Autor Tópico: Pega Pega  (Lida 1035 vezes)

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Offline Magyar

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Pega Pega
« Online: Novembro 24, 2012, 08:37:42 am »
Nos últimos tempos, minha situação fez retornar memórias passadas de um treino de Rugby.

Não era nada demais, um treino qualquer na pracinha "Cruzeiro do Sul" no bairro em que morava de São José dos Campos. Ela era redonda, com um cimento áspero que ralava só de olhar. Ao redor, várias partes com gramas e árvores - algumas delas no meio da parte acimentada, inclusive. O poste no meio dela nos dava a iluminação necessária durante as noites de treino.

Eu estava na minha adolescência, por volta dos 15 anos. Treinava a 2 anos já com o pessoal do time infantil. - o que me dava um pouco daquele ar de veterano de guerra, por mais que nunca tivesse participado de um jogo ainda. Como aquecimento, ao invés das incontáveis voltas em torno da praça, o treinador resolveu fazer algo mais divertido - e que adorávamos. Pega pega. Só que não aquele comum daquela infância de outrora. Você só pegava alguém quando encostava a bola oval de rugby na pessoa, e quando alguém era pego, essa pessoa tinha que ajudar a pegar os demais. Então ia cada um para perto dos outros que faltavam e passava a bola, ordenando o rebanho enquanto todos eram dominados.

Claro, era divertido. Demais. Disputas de agilidade, corridas e passes eram motivos de chacotas e triunfos. Eu não era o que corria mais, mas estava entre os que corriam mais. Metade do grupo já havia sido pego, restavam poucos de nós. Fintas e velocidade de uns contrastavam com os passes e posicionamento dos outros.

Eis que o Túlio pegou a bola. Como sabia que corria mais que ele, resolvi provocá-lo. Deixei chegar perto. Arrisquei uma finta, e ele resolveu me pegar na corrida. Então resolvi mostrar que corria mais, e saí em disparada pelo cimento. Fiquei preocupado, pois já estava um pouco cansado e vi que ele vinha a toda velocidade. Não consegui livrar o olhar daquele incomodo que me perseguia, e quando fui olhar para a frente TUM! Dei de peito com uma das árvores que brotavam do cimento. Meus braços e pernas foram para frente com toda a intensidade. Abracei a árvore. Meu peito doía - não conseguia respirar. Os demais riam. "Parecia cena de desenho animado", comentavam. Não sabia se ria da burrada, chorava da dor ou tentava respirar. Foi algo tragicômico, fora do normal.

"Tá vivo? Consegue respirar?" perguntou o treinador enquanto balançava as minhas pernas.
"Aaafhh.. Afhhhhh Dooo...ooorr..." Tentei responder enquanto o ar não vinha. Meus olhos lacrimejavam durante as minhas dúvidas.

E agora aqui me encontro. Relatando mais uma lembrança da minha vida. Mais uma analogia barata. A bola mudou, é claro. Enquanto tentava me livrar daquela angustia de cair no monótono da vida, de fazer parte do grupo que agrega o rebanho, não reparei no que havia à minha frente. A árvore do desgosto tirou o meu fôlego. Fiquei sem reação. Tentei me livrar do que me perseguia, mas não importou as fintas de festas ou a velocidade em que bebi e saí. Era preciso visualizar os obstáculos à frente para não ser pego de surpresa. A minha sorte foi ter o apoio nesse momento de dúvidas. Ainda não sei se choro, rio ou respiro.

Mas que fique a lição. Não importa o que te persegue: nunca corra olhando para trás.
"Babuínos balbuciam balbúrdias banais, bêbados, em bando."