Um pouco sobre tudo o que vejo
Atualmente, vejo muitas pessoas divulgando diversas informações “verdadeiras”, do mesmo modo que a Mídia sempre fez. Acho curioso a maioria das pessoas aceitar apenas uma delas, sem se dar ao trabalho de refletir e concluir a própria realidade. Afinal de contas, é tudo uma questão de percepção – uma pessoa daltônica pode não ver que uma calça marrom na verdade é verde. Mas isso invalida totalmente a verdade daquela pessoa? A calça deixa de ser uma calça?
Esses dias vi uma reportagem sobre uma mulher que enxergava mais tons de cores que as demais pessoas. À pouco tempo, diversos testes de IQ são feitos e inventados para determinar o potencial de uma pessoa. Mas até que ponto isso realmente será uma verdade?
Então vejo diversas pessoas falando sobre “N” coisas acontecendo pelo país, cada um com a sua verdade. Todos nessa gigante brincadeira de Telefone sem fio. Quem brincou sabe como é – basta alguém ouvir uma coisinha diferente ou resolver criar baderna que toda a informação repassada se altera. Alguns se agarram fielmente à versão ouvida. Outros só querem causar mesmo, ver se algo torna suas vidas menos preto e branco.
O engraçado nisso tudo é ver a guerra acontecer. Uns xingam os que passaram a informação errada. Outros creem tanto na própria percepção que é capaz até de partir para a agressão física. Curioso que a maioria abomina a agressão física, e desconsidera a mental – sendo essa a que causa maiores danos, muitas vezes.
A minha verdade atual pode estar obtusa para alguns e clara para outros. Então vamos aos fatos como vos enxergo, já que qualquer outra abordagem pode invalidar o raciocínio, assim como em uma brincadeira de Telefone sem fio:
Sobre as manifestações:
Nem sempre as coisas dão certo do modo que queremos. Isso é um fato. É impossível agradar a todos, e tentar fazer isso pode te levar à ruína. Muitas manifestações são feitas pelas pessoas que buscam não só os interesses de todos, mas principalmente os próprios interesses. Como exemplo, temos a marcha à favor da maconha, das minorias etc. E provavelmente é por isso que nem sempre elas dão o resultado esperado.
O problema de tais manifestações não está necessariamente no que se pede, mas como se pede. Lembro de quando um grupo que era contra a manifestação GLS resolveu se manifestar à favor desse preconceito. O curioso não foi a ideia um tanto “absurda”. O curioso foi a reação de quem era contra. Pedir por direitos é uma via de duas mãos, e se uma pessoa quer ter direitos, tem que estar preparada para receber críticas contra o que se pede - o porquê de as coisas não deverem ser feitas dessa forma. E no caso, por mais que tais manifestantes tenham exercido um direito deles, por mais absurdo que seja, receberam uma represália até mais forte do que as demais passeatas. Então entendam – se você está disposto a impedir o pedido de direito do indivíduo, porque não deveriam impedir o seu também? Lembre-se que cada um se basea na própria realidade – isso não justifica você negar e agredir a realidade do outro, por mais obtusa que ela seja. Ou você realmente pretende agredir um cego que não vê o mundo da mesma forma que você?
Outro ponto que é importante ressaltar de tais manifestações é essa crítica ambulante às forças policiais. Me lembro de um ocorrido em torno do boneco da copa. Estavam fazendo um protesto lá, e os policiais cercaram o boneco da copa à pedido da chefia. Até onde eu sei, a ordem dada à eles é para que protejam algo e que não deixem que o protesto saia de controle. Porém, nesse caso em específico, notei algo interessante. Os policiais estavam lá, na deles. Não partiram para cima. Eram como cachorros que guardam o quintal de uma casa. Mas claro, nem tudo são rosas e flores. Estava tudo tranquilo, até o momento em que alguém resolveu pular o portão para bater na porta, esperando que o cachorro ficasse quietinho como o dono ordenara. O resultado não poderia ser pior: os que pularam o portão foram pegos. Logo em seguida, quem estava junto resolveu abrir o oprtão para ajudar o amigo. Resultado: o cachorro estava solto. Não que o policial seja malvado por ter agido como agiu. Muito pelo contrário – basta ver na natureza. Eles estavam cercados por manifestantes, uma quantidade muito maior do que a deles, sem saída. Não se mexe com um animal que está acuado. Não que o policial seja de fato um cachorro, mas quando alguém não tem nada a perder, a única saída É partir para cima. Basta procurar por vídeos no Youtube mesmo para encontrar um rato afugentando mais de um gato sozinho. Logo, se você entra na casa do vizinho para pegar a sua bola e é mordido pelo cachorro dele, não deveria pedir pela morte do cachorro. Lembre-se das boas maneiras! Toque a campainha. Se ele não atender, bata palma, ligue para ele. Mas lembre-se antes de agir precipitadamente: você tem alternativas! E invadir a casa dele não é a melhor delas.
