Autor Tópico: O Ataque (Parte I)  (Lida 1280 vezes)

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Offline Akron

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O Ataque (Parte I)
« Online: Outubro 08, 2012, 07:00:55 pm »
O ATAQUE: PARTE I

Há muito tempo que não acesso o fórum...Parece que minha antiga conta foi até mesmo deletada...Mas não importa; aqui vai um conto que escrevi de manhã. Espero que gostem!



O Ataque

PARTE I



 

Um vento melodioso penetrava entre os recortes da baía de Pontafiada entoando o cântico da morte; indecifrável para os mortais, cujos ouvidos se afeiçoaram ao cintilar do ouro ao invés das nuances da natureza. Dezenas de barcos portavam a bandeira de Duriel, na qual um urso de pelos escuros se destacava sobre o fundo pintado de verde musgo; as embarcações eram velozes, porém devido à leveza da madeira que as compunha, ansiavam por percorrer qualquer caminho que fosse insinuado pelo vento, perene, cuja direção era muitas vezes incerta.

O ataque a Bryel deveria começar antes do crepúsculo, porém os barcos foram desviados diversas vezes para fora da baía, de modo que após o meio dia fora impraticável navegar de forma consistente ou seguindo uma trajetória linear; houve um barco que, ao se distanciar levemente do grupo, teve sua embarcação arremessada contra uma intransponível barreira de pedras, de onde o caos se instalou por alguns minutos, até que a tripulação revolta fosse tragada para as profundezas do mar.

Não obstante, chegara a hora da cidade portuária ser engolida pelos demônios conquistadores de terras distantes, cuja determinação os levara a transpor pântanos, rios e florestas, até chegarem ao outro lado do mar que cinde Éuros, o Grande Continente, em duas vastas porções de terra preenchidas por gelo, fogo, pedras e montanhas, conquistadas por homens das mais arcanas linhagens, famílias e clãs que já existiram. Do lado oeste havia Melindras, região da qual irradiavam as frotas aniquiladoras; e da parte leste, da qual fazia parte Bryel, havia Assadar, onde os reinos unidos de Éoren resistiam aos anos bem como aos inimigos ocidentais.

O propósito daqueles homens, rudemente talhados pelo tempo e pelo vento, era simples, embora atroz; recuperar o livro antigo de Noractis, uma relíquia ancestral de valor inestimável para Duriel, o rei meridional do oeste, cujo poder sobre as planícies idílicas do sul era muitas vezes exercido de forma respeitável e amena, cedendo diversas porções de terra para camponeses e recolhendo tributos de forma branda.

Contudo, quando soubera do roubo do seu livro sagrado, mobilizou grande parte da população sob seu domínio, mudando radicalmente seu caráter; seus olhos não mais irradiavam a ternura de outrora, mas uma incontrolável avidez para recuperar não somente o objeto roubado como também a sua honra usurpada.

Filas intermináveis se formavam ao longo de centrais de comando, espalhadas pelo campo e pelas cidades, de onde a população era alimentada e preparada para instruções básicas de combate; era tempo de guerra, e ela tinha o seu custo. Muitas famílias tinham sua inscrição do exército negadas, e estas eram obrigadas a trabalhar o dobro do tempo para sustentar, sobre ombros frágeis, um enorme contingente de homens destinados a recuperar a relíquia e a honra roubada de Duriel.

E, agora, punham-se em prática longos meses de dedicação e mobilização; a guerra chegava ao início do que seria um interminável levante de mortos, mulheres violadas e crianças experimentando o sabor escarlate do sangue. Como Bryel era uma cidade portuária, havia mecanismos que anunciavam o perigo iminente; inúmeros pedaços de madeira, dispostos em cúpulas de aço ao longo da costa, davam vida à labaredas de fogo, que ante o despertar da noite acordavam lentamente a população que não esperava por um ataque repentino.

Isanis Wylnar, comandante da primeira armada, projetava-se sobre as bordas do barco que tomava a liderança do ataque à Bryel. Os ossos de sua face sombreavam parte de seu semblante, delineando com linhas frias a sua aparência singela e que condensava, com raras exceções, a natureza dos homens que carregava para aquele ataque; frios, robustos e prontos para matar sem nenhum sentimento de culpa, anestesiados pela ideia disseminada em Melindras de que qualquer esforço contra os reinos unidos de Éoren seria um ato de glória e honra.

