Autor Tópico: A dor dos pássaros  (Lida 883 vezes)

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Offline Magyar

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A dor dos pássaros
« Online: Maio 28, 2013, 08:59:34 pm »
Era mais uma festa com os amigos e fui para o canto fumar sem atrapalhar os demais convidados. Naquela hora, o mexer dos arbustos próximos me atraiu a atenção. Um pássaro estava lá, tentando pular de um galho para outro, rumo a maior das alturas que pudesse alcançar. Ao chegar pouco acima de minha cabeça, ele tentou levantar voo, mas caiu enquanto batia entre parede e galhos até voltar ao arbusto.
 
Um belo pássaro com tonalidades verdes e azuis, com penas laranjas próximas ao bico. Tinha um piado que um dia fora lindo, não tenho dúvida, mas que agora demonstrava um certo desespero enquanto tentava novamente subir o mais alto que pudesse para voltar a voar.
 
Me senti mal por aquilo. Tive vontade de ajudá-lo, mesmo não sendo um veterinário. “Não tema” - eu queria dizer. Queria que confiasse em mim, mas ao me aproximar, ele fugiu para o canto. “Não preciso de sua ajuda” - senti-o piar. Pensei em falar com alguém da festa sobre o pobre animal, mas entendia ele: não queria mais espectadores para a desgraça de sua vida.
 
Com sua asa machucada, vi ele continuar a subir os galhos, sem pensar em mais nada além de voltar a voar o quanto antes. Se livrar das ameaças felinas e humanas que o cercavam. Voltar para o céu tão querido. Viajar para onde suas asas pudessem levá-lo.
 
Não sei dizer se valeria a pena impedi-lo de tamanha determinação. Eu queria ser um pássaro também para  dizer: “Ei cara, você precisa tratar dessa asa! Não adianta forçar!”. Mas eu não passo de um outro ser, de outro mundo, tentando racionalizar à minha maneira. Possivelmente, se conseguisse falar algo com ele, ele responderia: “Mas e você? Que nem machucado está e não consegue voar? A sua gaiola é imaginária, amigo. Não tema por conta de um machucado”.
 
Pensei em pegá-lo. Pensei em chamar alguém. Pensei  até numa possível conversa com ele. Pensei em tantas coisas que, no final, a única coisa que pude fazer foi voltar à festa. À minha vida - minha gaiola. Os dias passaram e as coisas não mudaram. Mas eu continuo a pensar naquele pássaro e suas dores. Minhas dores.
"Babuínos balbuciam balbúrdias banais, bêbados, em bando."