Autor Tópico: A Grécia Fantástica  (Lida 5699 vezes)

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Offline Roderick Usher

  • a.k.a. Heliot
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Re:A Grécia Fantástica
« Resposta #15 Online: Novembro 25, 2013, 05:17:03 pm »
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Sim. Digamos que após séculos de Interpretatio Romana e Cultura Pop, um cenário mais fiel às (várias e mutuamente contraditórias) fontes primárias da mitologia/história Grega Clássica seria irreconhecível como "grego" para muita gente.

Pois é, acho que é por isso que o autor modalizou a fala dele:

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There are four principles that an RPG should model in its rules if it wants to truly feel Greek

Não é uma questão de retomar os mitos de Elêusis nem explorar a civilização micênica na campanha, mas muitos elementos da cultura pop (alguns ligados ao heroísmo, o aspecto grego mais importante para um RPG, na minha opinião) repousam em princípios "verdadeiramente gregos". É só não embrulhar a tese de mestrado num sistema de RPG. :laugh:



Agora eu quero que você desenvolva seu pensamento sobre o coração das cartas... :hum:

Re:A Grécia Fantástica
« Resposta #16 Online: Novembro 25, 2013, 06:47:47 pm »
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Não é uma questão de retomar os mitos de Elêusis nem explorar a civilização micênica na campanha, mas muitos elementos da cultura pop (alguns ligados ao heroísmo, o aspecto grego mais importante para um RPG, na minha opinião) repousam em princípios "verdadeiramente gregos". É só não embrulhar a tese de mestrado num sistema de RPG.

Concordamos em quase tudo - o único ponto onde discordamos é que eu realmente não me incomodo se é verdadeiramente grego ou "verdadeiramente grego'. Buscar isso, seja em um RPG ou outra obra de ficção é uma grande perda de tempo, comparável a busca da "brasilidade". Simplesmente aceite as expectativas atuais quanto ao que é "grego" como verdadeiras e escreva sobre isso, não importando se Ares é o selvagem guerreiro que sempre é derrotado por Atena, o membro da tríade capitolina, defensor e guardião de Roma (Marte), o Arcanjo da Guerra ou aquele ruivo estranho que apanha do Kratos em God of War.

Offline Skar

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Re:A Grécia Fantástica
« Resposta #17 Online: Novembro 25, 2013, 08:23:08 pm »
Some ao fato que ano passado um amigo queria jogar um rpg na frécia antiga com a pegada dos livros do Rick  Riordan.

No final tenho que concordar com o Elfo. Até mesmo o feeling de um rpg grego vai depender do que a mesa entende por cultura grega.
The essentials for a productive discussion:
•    Tact: Be friendly, helpful, and cooperative.
••    Candor: Be frank and sincere.
•••    Intelligence: Think before you speak.
••••    Goodwill: Reasonable people can disagree.
•••••   Reception: Listen to what others are saying, not to what you think they're saying.

Offline Roderick Usher

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Re:A Grécia Fantástica
« Resposta #18 Online: Novembro 25, 2013, 09:19:02 pm »
Acaba sendo mesmo uma questão de gosto pessoal. Eu também acho que o problema de encontrar o "verdadeiro x", seja grego, brasileiro ou pomerano não passa de um questionamento estéril. Mas me sentiria mais confortável jogando num cenário que se esforçasse um pouco para ser historicamente preciso.

Bom, é claro que o grupo é quem vai decidir no final se isso é ou não relevante. Se der pra todo mundo se divertir, podem botar aliens hoplitas lutando contra Hitler que eu não tô nem aí.

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Some ao fato que ano passado um amigo queria jogar um rpg na frécia antiga com a pegada dos livros do Rick  Riordan.

Seguida de uma campanha na idade média, baseada na Demanda do Santo Fraal :macaco:

Offline Malena Mordekai

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Re:A Grécia Fantástica
« Resposta #19 Online: Novembro 30, 2013, 08:20:55 am »
Simplesmente aceite as expectativas atuais quanto ao que é "grego" como verdadeiras e escreva sobre isso, não importando se Ares é o selvagem guerreiro que sempre é derrotado por Atena, o membro da tríade capitolina, defensor e guardião de Roma (Marte), o Arcanjo da Guerra ou aquele ruivo estranho que apanha do Kratos em God of War.

Ou um deus de pestilência e morte, na Trilogia Tebana.