Wylnar soou sua corneta, cujo som retumbante atravessou todas as embarcações da linha de batalha; a noite era densa e a iluminação lunar, ainda que escassa, era a única fonte que proporcionava visão e rumo aos combatentes marítimos.

Muito contrariamente ao fervor emanado pelos invasores, que já imaginavam labaredas de fogo engolindo as casas de madeira de Bryel, não faziam ideia de como seria difícil realizar a investida contra a cidade.

Havia do lado defensor um homem que, de pé, proferia palavras quase que inaudíveis. Na praia, uma figura irreconhecível. Levava consigo o que parecia ser um cetro ornamentado com estranhas inscrições irregulares; encoberto por um espesso manto negro, seu rosto permanecia invisível sob a luz fria da lua. De forma incerta e sugestiva, movia o cetro com seu longo braço e desenhava movimentos brandos ante a noite. Seus pés, protegidos por robustas botas de couro marrom, protegiam suas pernas dos ventos frios que moviam areia e poeira ao longo da praia de Bryel.

Excetuando-se Wylnar, nenhum dos homens invasores teve a estranha perspicácia de conectar as duas pontas do enigma que os afrontava durante todo o ataque.

-- Apenas ele explica o peso do vento e as palavras estranhas por ele murmuradas – pensou remotamente, compreendendo melhor a situação de ataque. E, virando-se para o resto das embarcações, rugiu: -- É um arcano! Arqueiros da segunda frota, acerte....--- sua voz fora cortada pelo colossal ruído de vidas se afogando e barcos naufragando, a medida que ventos convergiam intensamente em sentidos desordenados, instalando no mar a completa destruição e loucura.

Wylnar, ao pensar na figura estranha que impedia o avanço dos barcos que destruía de forma intensa, gritou como pôde: -- Deixem as embarcações! Vamos nadando! A praia está perto! --- porém sua voz se perdeu no mar à medida que ia sendo tragado por um mastro de madeira para o outro lado da vida.

Alguns homens, contudo, seguiram sua última ordem, largando os barcos e lançando-se ao mar revolto e negro, ocasionalmente tingido de um vermelho escuro quase invisível. Os que finalmente chegaram à praia foram abatidos por arqueiros de Bryel, posicionados em torres de pedra que cruzavam todo o litoral de Assadar.

Apenas um guerreiro chegou ileso à praia e teve a oportunidade de vislumbrar a figura remota que lançava o cáos às dezenas de embarcações, que agora se dissolviam em um aglomerado de corpos, ferro e suprimentos.

Ainda perplexo, o guerreiro ajoelhou-se, consumido, ante a figura que o olhava de cima; pôde ver que era um homem velho, com barbas brancas e longas, e sua figura antiga lhe deu arrepios:

--- Quem é você? – foi a única pergunta que lançou ao homem.

--- Venha comigo. – respondeu, sua voz ancestral conquistando a atenção do guerreiro, cuja expressão era ainda inacreditável. – Você é necessário.
« Última modificação: Outubro 08, 2012, 09:26:00 pm por Akron »

Offline crudebuster

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Re:O Ataque (Parte I)
« Resposta #1 Online: Outubro 09, 2012, 06:57:35 am »
Eu gostei.
deve ser muito estranho ser normal

Offline Akron

  • Dark Blood
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Re:O Ataque (Parte I)
« Resposta #2 Online: Outubro 09, 2012, 07:52:46 am »
VALEU MAN!

> : )

Offline crudebuster

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Re:O Ataque (Parte I)
« Resposta #3 Online: Outubro 09, 2012, 08:05:02 am »
VALEU MAN!

> : )

Gostei mesmo, sem brincadeira.

Você escreve arrastado e rebuscado que nem eu.

Eu sempre achei que fosse implicância minha com a galera que gosta de escrever mais relaxada, com um vocabulário mais leve.

Que se dane, fica muito bom. Não chego a querer escrever feito um Camões mas dá pra ver que dá uma seriedade à obra, né?
deve ser muito estranho ser normal