Acho engraçado que tava uma loucura conversar sobre isso no chat, e agora que virou tópico eu não sei o que abordar, hehe.
Mas bem, eu me interesso muito por gêneros narrativos e por narrativa em si, ultimamente pensando em trabalhar a sério com isso.
Gosto da abordagem do Campbell no sentido de que existem pontos em comuns entre muitas histórias em diversas civilizações, mas nesse campo ultimamente eu tenho pensado demais nos aspectos jungianos da coisa toda. Arquétipos, elementos culturais "genéticos" e coisa do tipo. Na verdade eu não tenho a referência pra isso, mas fiquei muito marcado por uma oficina sobre psicologia em jogos, que vi na faculdade, uma vez... o palestrante era um estudioso de Jung e usava muito o trabalho dele como base pra analisar histórias (puxando bastante pro esoterismo, é verdade), mas um dos conceitos me ficou muito na memória: a ideia de cultura e narrativa como sendo algo "genético".
Na verdade ele falava mais sobre inconsciente coletivo: não no aspecto místico de ~todos compartilhamos pensamentos~, mas o de que temos "instintos culturais" comuns em algum ancestral remoto, o que explicaria alguns padrões visuais, ritmos, associações e arquétipos surgirem em praticamente todas as culturas da terra.
Na verdade, parte 2, eu já me perdi completamente do que estava falando, eu acho, mas o que importa é: eu me interesso muito em ver como histórias podem ter ancestrais em comum, e em como elas se desenvolvem/modificam-se conforme se espalham temporal e espacialmente -- assim como idiomas, especialmente se for pensar no Proto-Indo-Europeu e em toda a festa babélica.
O que me leva a um livro que acabei de começar a ler, por causa da faculdade aqui, e já estou apaixonado:
Strange and Secret Peoples: Fairies and Victorian Counciousness, de Carole G. Silver. Ainda estou na introdução, na verdade, mas até agora a autora já esboçou um termo que era uma das coisas que eu estava procurando para inventar as minhas histórias:
evemerismo, o processo pelo qual personagens e eventos mitológicos/mágicos têm origem em coisas reais de algum passado remoto, e que foram transformadas pelo processo de telefone-sem-fioísmo. O oposto, imagino, também se encaixaria no termo ("puxar" coisas mitológicas e considerá-las fatos reais).
Aí o livro menciona um texto dos Grimm que agora estou curioso pra ler,
On the Nature of the Elves, que fala sobre a ideia de que a mitologia feérica europeia era toda conectada num passado pré-cristão, e que aos poucos foi sendo separada e perdendo os laços mais claros...
Continuo associando isso ao processo de sedimentação de diferentes idiomas e de como isso foi possivelmente separando as histórias. Deve ser por isso que gosto tanto de ler sobre as origens das duas coisas.