Autor Tópico: Misticismo, alquimia, astrologia e afins  (Lida 12864 vezes)

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Offline Barão Nemo

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Re:Misticismo, alquimia, astrologia e afins
« Resposta #15 Online: Fevereiro 22, 2015, 10:55:59 pm »
Eu consegui reencontrar um projeto chamado Middenmurk, baseado em folclore medieval obscuro e uma dose excessiva de jargões desnecessários. O artigo de alquimia provavelmente deve ser interessante..

Offline Led

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Re:Misticismo, alquimia, astrologia e afins
« Resposta #16 Online: Fevereiro 24, 2015, 07:05:05 pm »
Necropost, eu sei, mas acho que o assunto ainda pode render, e agora o fórum está mais movimentado.

Queria levar a discussão pro RPG e pra cultura pop em geral. Vocês teriam alguma recomendação de obra que se valesse de modelos do misticismo ocidental pra criar narrativas ou mundos interessantes?

[...]

Então, alguma dica de obras que tratem desse assunto e sejam mais agradáveis de ler do que um texto acadêmico?

Postmodern Magic: The Art of Magic in the Information Age. Tenho o livro há anos, nunca li inteiro, mas de todas as vezes que folheei me pareceu interessantíssimo. :P

Re:Misticismo, alquimia, astrologia e afins
« Resposta #17 Online: Março 02, 2015, 01:00:02 am »
Bom, ao que parece esse tópico praticamente tomou uma guinada ao esoterismo pós-moderno, então algumas recomendações mais roots.

O primeiro é alguém que vocês já me viram mencionar, o incrivelmente peculiar Barão Julius Evola. Eu me interesso muito mais pelo aspecto político da obra dele (Revolta contra o Mundo Moderno) mas Evola dedicou muito mais esforço ao esoterismo e tanto o Introduction to Magic quanto A Tradição Hermética, além de outros livros que eu não li e portanto não tenho muito a comentar. Porque eu recomendo o Barão? Porque ele é um dos representante da praticamente extinta linhagem dos Tradicionalistas e praticamente-fascistas que se dedicavam ao estudo esoterismo e misticismo, mais ou menos como era o mais famoso Mircea Eliade (História das Ideias Religiosas I-III, O Sagrado e o Profano, Ferreiros e Alquimistas).

Contudo, nenhum dos livros aqui, incluindo os que eu indiquei faz um bom trabalho em explicar a "mentalidade esotérica" e o "mundo encantado" - e a melhor introdução que eu conheço (aliás, a que praticamente me fez notar o quão arrogantemente moderno eu sou) está nos 3 primeiros capítulos do livro Uma Era Secular do Charles Taylor. O problema (para alguns) é que esse livro é um calhamaço considerável e não trata exatamente de esoterismo (mas sim da origem e ascensão do pensamento secular e como ele se expressa no mundo moderno). Contudo, eu ainda recomendo esse livro de qualquer maneira (creio até que recomendei ele em outro tópico).  :)
« Última modificação: Março 02, 2015, 01:40:17 am por Khalid al-Walid »

Offline Malena Mordekai

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Re:Misticismo, alquimia, astrologia e afins
« Resposta #18 Online: Março 03, 2015, 02:40:02 am »
Já que falamos de Esoterismo e Cultura Pop, antecipando o que provavelmente a Malena faria: Leiam os trabalhos recentes do Alan Moore, especialmente Promethea e Neonomicon. Embora Moore seja adepto do que é chamado de Magia Caótica ou simplesmente Esoterismo Pós-Moderno, ele empresta e usa (alguns puristas diriam que ele abusa) diversos elementos do esoterismo ocidental tradicional, especialmente da Cabala e da Thelema.


Exatamente, e eu reli Neonomicon hoje, e sou praticante de Magia do Caos e também uma ex-thelemita.

No caso de Neonomicon as referências são mais pra Thelema mesmo, mas Thelema depende da Cabala, mais especificamente da Qabalah, a linha mais.. como dizer, hermética e não-judaica da Cabala. A judaica em geral se escreve Kabbalah.

A principal referência thelemita, no caso de Neonomicon, é o ocultista Kenneth Grant, da O.T.O-T, ou Ordo Templi Orientis Typhoniana. Grant se considera tanto o herdeiro de HP Lovecraft (é, é isso mesmo, argh, ele não escreve tão bem) quanto Alesteir Crowley.

NÃO recomendo a nenhum novato em ocultismo que vá ler as obras de Grant, a não ser que você queira rir. E olha que a primeira obra thelemita que li, bem antes de estudar Cabala, foi dele, com dez anos, enquanto esperava um avião pousar, na livraria de um aeroporto, mas isso sou eu, que sou louca. Grant é verborrágico, inventa neologismos e principalmente, ele se baseia em conceitos thelemitas que demandariam outras leituras e diria mais ainda que demandariam prática, o que eu NÃO recomendo.