Lembro também de casos como o da USP, em que alguns estudantes criaram baderna (sim, baderna), por conta da presença policial no campus da universidade. Sim, eu sei que a causa PODE ter sido justa – ouvi inúmeros relatos de abusos da polícia no local. Assim como ouvi que a segurança do local melhorou significativamente nesse período. Porém, o governo dispõe ferramentas para lidar com essas coisas ALÉM de uma revolta. Com tantas bandeiras de partido político no meio da revolta, não teve como não crer que era alguma tentativa de impor guela abaixo dos demais as próprias vontades. Parece até piada: alguém que pede o fim de uma “ditadura” impor os próprios ideais como os verdadeiros e únicos a serem seguidos. Interessante também foi ver estudantes mostrarem pelos meios de comunicação que nem todos apoiavam a baderna – não que fosse uma cegueira por parte deles, mas principalmente por ressaltarem o modo como a coisa toda estava sendo feita.
E depois de tantas explicações, chego na parte que me levou a escrever isso - a atual manifestação da passagem de ônibus. Sim, eu sei que não é só isso. Porém, vale a pena refletir um pouco no que fez as coisas chegarem a tal ponto, e parar um pouco de culpar os policiais. Se a polícia é violenta, em parte é porque quem controla a polícia quer que ela seja assim. Quem controla a polícia é o governo, escolhido por nós mesmos. Não reprimo a minha culpa e não darei desculpas por isso – exerci o meu direito de voto, e fico cabisbaixo por não ter sido o suficiente.
Mas claro, ainda não é só isso. O povo clama por saúde! O povo clama por educação! O povo clama pela baixa da inflação! O povo clama por qualidade do transporte! O povo clama por tanta coisa, que, numa comparação boçal, às vezes me vejo como uma das células de uma criança. Provavelmente faço parte do pé, e vejo as células da boca gritarem para o Papai Governo por mais presentes. O papai governo primeiro ignora. A gritaria não para até que o Sr. G. olha para a Mamãe Justiça. Ela apenas o encara com uma cara feia de “Ué, é seu filho! Você quem gastou tudo em pinga, agora te vira!”. Claro que ele fica ainda mais irritado, e o tapa soa por todos os nervos. Até mesmo eu, uma célula do pé, sinto uma pontada de dor. As células dos olhos lacrimejam. A boca berra mais alto. A mãe apenas segura um segundo tapa.
A nossa sorte é que, apesar de tudo, o Sr. G. não é nosso pai. A Sra. J. também não é nossa mãe. A nossa vantagem é que podemos escolher, mas as inúmeras reinvidicações que vejo me dão a impressão que se deseja um super herói no lugar do Sr. G. - Um ser extraordinário, que solte fogo pelos olhos, cague dinheiro, se alimente de grama, terra e areia e que, ainda por cima, seja tão responsável e honesto quanto a Srta. J. No mínimo é para rir com isso. É o que ganhamos por exigir essa postura paternalista do governo – que na verdade, vem de nós mesmos, eternamente em busca de alguém para cuidar de nós.
Agora o meu momento clichê:
O meu medo maior não é as coisas mudarem. O meu medo maior é as coisas NÃO mudarem. O poder corrompe as pessoas. E um dos maiores problemas nossos é que colocamos MUITO poder na mão de poucos. É como se fôssemos a terra de uma estufa. Escolhemos quem cuidará de nós e... só. Deixamos para os encarregados escolherem o que vão plantar, como vão regar, quando podar, por quanto tempo etc. Mas isso não é porque eles podem, mas sim porque nós permitimos. Só queremos criar nossas plantas para dar mais frutos.
