Não é a primeira vez que vejo circulando algo tendencioso no facebook. Uma história sobre policiais corruptos.
Segue abaixo o relato que li no facebook:
Com as mãos ainda trêmulas venho fazer este relato que, como tantos outros, pode passar batido - o que não me incomoda pois sei que meus colegas e as pessoas de bom senso disponibilizarão alguns minutos para ler sobre o acontecimento chocante que me deixou incrédula diante da polícia que, em teoria, deveria nos servir. Segue o relato de uma estudante de jornalismo que insiste em acreditar no potencial transformador da profissão.
Por volta das 23h30 do dia 29 de maio de 2012, estava saindo do banho quando ouvi uma movimentação estranha na minha casa, berros desesperados de fora e de dentro do meu apartamento - "louca", "psicopata", "larga ele" compunham o repertório.
Fiquei assustada e pensei que alguém poderia ter entrado aqui e feito minha família de refém. Ao sair pelo apartamento, já com o número da Polícia registrado em meu celular - veja bem, estava prestes a ligar para quem acredito ter competência para lidar com este tipo de ocorrência - percebo que estão todos debruçados na janela tentando apartar algo. Ouço gritos por todos os prédios vizinhos pedindo desesperadamente que um casal parasse de esmurrar um rapaz.
Primeira impressão: meio desajeitada, ainda de toalha, peguei meus óculos e fui conferir da janela. Encontrei a seguinte cena: uma mulher ensanguentada, um homem descontrolado, um menino desnorteado e três carros batidos - sendo que um deles com a frente destruída. Num primeiro momento a mulher me pareceu a vítima, estava inconformada com o acidente e batia no jovem sempre que podia e contando com a ajuda de seu marido - portador do terceiro carro - para tal. O menino não reagia em nenhum momento, me levando a pensar que o carro mais amassado - e que fechou os outros dois - era dele e, portanto, aceitava a surra da mulher e seu marido, sem revidar, numa espécie de confissão e culpa. Além do que a loira gritava "ele me fechou, vou matar esse moleque" - logo, o carro destruído, que fechava os outros dois, pertencia ao rapaz desnorteado e provavelmente embriagado. Certo?
Não fosse minha mãe descer, junto ao meu irmão, para levar água para a pobre moça ensanguentada, eu jamais saberia o que havia de fato acontecido e não estaria tão indignada com a atitude da polícia que deveria "nos servir".
O carro prata, destruído e que fecha os outros dois, na verdade, pertence à mulher que batia no rapaz. O carro preto, encurralado, é do menino que apanhou como um delinquente. O carro amarelo, que também bateu no do rapaz, a fim de cercá-lo, pertence ao marido. A nítida fechada que ela deu no moço foi seguida de agressões - o marido desceu do terceiro carro, tirou o jovem que já estava encurralado e bateu no menino, com ajuda da esposa, até o bairro inteiro mandá-los parar. Alguns poucos tiveram coragem de sair de suas casas para apartar a briga - e foram também agredidos pelo casal.
Depois de me situar melhor, vi a mulher dizer que era da polícia, assim como seu marido, e que pegaria a arma que tinha em seu carro para matar "atirar no meio da cara dele". O que se seguiu foram atos incompreensíveis de agressão aliados à falta de posicionamento dos policiais ali presentes - há quem diga que viu a agressora dando "carteirada" e que sua influência seria o motivo de ter sido tão 'beneficiada'.
A mulher estava transtornada e mal conseguia manter-se em pé. Ao oferecer um copo d'água ao rapaz, sentado na calçada, participei de mais uma cena de brutalidade gratuita.
Perguntei ao rapaz: "bebeu água?" e fui surpreendida pela mulher, que o segurou pelos cabelos e o socou enquanto perguntava "tomou aguinha, é, filho da puta?". Daí em diante pessoas se envolveram para tirá-la de lá, junto com seu marido, visto que os dois - descontrolados - estavam agredindo qualquer pessoa que não estivesse de farda.
