Como alguém relativamente alheio ao cenário de RPG Nacional, quais são as editoras daqui que tem lançamentos mais ou menos regulares? Eu só tenho em mente duas, a Jambô e a Redbox. Existe alguma outra?
Primeiro você tem que definir o que quer dizer por "regular". Com certeza, o "regular" do mercado americano é possivelmente diferente de um "regular" do Brasil. Na minha opinião, qualquer editora brasileira que lance mais de três produtos ligados ao RPG num ano, poderia se classificada como tal. Dito isto, além destas que você mencionou, tem a Devir (embora mais na linha de promessas do que realmente algo concreto), a Retropunk (se você considerar as publicações em formato digital). A New Order, em 2015, já vem contando Yggdrasill, L5A e provavelmente 13E (acrônimo do 13th Age em português).
Bom, a ideia do tópico era ser mais abrangente com a ideia de editora de RPG no Brasil. Mas como o foco seguiu pro financiamento coletivo -- talvez por minha causa mesmo --, vamos a ele.
Sim, eu penso que a maioria dos proponentes de financiamentos coletivos no Brasil não têm ideia dos custos totais de um produto de RPG (livro principalmente) no nosso país. É um mercado extremamente volátil, porque calcado em royalties e em moeda estrangeira. Um dólar em disparada como nos últimos tempos afeta toda a cadeia produtiva: dos direitos do RPG até o papel usado para imprimi-lo. É complicado. Imagino que a maioria dos projetos já saiam no prejuízo, considerando o tempo entre financiamento e produção efetiva do produto.
Por outro lado, existe essa ideia por parte de muito editor de que financiamento coletivo é fonte de renda, isto é, o que você arrecadou é diretamente o seu "lucro". FC não tem lucro, cara! (Ou algo digno desse nome, embora existam exceções: um
Exploding Kittens e seu mais de 8 milhões de dólares deve ter dado um retorno razoável a seus idealizadores). Mas a realidade é bem diferente disso.
Este bom artigo sobre a economia dos FCs mostra como a rentabilidade de um projeto para seu idealizador chega a ser menos de 10% do valor arrecadado. Mas, enfim, a gente pode abrir outro tópico para discutir FCs.
Parece-me que o que vem acontecendo no mercado de RPG do Brasil, proporcionado pela existência de FCs, é algo semelhante ao circuito de shows realizados no país nos últimos anos: aposta em grandes "marcas" com histórico consolidado no mercado. Quando o cenário de RPG no Brasil girava praticamente em torno da Devir (até meados dos anos 2000, antes do boom da OGL d20), quem imaginaria um L5A publicado em português, por exemplo? (Tá, isso tem que se concretizar ainda, mas as apostas são boas). A questão é: após esse filão de "grandes jogos", o que sobra? Suplementos? (Isso se eles forem rentáveis). E depois?
Daí que veio meu sentimento de que a galera não tá sabendo interpretar o que é ser uma editora de RPG nas terras tupiniquins. Legal, cara, você lançou três RPGs diferentes num ano. Conseguiu cobrir os custos? Ótimo! E agora, vai dar suporte às três linhas? Como? E por aí vai.
Vejam, não considero um problema o cara ter como plano uma vida "útil" de 5 anos para sua editora. Você veio, publicou seu RPG, lucrou (ou não) com isso, e segue a vida. Ótimo, ainda mais porque esse processo partiu de um planejamento inicial. O problema é quando esse planejamento nem existe, e a editora fica lá se debatendo para sobreviver e, na maioria das vezes, arrasta seus donos numa espiral de dívidas e insatisfações. E levando consigo suas linhas de produtos (o que é ruim pro RPG, na minha opinião). O mercado comporta pequenas editoras, mas não é tão amador como no início dos anos 1980.