Não é só uma baderna das viuvetes de 68 (embora elas existam e a ideia de ocupar a administração da FFLCH tenha partido delas).
A discussão não é nova, o campus realmente tem pontos críticos em que a segurança de qualquer um, não só dos estudantes, está ameaçada, como a praça dos bancos, a mal iluminada rua do matão, etc. Em 2002-2003 houve uma onda de estupros inclusive, e as reivindicações do movimento estudantil, que nem eram tão novas naquela época, eram mais iluminação nos pontos críticos, uma guarda universitária mais bem treinada, concursada, integrada às necessecidades e especificidades da comunidade que frequenta a Universidade, abertura do Campus para maior contato com a sociedade em volta, etc.
Claro, nada disso foi atendido, e a precária guarda universitária existente foi sendo sucateada a ponto de não servir nem pra socorrer um aluno passando mal (gostaria que essa frase fosse uma das minhas hipérboles, mas não é.
http://aceveda.com.br/blog/?p=15163 http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/sp/morte+de+aluno+de+filosofia+da+usp+vira+suspeita/n1237852529475.html).
De 2003 pra cá a violência no campus aumentou -- mas não aumentou como um fator isolado; aumentou porque a violência na cidade de São Paulo aumentou. Até demorou um pouco de perceberem que o campus da USP era um lugar de circulação de gente com algum poder aquisitivo e com falhas na segurança. Aí sim as reinvindicações do movimento estudantil passaram a ser levadas a sério, certo?
Errado, prevaleceu a mentalidade da solução pra agora, da Universidade como lugar especial que merece um destacamento do efetivo policial do estado pra proteger os alunos. E quem não quer a polícia lá dentro é maconheiro safado e comunista viuvete de 68, o câncer que está destruindo a USP.
Pra quem conhece a PM, sabe que ela não está lá pra isso, não é assim que a polícia funciona e não é pra isso que ela serve. Se os maconheiros reclamam, não é porque a PM vai reprimir o tráfico, é porque no máximo, vai aumentar o preço da droga. Vocês conhecem as leis de mercado, imposto sobre o transporte do produto quase invariavelmente recai sobre o consumidor, que é o final da cadeia. Claro, eu estou chamando de imposto o cala-boca que os policiais recebem pra não mexerem na boca, não pararem os aviões, etc. Quanto às outras ocorrências criminosas, as que preocupavam os alunos, a impressão é de que ela pelo menos diminuiu, certo? Afinal, foram registrados menos roubos e furtos dentro do campus. E claro, tomando-se o campus como unidade isolada, é muito fácil mascarar a realidade através de estatísticas: esses crimes que chamam atenção e são mais fáceis de serem quantificados foram empurrados para o entorno do campus -- cito os casos de assalto no caminho da estação da CPTM até a USP e a aluna que foi baleada no rosto no caminho entre o portão 1 e a Raposo Tavares.
Mas, apesar dos pesares, ao menos a criminalidade dentre do Campus diminui, certo? Nopes, não é pra isso que a polícia serve. As ocorrências dentro do campus foram substituídas por outras mais difíceis de serem quantificadas, como as extorsões feitas sobre os organizadores de diferentes eventos -- especialmente festas -- dentro da USP. Os policiais saem com o da cervejinha, com umas garrafas de uisque e energético, e deixam a festa correr em paz, fazem vista grossa ao consumo de substâncias ilícitas, etc.
Então que diabos a polícia tava fazendo na FFLCH na quinta feira, e pra que ela está na USP? Bom, o atual reitor tem passado por uma crise de administração. Ele já assumiu o posto com a legitimidade questionada, na verdade, deixe-me explicar para vocês. A indicação ao cargo de reitoria na USP ainda se dá pelos procedimentos do regime militar. No primeiro turno, há uma pequena eleição que conta com votos dos representantes dos estudantes, dos funcionários e dos professores para dar uma impressão de processo democrático, em que vários candidatos são indicados. Depois, esses candidatos passam pelos votos dos setores da burocracia universitária, e é feita uma lista com três nomes, que aparecem em ordem do mais votado para o menos votado. O governador do estado então aponta um desses três indicados pela burocracia universitária como o novo reitor. A última vez que o governo do estada apontou alguém que não foi o primeiro da lista havia sido no governo Maluf. É fácil de ver porque, na verdade: como o segundo turno das eleições é controlado pela burocracia da universidade, é muito difícil que o mais votado não seja alguém que esteja de acordo com os interesses do governo do estado. Entretanto, foi o que aconteceu durante a eleição em que o atual reitor era candidato: nem a burocracia universitária gostava dele, e ele terminou as eleições em segundo lugar. O então governador do estado, José Serra, apontou-o como reitor memso assim, já que pela lei, ele pode. E ele foi apontado por ser o cara linha-dura, por ter feito uma campanha prometendo colocar os grevistas e baderneiros em sei devido lugar. E ele vem cumprindo isso até o presente momento: em 2009, sob suas ordens, a polícia transformou a praça do relógio e a Luciano Gualberto em praça de guerra pra reprimir (eu sei que vocês provavelmente não gostam de ouvir/ler esse termo, mas não tem outro, mal ae. Foi repressão à la 1968) a grave dos funcionários e parte do movimento estudantil que a apoaiva.
Enfim, como eu dizia, o reitor passa por uma crise em sua administração. A Faculdade de Direito, de onde ele foi diretor, acaba de declará-lo
persona non grata. Vocês sabem o quanto é difícil irritar ao mesmo tempo alunos, funcionários e professores importantes da Faculdade de Direito do Largo São Francisco para que uma congreção oficial vote seu nome como
persona non grata? Eu pensava que era impossível, sinceramente.
Então é isso que a PM tá fazendo na USP: é pra lembrar pra quem importa porque ele está lá, pra mostrar pra quem importa que ele está fazendo o que ele deveria fazer. E dados os relatos -- alunos (alguns que eu conheço) dizem que os policiais estavam lá desde a hora do almoço, revistando pessoas, abordando estudantes... eu decreto que era provocação, e que a ultra-esquerda caiu na provocação justamente como o reitor queria e sabia que ela cairia.
Dona Edite:
P.S.: A matéria está equivocada (ou os policiais estão. Conhecendo jornalistas e PMs, é muito difícil chutar que fez a cagada). Você pode ser autuado por porte de maconha, mas não por fumar. Coisas que só uma lei mal-escrita faz por você (era assim com a antiga, continua com a nova): portar é crime (ou contravenão), mas como não tem nada escrito sobre fumar, fumar não é nada. Claro, se você conseguir provar que tava fumando sem portar, ensina aí pra galera. Mas, fumar, em tese pode.