O problema é que pode ser que as expectativas mudem de acordo com os jogadores. Desde os que incorporam seus conhecimentos mais, digamos, acadêmicos, a elas, até aqueles que seletivamente descartam elementos gregos consensuais na cultura pop ("If those philosophers and boy lovers...").
« Última modificação: Novembro 30, 2013, 10:53:12 pm por publicano »
DEVORAR PARA DECIFRAR
DEVOUR TO DECIPHER

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interesses rpgísticos atuais: FATE, DnD 5e, GUMSHOE System, DnD 4e, Storytelling System (CoD), Powered by the Apocalypse, UNSAFE

Re:A Grécia Fantástica
« Resposta #20 Online: Dezembro 18, 2013, 03:05:18 pm »
Qual é o grau de fantástico que você quer para o seu cenário? Que os personagens já comecem num nível próximo ao épico e que já possam levar a cabo grandes feitos?

Ultimamente, justamente por causa das coisas que andei lendo, tomei um certo gostinho pelo "realismo fantástico". Acho que dá pra você conservar, ao mesmo tempo, o fantástico, e o realista.

Como?

Imagino que o contexto histórico deva ser realista: os valores, a tecnologia, o conhecimento sobre o mundo, a "religião". Claro, isso deve ser mantido na medida, pra que ninguém fique neurótico tentando apontar incongruências históricas. Mas, já que você está se dedicando a construir esse cenário, talvez seja o caso de dar um lida em um ou outro livrinho. Pra esse contexto eu recomendo "História Ilustrada da Grécia Antiga", do Paul Cartledge, da Editora Ediouro. Apesar de ser um nome bem parecido aos desses livros oportunistas, ele é muito bom, e bem acurado historicamente. Através dele você pode incorporar vários elementos da cultura helênica, pra dar mais cor local pra aventura: os costumes, as crenças, o funcionamento da sociedade. De qualquer forma, eu sou a favor de levar em conta tudo isso desde que haja um grau de flexibilidade, porque seria realmente impossível narrar e interpretar com uma precisão histórica total.

O outro que eu recomendo é o "Histórias", do Heródoto. É grande. Não precisa ler inteiro. Mas é interessante justamente pra você perceber a maneira com que os gregos enxergavam os outros povos, vizinhos, ou povos mais distantes. E acho que é na inscrição dessa memória coletiva dos gregos que você pode encontrar um elemento fantástico. Tem um livro do Paul Veyne que se chama "Acreditavam os Gregos em seus mitos?" Resumindo, a conclusão dele é de que os gregos acreditavam tanto quanto nós acreditamos no Papai Noel: num sentido mais pedagógico. Uma vez que os mitos estão sempre acontecendo (eles são as constelações, as estrelas que estão sempre no céu), eles envolvem uma temporalidade diferente. Acho que o fantástico pode ser explorado justamente aí: os personagens têm conhecimento dos deuses e dos heróis, mas a presença deles não é abundante no mundo, e pode até, ser duvidada. Então o fantástico aparece enquanto possibilidade e recurso narrativo. Acho que seria interessante que os personagens travassem contato com criaturas fantásticas, ou com heróis, ou com certos rituais e feitiçarias, mas de uma maneira bem dosada. Aliás, se eles mesmos fossem se tornando heróis ao longo da aventura seria ainda mais interessante.

Mas isso envolve outro problema: em que época você quer situar a sua história? A distinção "oficial" dos historiadores divide a Grécia em pelo menos 3 ou 4 fases. A "fase mítica" anterior a 1200 a.C (que não sabemos se existe de verdade, mas é a época sobre a qual falam os poetas, como Homero e Hesíodo, e quando pode ter acontecido a Guerra de Tróia), a "fase das trevas", que vai de 1200 a, se não me engano, 800 ou 600 a.C e que leva esse nome por conta esse nome por conta da escassez de documentos, e que remonta às raízes minóicas, a fase clássica, de 400 a.C, onde aparece a filosofia, e tudo o mais que a gente conhece, e a fase em seguida em que eles são dominados pelos macedônios. Acho que se você quer mais elementos fantásticos, deve inserir sua campanha na fase mítica. O interessante é que o mito das origens gregos também divide o tempo em várias fases, correspondentes aos metais. Acho que o ouro é o primeiro, depois vem o bronze, mas, resumindo, é um processo de "humanização", porque primeiro vêm os deuses, depois os heróis, depois os homens. Acho que talvez sua história se situasse entre os heróis e entre os homens. O problema é que aí você abriria mão de fazer referência aos eventos históricos, pra trabalhar mais com a mitologia. Acho que um imbricamento entre os dois seria o ideal.

Andei pensando aqui e acho que um bom esquema seria você trabalhar as ilhas, de maneira semelhante à que fez Homero na Odisseia. Acho que dá pra você considerar a enorme quantidade de ilhas ali no Mar Egeu como espaços para o mistério e o fantástico. Além de darem uma liberdade enorme, uma campanha que lida com ilhas pressupõe sempre movimento e ganchos fáceis.
« Última modificação: Dezembro 18, 2013, 03:08:07 pm por Lanzi »