Era a sua camisa. Com cabelos curtos, lisos e vermelhos. Olhos verdes penetrantes e um sorriso sugestivo indicaram uma porta no canto do aposento. A música tornara-se abafada, e seus movimentos estavam tão lentos quanto os meus, naquele ambiente que passava às pressas. Enquanto atrravessava o aposento em direção à porta, tive uma surpresa: lembranças de um jogo.
- Certeza que pretende jogar o seu cavalo aí?
- Claro, estou protegendo meu peão, e evitando que você avance com o seu bispo.
Entrei na porta, uma despensa um tanto apertada. Ao me virar, ela já fechava a porta. Seus olhos eram hipnotizantes, e a luz, mínima.
- Xeque!
- Merda, não tinha visto isso...
- Ninguém mandou mexer aí, agora já era o seu cavalo. Tem que aprender a prever meus movimentos, e não só basear-se nas suas defesas. Elas podem ser fracas e ineficientes, e você só perceberá no pior momento.
O bafo da bebida cedeu a um beijo suave. Foi sublime a sensação que me consumiu. Imaginei se ela sentira o mesmo enquanto a minha mente voava nas possibilidades.
- Pelo menos só perdi o meu cavalo...
- Cuidado com o próximo movimento.
Bianca era o seu nome. Já conversara com ela antes, apesar de tratarem-se de lembranças ofuscadas por uma tequila. Perguntava-me o que ela vira em mim.
- haHÁ! Pensou que eu não tinha visto você de olho na minha Dama?
- Sim, mas você não percebeu que acabou de perder uma Torre, e que isso poderia ser evitado se movesse o bispo.
O dia começa com o amanhecer de uma pontada na cabeça. Tento lembrar-me de algo além daquela noite de flashs aleatórios. Olho ao redor e sinto algo estranho.
- Você tem que tentar fazer os dois ao mesmo tempo. Não adianta querer prever o meu movimento e se desfazer das defesas, nem vice-versa.
- Existe alguma fórmula para isso? Para não me arrepender de um movimento equivocado?
- Siga seus instintos, e use a cabeça para pensar antes de agir! hahaha
Ligo para Júlia, mas ela não me atende. Eu sei que era só um tempo, mas nada dissemos sobre ficar com outras pessoas. A única peça que deixara para trás era aquela camisa.
Ao entardecer, em mais uma tentativa praticamente frustrada...
- Júlia?
- O que você quer?
- ...desculpa.
- Siga seus instintos, e use a cabeça para pensar antes de agir...
Agora era eu quem tomava o xeque-mate.