Essa semana saiu nos estados a edição #60 de Escalpo (título original: Scalped), número final desta que é uma das séries mais aclamadas da década. Nada mais justo que aproveitar o momento para recomendar essa série magnífica para os colegas spellianos.
Resenha: Escalpo é uma história adulta, mas não por seguir alguma fórmula de "matança + palavrões + sexo". Não que esses elementos não existam em Escalpo. Muito pelo contrário; eles abundam. Mas não de forma gratuita: certas cenas de sexo conseguem passar muito bem a aflição de personagens que sabem que estão na merda e cujo único escapismo é através de sexo e drogas. Quando há mortes, você não verá vísceras voando para todo lado. Não, Escalpo é adulto por tratar da falta de oportunidades, e como elas podem levar as pessoas ao fundo do poço, e por não ter vilões completamente maus: Corvo Vermelho mata qualquer um que entrar em seu caminho, e ele não se arrepende de nada do que fez. Mas isso não quer dizer que ele não fique com a consciência pesada. No arco "A fúria em suas entranhas" (escalpo #21 a escalpo #24) vemos Corvo Vermelho sendo responsável pelo "saquinho de alma" de uma amiga (segundo a tradição lakota é um saco que contém a alma de alguém que morreu. O responsável pelo saquinho deve levar uma vida harmoniosa para purificar a alma do falecido e prepará-lo para voltar ao Grande Espírito --Wakan Tanka--). Corvo Vermelho faz o possível para não desapontar sua amiga (ou sua avó, que lhe deu tal responsabilidade), mas no fundo ele faz o que faz por achar que é o melhor para a reserva (infelizmente, a maioria do que ele faz não é muito agradável).
Por falar em "tradição lakota", a ambientação de Escalpo é digna de nota. A reserva Rosa da Pradaria é uma reserva
Oglala Lakota, e muitas das tradições, crenças e história desta tribo são retratadas na HQ. Muitas falas (principalmente orações) são na língua lakota. Esta reserva em particular (fictícia) é tomada pela corrupção (principalmente por causa do chefão Corvo Vermelho), mas fora isso podemos ver claramente a imagem de uma sociedade deixada de lado pelo "mundo branco". A arte e colorização reforçam bastante essa imagem, abusando de cores quentes e imagens da paisagem desértica. O alto uso de sombras também contribui para o visual noir.
Quanto aos personagens, basta dizer que "todo mundo tem seus problemas". Seus passados são revelados de pouco em pouco, via flashbacks, e mesmo personagens secundários tem um alto grau de profundidade (vide a excelente história "Queda D'Água", em Escalpo #18). Já o protagonista é o personagem principal mais cheio de problemas que eu já vi (principalmente por causa de sua mãe), e é uma espécie de "cão raivoso".
Aqui no Brasil, Escalpo é publicada pela Panini na revista mensal Vertigo. Estamos ainda no número 33 por aqui, então ainda há bastante água para rolar. Números antigos podem ser adquiridos no site da editora.
Nota: Todas as imagens de quadrinhos foram retiradas do site da Panini.Sim, eu sou fanboy. E olha que eu nem sou muito fã do gênero.