Enquanto levava o rapaz para a portaria do meu prédio, onde esta senhora não poderia alcançá-lo, me veio à mente: como três viaturas da polícia não conseguiram e sequer tentaram impedir que uma mulher tão alterada chegasse àquele menino? Por que a polícia não segurou o casal e, sim, os moradores do bairro?
Como num passe de (trágica) mágica, poucos minutos depois, o marido havia simplesmente sumido, sem que a polícia se desse conta, entrando em um outro veículo e sabe-se lá para onde foi. Passado algum tempo e muitos gritos embriagados depois, a agressora saiu cambaleando pela rua em direção ao seu apartamento, SOZINHA. Sem nenhum acompanhamento policial e sem prestar satisfações.
Indignada e enojada com as cenas que presenciei, só me restou uma opção: gravar o que conseguia daquele absurdo para, no mínimo, servir de provas a favor da vítima evidente. Eis que um tenente me indaga, dizendo que eu não tenho permissão para filmá-lo e ressaltando, de maneira grosseira e em tom de ameaça, que seria melhor eu parar. Não parei.
Ao contrário, perguntei aos policiais porque o casal saiu impune, porque ela não foi algemada, porque ela não foi submetida ao bafômetro. Todas minhas questões ficaram sem resposta. A partir de então percebi que os policiais me olhavam nos olhos com firmeza, mas não respondiam às minhas perguntas. Entendi, então, que uma menina de 20 anos não pode esperar fazer justiça com um iPhone quando lida com pessoas que fazem justiça com as próprias mãos.
Uma vizinha acionou a RedeTV! logo que percebeu o confuso panorama que se configurava. Assim que o carro de reportagem chegou fomos acompanhar. Eles queriam filmar o rapaz - único integrante a permanecer no local - e eu fui perguntar se ele se sentia confortável para gravar uma entrevista (imaginei que não, por isso fui antes do repórter). O menino me respondeu o esperado, que preferia não se pronunciar, mas o tenente fez questão de me responder (ah, agora ele estava prestando um serviço!): "deixa a gente fazer nosso serviço que depois você faz sua chacrinha", gritou.
Desde o começo, os moradores presentes, estarrecidos diante daquele cena dantesca, gritavam, esperando justiça, crentes que os malfeitores sairiam algemados e todos dormiriam com a sensação de papel cumprido. Porém, depois das supracitadas atrocidades que foram cometidas sem o menor pudor, o debate entre os vizinhos desenrolou-se de maneira quieta e reservada, quase marginalmente, e a opinião era unânime: a causadora tinha "costas quentes". Como agir frente à uma policia que vê as cenas relatadas, se depara com a indignação da população e cruza os braços? Temer, é o que nos resta fazer.
Termino meu relato com a impressão triste e desmotivadora de que não há justiça na minha cidade, onde um menino pode ser agredido publicamente, em frente às autoridades, e os agressores conseguem ir para casa impunes, caminhando tranquilamente pela rua cujo trânsito acabaram de interromper.
Caroline Cabral
Estudante de Jornalismo.
Esse relato foi postado por volta das 5h da manhã, do dia 30 de maio de 2012.
Link no facebook:
http://www.facebook.com/photo.php?fbid=10150854472257756&set=p.10150854472257756&type=1O que me chamou a atenção foram as histórias distorcidas que surgiram na mídia.
Segue abaixo os links:
Nesses jornais, temos uma versão diferente do relato:
http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2012/05/briga-de-transito-deixa-quatro-feridos-apos-acidente-em-sp.html30/05/2012 09h32 - Atualizado em 30/05/2012 12h39
Briga de trânsito deixa quatro feridos após acidente em SP
Colisão ocorreu na Chácara Klabin, na Zona Sul da capital paulista.
Uma policial civil de 29 anos passou por cirurgia e está em UTI.
Quatro pessoas ficaram feridas após um acidente de trânsito seguido de briga entre motoristas na Zona Sul de São Paulo. A confusão ocorreu na noite desta terça-feira (29).