Moore cita O Renascer da Magia, mas este é apenas o primeiro de uma série de nove, as três trilogias typhonianas. Eu tenho todos os nove livros. No meio ocultista este Renascer e "The Nightside of Eden", o quarto na cronologia, são os mais conhecidos. Tanto que, se não muito me engano, só existe o primeiro traduzido e impresso por editora... enquanto existe rolando por aí tradução em pdf do Nightside, feita por um certo Rubens Bulad que como eu hoje é ex-thelemita, só que a criatura se voltou para a famigerada gnose hiperbórea, que é neonazi.

Reminiscências pessoas à parte, dá para compreender melhor a própria obra Neonomicon à luz da obra de Kenneth Grant. Para Grant e para a maioria dos ocultistas que trabalha com conceitos lovecraftianos, HPL era um alto sensitivo que foi impedido de "cruzar o Abismo" (uma espécie de "Despertar", é da terminologia thelemita e cabalística, com ênfase na hierarquia espiritual da A.'.A.'.) por conta de seu próprio complexo de inferioridade.

As entidades e monstros cósmicos revelados por HPL seriam portanto distorcidos pela própria mentalidade temerosa e onírica de HPL, sendo nessa perspectiva seres cósmicos necessários e naturais. Para Grant eles vivem no UNIVERSO B, ou LADO B, o universo gerado pela Árvore da Vida Qlipphótica (as Qlipphot são o "reverso" das Sephiroth).

A quem quer conhecer mais sobre Qabalah, recomendo o catecismo mesmo, rsrs, A Cabala Mística de Dion Fortune, os livros do McGregor Mathers sobre o assunto, e sobre as Qlipphot é MUITO MAIS CLARO e límpido para quem não é iniciado, ler "Qabalah, Qliphoth and Goetic Magic" de Thomas Karlsson, o começo do livro é bem estruturado, ao contrário dos livros de Grant, e mostra ao leitor as diversas e diferentes (e contraditórias) visões cabalísticas sobre as Qlipphoth.

Se alguém quiser usar o conceito das Qlipphoth, ou do "mal cósmico" que seja, esse livro vale a pena.
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Re:Misticismo, alquimia, astrologia e afins
« Resposta #19 Online: Março 18, 2015, 05:28:32 pm »
Três sugestões de leitura:

1) Esboço de uma teoria geral da magia, de Marcel Mauss.

2) O Enigma do Dom, de Maurice Godelier.
Godelier aprofunda as discussões sobre o dom, estabelecendo a diferença entre os bens de livre circulação, os bens preciosos e os bens sagrados de uma sociedade.

3) Medicina e superstição, de Timothy Walker.
Fala sobre a "aliança informal" entre a Inquisição e os médicos para o combate aos curandeiros entre os séculos 17 e 19 em Portugal.
« Última modificação: Março 18, 2015, 07:50:00 pm por Assumar »
"Sonhos são o que temos." Jojen Reed

Re:Misticismo, alquimia, astrologia e afins
« Resposta #20 Online: Março 18, 2015, 06:27:52 pm »
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3) Medicina e superstição, de Timothy Walker.
Fala sobre a "aliança informal" entre a Inquisição e os médicos para o combate aos curandeiros entre os séculos 17 e 19 em Portugal.

Que interessante. Esse livro parece ter uma curiosa similaridade temática com Religião e o Declínio da Magia, que se foca nas crenças populares na Inglaterra dos séculos XVI e XVII. Estou certo?

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Re:Misticismo, alquimia, astrologia e afins
« Resposta #21 Online: Março 18, 2015, 07:49:37 pm »
Te confesso que não o li. Foi uma sugestão de leitura de uma professora que estuda bastante o tribunal eclesiástico e a inquisição. Pelo que sei, o autor estudava casos de feitiçaria e encontrou muitas referências aos saludadores (pessoas que nasciam com um dom, uma capacidade divina de curar pelo toque das mãos) e curandeiros (detinham conhecimento de medicina, mas misturavam com objetos, ossos, substâncias naturais ou qualquer coisa que pudesse servir como elemento de cura).
Aceitar pessoas com dons de cura seria aceitar que Deus agia por meio deles, o que era um problema para a Igreja. Por outro lado, os médicos e cirurgiões licenciados tentavam combater tais práticas, não apenas pela concorrência ou por considerarem os "alternativos" como charlatães, mas porque eram católicos praticantes.
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