Uma boa administração poderia resolver? Não sei. Basta ver os demais países em crise que - por mais evoluídos, saudáveis e educados - não escaparam. “Ah, mas isso é culpa do sistema!”. Será mesmo? Alguns dos governos do primeiro mundo são mais “liberais” (prefiro adotar a palavra liberal do que Capitalista, já que a palavra Capitalista se remete às críticas de Marx à um sistema arcaico em que o foco era o lucro independente das consequencias, e o controle que tais lucros proporcionavam e blablablá de sempre), e sofreram com a crise. Outros, mesmo “conservadores”, sofreram até mais. Talvez seja um dos problemas de ter poder: Um pai sempre vai tentar fazer o melhor pelos filhos, e às vezes, trabalhar demais prejudica a criação – por mais dinheiro que acumule. Do mesmo modo, a falta de dinheiro em casa pode resultar algo ainda pior. É difícil acertar a dose, talvez porque não exista uma dose certa em si. Nenhuma fórmula mágica que resolva todos os nossos problemas de uma só vez.
Me orgulho em ver que esse protesto que está rolando está feito de uma maneira ordenada. Não se vê bandeiras de partidos assumindo a posição. As pessoas andam bem informadas, e por mais cômico que possa parecer, até um manual de protesto está sendo repassado pelos participantes. Com dicas do que pode e deve ser feito caso não participe diretamente do protesto. Dicas de como agir, pelo que pedir e como pedir. Melhor ainda: tudo isso sem a ajuda direta da mídia como a conhecemos. Um dos fatores diferenciais desse protesto para os demais é que a tecnologia está sendo usada à nosso favor, por nós mesmos. É algo singular que vale a pena ser acompanhado. Mas isso não tira a pulga atrás de minha orelha. Ainda temo pelos manifestantes que se inspiram em símbolos como o Che Guevara. Ainda temo pelos vândalos que podem agir de maneira precipitada. Ainda temo pelos alto falantes que berram por presentes um tanto absurdo. Pessoas que acreditam que só é possível conseguir algo com conflito direto, ignorando a campainha e o portão.
Às vezes, tem que lembrar da situação atual do Brasil. Como chegamos aonde chegamos? Porque estamos tão insatisfeitos? Quem poderá nos ajudar? Será mesmo que o Chapolin Colorado seria o suficiente? Será que utilizar um exército resolveria? Uma faxina geral? E quem tomaria conta da nova casa?
Dizem que o gigante acordou. Não deixa de ser hilário ver como isso ocorreu – depois de chutes, socos e facadas, uma gota de R$0,20 centavos numa das maiores cidades que fez ele se levantar. Não tem como não comparar com outra coisa que me vem à mente: é como se todos assistissem algumas pessoas colocarem crianças dentro de um carro, uma a uma. “O nome dessa criança é educação!”, anunciaram ao deixar a primeira entrar. “Essa é a saúde!”, entrou a segunda. “O nome dessa é estabilidade econômica!”, entrou a terceira. “Essa é a infraestrutura!”, entrou a quarta. A placa do carro possuia seis letras: FUTURO. Colocaram todas elas lá dentro, e anunciaram: “Lá está o penhasco, e é para lá que elas vão nesse carro sem freios!”. Nós apenas olhamos, sem dar valor. Alguns comentaram, outros cochicharam. “Será que isso vai dar certo? O que eles planejam fazer?”. Poucos saíram de perto para não ver tudo aquilo. Por fim, liberaram a corrente que a segurava, e lá estava o carro descendo rumo a um penhasco.
O mais engraçado foi que, enquanto o carro já estava no meio do caminho, alguém espirrou. Um simples espirro. “Nossa, cade a saúde? Alguém viu a educação? Nossa, elas estão no carro! Alguém segure o FUTURO!”. E agora todos querem sair correndo atrás, para ver o que conseguem salvar. Alguns tentam segurar o carro, alguns pulam na frente, mas ele já pegou uma velocidade considerável. Meu medo é quem ficará com os créditos no final dessa novela. Quem conseguir, terá o controle de um gigante em mãos. Não sei nem se será possível tirar todos do carro. O carro, Futuro, provavelmente não será salvo.
Então por favor, manifestantes, pensem bem.
- Primeiro: O que se pede? Isso, parece, já foi respondido.
- Segundo: Como se pede? Também ficou significativamente claro.
- Terceiro: Para que se pede? Aqui fica a minha preocupação.
Não adianta vocês pedirem uma reforma e darem o mesmo poder – pior: até mais poder – para um pequeno grupo de indivíduos. Lembre-se que não é porque agora você está fazendo algo que isso te torna melhor do que quem tem receio de aderir à verdade de terceiros. Espero que cada um que leu até aqui, repense sobre as próprias verdades que tem na vida. Em todas as possíveis: seja família, amigos, conhecidos, trabalho, amores, futuro, valores, ideais... e que defina por conta própria qual é a verdade a se acreditar. Pelo que lutar e que rumo seguir.