Numa colônia de extração de cristais, quase esquecida pelo Conselho Solar, em torno de 1200 anos-luz da Terra, vivia a família de Giuseppe.
Giuseppe Von Granks, nome pomposo, mas de pouca valia para o chefe de escavações de 25 anos de idade.
Lidava com wermechs pilotados desde que nascera, seu pai fora um dos primeiros pilotos a chegar no bendito planeta para o serviço.
Tinha toda a liberdade para sair daquela rocha inútil e voltar para a Terra, onde a exploração havia
terminado, e se deu lugar a reconstrução do planeta através do capitalismo estelar.
Todo ser humano digno prezava a mãe Terra como aquela bisavó que todo mundo tem, que é velha demais, já não mostra mais o vigor de sua juventude, tal qual o velho Sol, já com seus dias contados.
Mais 10 bilhões de anos e ele já era. A Terra iria junto, mas isso não importava muito a quase ninguém, exceto aos físicos nucleares que ainda buscavam uma maneira de recriar a energia do Sol na própria Terra, gerando um planeta-colônia como os que os filmes do século XX tentavam desenhar.
Isso importava menos ainda para o Galvanian 3SH que Giuseppe pilotava.
Ele só conhecia aquele chão, de onde seus irmãos tiravam o sustento das famílias a que pertenciam, seja de humanos ou de wermechs.
Do alto de seus 5 metros de altura, ele observava o céu azul, o Sol e as constelações mais próximas,
enquanto conversava na pequena Rede com outros wermechs e humanos numa sala de bate-papo,
costume milenar de mentes ociosas.
SHREK: Puxa, que inveja eu sinto dos antigos wermechs que colonizaram o espaço.
Hoje em dia já tem tanta coisa mapeada que nem vale a pena procurar novidades no infinito.
ALITA: Por que você não se alista no Exército Solar, ou no Exército Andrômeda? Eles estão
viajando bem longe, fiquei sabendo que estão fazendo diplomacia com muitas raças alienígenas...
Você pode sair dessa melancolia fácil, fácil...
C0Rk: Meu primo Locke faz parte do Décimo Pelotão Wermech do Sistema Quagmir, ele
me manda cartas avisando dos progressos por lá. no momento, estão procurando por um fugitivo
defeituoso, um mech série DREW-6070, dizem que ele queria fundar uma religião por lá. Bagunceiro,
quase amotinou uma meia dúzia de mechs.
ALITA : Mas o Conselho Solar não havia permitido que wermechs possuíssem religiões?
Por que perseguiram o velhote?
C0Rk : Sim, wermechs podem ser religiosos, desde que mantenham seus interesses em nível aceitável por todos. O cara queria dissolver a expedição para fundar uma base própria, pirou
na batatinha mesmo.
SHREK : De onde você está falando, Alita?
ALITA : De Alfa-Orbit, um satélite de reconhecimento daqui do planeta mesmo.
Meu nome de verdade é Valquíria Tess-12R1. Prazer em conhecer você, Shrek...
SHREK : Bom, meu nome é Galvan Sted-2430, sou mineiro do Quadrante 3. A gente podia se encontrar na sua próxima folga, que você acha?
ALITA: Vou folgar só daqui a dois meses. Meu irmão Bill vem para a minha órbita e eu desço para revisão, passe no Estaleiro 12 dia 20, umas 4 da tarde, vou estar por lá. Leve uns chocolates, eu não sou nenhuma modelo, mas estou em forma...
SHREK : Ah, legal Valquíria, pode contar comigo. vai ser um prazer.
C0Rk : Alguém do quadrante 4 quer tc? Sou moreno, gostosão, 19 anos, solteirão, em estado de novo...
ALITA: Tchau Shrek... tenho que voltar pro trabalho...
ALITA sai da sala.
SHREK sai da sala.
Passados dois meses de pura felicidade e trabalho pesado para Galvan, pediu uma folga a Giuseppe
para visitar Valquíria.
- Giuseppe, preciso trocar o fluido do cortador esquerdo, posso aproveitar e fazer a revisão dos 300Km?
- ...tudo bem, Galvan. O Pessoal já me avisou que você está de encontro marcado com uma wermechzinha novinha... vai nessa, eu vou pedir pro Twin pra me ajudar. Está liberado por hoje.
- Valeu chefe!!
Saiu com uma pressa enorme pra trocar os membros de trabalho pelos seus normais, de uso urbano.
Será que ela ia se impressionar com isso? Ia tomar um banho rápido e pegar os chocolates em casa.
Larissa, a dona da casa, se impressionou com a pressa do mech.
- Noossa, tá cheirosão, hein? Vai namorar, é?
Se Galvan tivesse bochechas, certemente estariam vermelhas de vergonha...
