperbórea, que é neonazi.
Reminiscências pessoas à parte, dá para compreender melhor a própria obra Neonomicon à luz da obra de Kenneth Grant. Para Grant e para a maioria dos ocultistas que trabalha com conceitos lovecraftianos, HPL era um alto sensitivo que foi impedido de "cruzar o Abismo" (uma espécie de "Despertar", é da terminologia thelemita e cabalística, com ênfase na hierarquia espiritual da A.'.A.'.) por conta de seu próprio complexo de inferioridade.
As entidades e monstros cósmicos revelados por HPL seriam portanto distorcidos pela própria mentalidade temerosa e onírica de HPL, sendo nessa perspectiva seres cósmicos necessários e naturais. Para Grant eles vivem no UNIVERSO B, ou LADO B, o universo gerado pela Árvore da Vida Qlipphótica (as Qlipphot são o "reverso" das Sephiroth).
A quem quer conhecer mais sobre Qabalah, recomendo o catecismo mesmo, rsrs, A Cabala Mística de Dion Fortune, os livros do McGregor Mathers sobre o assunto, e sobre as Qlipphot é MUITO MAIS CLARO e límpido para quem não é iniciado, ler "Qabalah, Qliphoth and Goetic Magic" de Thomas Karlsson, o começo do livro é bem estruturado, ao contrário dos livros de Grant, e mostra ao leitor as diversas e diferentes (e contraditórias) visões cabalísticas sobre as Qlipphoth.
Se alguém quiser usar o conceito das Qlipphoth, ou do "mal cósmico" que seja, esse livro vale a pena.