Autor Tópico: Refém  (Lida 966 vezes)

0 Membros e 1 Visitante estão vendo este tópico.

Offline Magyar

  • Te dou as minhas costas...
  • Bundalelê!
    • Ver perfil
    • Blog do Magyar
Refém
« Online: Julho 25, 2012, 01:06:13 am »
O carcereiro me encara com um olhar cansado. As rugas já apareciam ao redor da boca e dos olhos. Unhas roídas da ansiedade que o consumiu. Era visível que não queria estar aonde estava.


- Quem é você? O que você quer? - não sei dizer quem falou primeiro.


Magro de refeições mal comidas. Branquelo pela falta de sol. Grandes olheiras dignas de dias de insonia. Careca e cheio de caspas pelo couro cabeludo. Não sei ao certo se o reconheço de algum lugar.


- O que você faz aqui? - um uníssono se repete.


Tento me mexer, mas estou preso. Sinto-me fraco, incapaz. A quanto tempo não como? Dormi por muito tempo? Aonde estou?! Não sei dizer. Ele não tira os olhos de mim em nenhum momento, me analisando, me julgando, me torturando.


- Porque estou aqui?

As palavras saíram da boca dele. Tenho certeza disso. Observo o ambiente. Um quarto. Uma cama. Três paredes. Vejo a porta atrás dele. Ele está sentado na cama. Um lugar triste para prender alguém. A julgar pelas embalagens de bolacha e salgadinho ele vem se alimentando mal. Tem louça suja também. Um cheiro de cigarro denuncia um vício.

- O que você quer de mim?!

É ele quem faz as perguntas agora... Já não sei mais se estou preso por causa dele ou se ele está preso por minha causa.


- Qual é o seu problema?!

Ele parece ler a minha mente. Deve ser algum cara que se acha excêntrico e especial enquanto tenta adivinhar o que os outros pensam. Curioso pensar que até agora ele tem acertado. Não sei o que me leva a preocupar-me com ele. É perceptível as suas frustrações. Seu desespero.

- Porque você não sai pela porta?

Ele não vira para a porta, está muito concentrado em mim ainda. Ficou claro que ele sabe aonde a porta está. Tento mexer os braços - eles me obedecem. Os dedos dos pés... isso. O indivíduo parece zombar de mim imitando cuidadosamente cada movimento. Levanto espontaneamente e ele me copia. Resolvo tentar a sorte e passar por ele correndo.

Dou uma trombada forte com ele. Duro como a realidade tem o direito de ser, fragilmente ela se estilhaça dando um fundo oco para aquela miragem. A porta estava atrás de mim.
"Babuínos balbuciam balbúrdias banais, bêbados, em bando."