- Hã, não, nada disso, eu vou só... fazer a revisão, é só revisão dos 300Km.
- Não volte tarde.
- Tá, mãe, pode deixar.
- Essas máquinas de hoje... num momento você acaba de conhecer e no outro já estão formando famílias...
É a tecnologia, que vai se fazer, né?
Retomando a calma, Galvan chegou ao Estaleiro, ficava bem longe da cidade, mas as expectativas
dele estavam tão à flor da pele que nem sequer piscava para o guarda do portão...
- Identificação, por favor?
- Galvan Sted-2430, vim visitar a Valquíria.
- Valquíria? Ah, sim. Ela vai fazer revisão hoje, pode entrar. Conheceu ela no chat, né?
- Como você soube?
- Ela me avisou que você viria. Olha, é aquele hangar com o 30 escrito.
- Você está sem piloto. Cuidado para não causar prejuízos na base, senão vai ser cobrado do seu piloto registrado no Conselho Solar.
- Sem problema, vou só conversar com a Valquíria mesmo, não se preocupe.
Hangar 30, humm, Ah, lá está ela!! É do jeito que eu li nos bancos de dados do fabricante...
Esguia, alta, em alumínio-níquel, com aquelas antenas difusoras sexys saindo das costas...
Nossa, que gata... Os técnicos estão conectando-na à central, para a revisão. Vou me aproximar.
Deixa eu pegar os chocolates, humm... Vamos lá, Galvan, vocè consegue...
- Er, Oi Valquíria!!
- Ah, Galvan! que bom que você veio!!
As palavras dela pareciam flutuar no ar...
- Quero que você conheça a minha família, deixa acabar aqui a revisão...
Família? Já? ah, tudo bem. Só de ouvir aquele anjo usando as biocordas vocais já valia a pena.
Estou tremendo...
- Tome aí os chocolates, escolhi uns recheados com calda, você gosta de calda?
- Humm, delícia... Desde que estava em Alfa-1 não comia desses, deixa eu apreciar um
pouco mais...
Que visão fabulosa, aqueles lábios femininos lambendo, tirando pedaços do chocolate... Putz, vou
acabar desmontando, preciso impressionar essa beldade...
Um dos engenheiros, com o jaleco sujo de tanta sucata pelo lugar, avisou, segurando uma prancheta bem surrada, com papéis mais surrados ainda:
- Pode sair, Val. Já terminamos. Seu próximo turno é daqui a três meses. Não abuse desse corpinho na cidade, hein!
- O que eu vou fazer na cidade é problema meu, Ribamar. O corpo é meu, faço dele o que quiser... Vamos, Galvan?
- Vamos.
Saíram, Val puxou Galvan pelo braço. Ele até gostou, mas ficou meio impressionado com a força daquela garotinha.
- Calma Valquíria... Posso te chamar de Val?
- Vamos visitar meus parentes, você pode me chamar de Val mesmo... Mas eu prefiro Valquíria.
- Tá Valquíria...
- Você vai adorar os meus pais. Eles estão trabalhando numa siderúrgica lá no outro lado da cidade. Eles fazem aço carbono pra naves, sabia?
- Nossa... Bom, eu sou de série antiga, meu... pai está na Terra fazendo projetos pra séries novas...
- Padrão? Ah, tudo bem, os tempos estão mudando, devem aprovar no ano que vem um projeto que prevê automatização total do serviço wermech para todos que tiverem pelo menos 20 anos de serviços com humanos...
- É mesmo?
- É, porque acha que estive naquela sala de bate-papo? Quero arrumar um marido, Galvanzinho...
- Marido!?
- Você vai adorar eles. Papai tem um monte de cicatrizes de metal no braço direito, de tanto inspecionar placas... Mamãe só carrega tubos, mas tem uma folga pra cuidar dos meus irmãozinhos...
- !!!
A tecnologia surpreendeu mesmo a Galvanian. Parece que ele ficou tempo demais cavando cristais naquelas minas...
Por um lado é bom, já que a novidade veio num pacote bem esguio, moderno e promissor...
No ano de 25XX, foram legalizadas as relações entre wermechs com personalidades humanas instaladas há mais de 30 anos, que tivessem um bom histórico de trabalho e boas relações humanas.
Tecnologias surgiram para satisfazer as necessidades dos casais apaixonados, humanos e wermechs, seja no plano carnal ou espiritual...
Galvan se casou com Val numa cerimônia onde mais 50 casais de humanos e wermechs da colônia se uniram perante a religião Católica Apostólica Romana.
No mais alto ponto da tecnologia, parece que mesmo as personalidades robóticas buscam a paz
e prosperidade pelas vias antigas. Provavelmente alguma falha de programação.