De acordo com o relato de testemunhas, um casal seguia pela Avenida Prefeito Fábio Prado, na Chácara Klabin. Eles estavam em carros separados. A mulher, que é policial civil, dirigia um SUV prata. O marido seguia em um Fiat Uno amarelo. Segundo a polícia, um rapaz de 22 anos dirigia um Citroen C3 preto e buzinou para pedir ultrapassagem.
A versão registrada a partir do relato de testemunhas aponta que a policial civil perdeu o controle do SUV e acabou fechando o motorista do carro preto ao abrir caminho para ultrapassagem.
Segundo o registro policial, o rapaz de 22 anos teria ultrapassado o carro da policial e freado bem à frente. Após a frenagem brusca, a policial civil tentou impedir a fuga do jovem e chegou a bater em um carro que estava parado.
Na confusão, o três carros acabaram se acidentando e ficaram atravessados na via. Após o acidente, os motoristas se envolveram em uma briga e todos foram levados para hospitais da região.
Segundo boletim médico divulgado pelo Hospital Sepaco, na Vila Mariana, a policial civil de 29 anos deu entrada na instituição com choque hemorrágico por ruptura do estômago. Ela teve que passar por medidas emergenciais e por uma cirurgia.
O hospital informou que a policial estava em recuperação na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) na manhã desta quarta. Seu quadro é considerado estável.
http://www.estadao.com.br/noticias/cidades,policial-fica-ferida-em-briga-de-transito-seguida-de-acidente-na-chacara-klabin,879873,0.htmPublicado no dia 30 de maio de 2012 | 4h 48
Policial fica ferida em briga de trânsito seguida de acidente na Chácara Klabin
Cada um em seu carro, vítima e o marido voltavam para casa após deixarem um centro espírita
SÃO PAULO - Um médico, ao volante de um Fiat Uno verde, a esposa, uma policial civil, em um Hyundai Santa Fé prata, e outras duas pessoas, o motorista de um Citroën preto e o pai dele, envolveram-se, no final da noite de terça-feira, 29, em uma discussão de trânsito seguida de acidente na Avenida Prefeito Fábio Prado, na Chácara Klabin, região da Vila Mariana, na zona sul da capital paulista.
O casal que voltava para casa e havia acabado de deixar a unidade I do Nucleo Espiritual Assistencial Bezerra de Menezes, localizado na mesma avenida, foi importunado pelo rapaz de 22 anos que dirigia o Citroën. Manobras bruscas, um querendo ultrapassar o outro e xingamentos de ambos os lados terminaram com a policial perdendendo o controle do carro e atingindo um Ford Ká que estava estacionado. Uma testemunha, da sacada do apartamento onde mora, viu tudo e posteriomente relatou à polícia que a briga se estendeu para fora dos veículos.
O pai do rapaz chegou depois ao local do acidente e começou a agredir a policial, mas também foi agredido pelo médico. Policiais militares de uma base próxima chegaram rapidamente e acalmaram os ânimos. A policial civil ficou ferida durante o acidente e chegou a desmaiar a caminho do Hospital Sepaco. Os outros envolvidos na briga também ficaram feridos, mas sem gravidade. O caso foi encaminhado para o 8º Distrito Policial (Brás/Belém), onde a testemunha iria prestar depoimento.
E nesse, o relato bateu significativamente:
http://noticias.r7.com/sao-paulo/noticias/discussao-de-transito-termina-em-acidente-na-zona-sul-de-sp-20120530.htmlpublicado em 30/05/2012 às 10h40
Fica aqui mais um testemunho de que não se pode confiar em tudo o que se vê, independente da fonte.
Achei curioso que, no Estadão, eles não foram atrás das testemunhas para apurar da melhor maneiro possível sobre o caso, enquanto no G1 eles publicaram "erroneamente" a notícia mesmo sendo o último a divulgá-la.
Gostaria de saber melhor, da opinião dos demais spellianos, qual seria a medida que deveria ser tomada num caso desses. Adianta só divulgar a informação? Teria alguma medida que poderia e deveria ser tomada, tanto no caso da mídia, das testemunhas e das vítimas?
Apesar do melodrama do relato, acabou sendo a fonte mais completa de informações disponíveis para o caso. Como mudar isso na mídia?