Ribofunk... tinha esquecido dessa palavra, li algum comentário disso em algum lugar.

De verdade eu não sou muito fã de nenhuma das tarjas, e o significado de todas mudou. O que cyberpunk significava mudou, conforme muito do que essas ficções taxadas cyberpunk imaginavam se aproximou demais da realidade. Após anos circulando por aí e frente as mudanças acabam sendo mais usadas por causa de pequenos elementos estilísticos... o pior é que ao meu ver é isso que ajuda a matar um 'gênero' por assim dizer. Não acontece com gêneros mais amplos ou 'vagos', mas num subgênero tão específico como esse a definição acaba engessando as coisas; Ao tentarem definir cria-se uma fórmula por assim dizer.

Quem quiser remeter ao gênero deve seguir a fórmula para ficar nos conformes; Ou se inspira na fórmula e daí temos obras derivativas e menos inovação. Pior ao meu ver não é isso, mas a imagem com o público; Cyberpunk não deveria ser exatamente sobre jaquetas pretas e implantes cibernéticos cromados e expostos, mas se qualquer coisa é chamada de cyberpunk o público cria essa expectativa.

Com o rpg por exemplo eu não me prendo nessas coisas; Eu não olho para cyberpunk isso e aquilo e tento replicar ou pós-cyberpunk ou colocar uma tarja. Eu tenho jogado cyberpunk aqui no fórum porque convenhamos a pequena palavra já diz muito(high tech/low life, etc), mas eu gosto de ficções que não se prendem em gêneros e tento fazer o mesmo. Ao meu ver o futuro do cyberpunk(gênero) é 'atualizá-lo'; Hoje sabemos que manipulação genética e células tronco serão uma coisa grande, sabemos que próteses e similares de modo algum serão como se imaginava nos anos 80(na cultura popular, não na ciência) e sabemos muito bem que a sociedade como um todo vai abraçar a tecnologia.

O principal do gênero é que continua extremamente atual e deve ser mais explorado, deve continuar a ser explorado(ao meu ver). Toda essa tecnologia e avanços significam uma melhora de vida? O futuro sempre tem uma dose de incerto, tudo indica que a vida vai melhorar(num geral) mas sempre há outros cenários adiante... e se as coisas derem errado? E se erros após erros de decisões políticas, crises e outros desastres impactarem demais o curso das coisas? Nem precisamos ir tão longe, eu sempre percebi (pela história) uma espécie de ciclo vicioso em sociedades entre liberalismo e autoritarismo, quando um chega ao ápice o movimento inverte e muda... e autoritarismo com as tecnologias que estão surgindo criariam um 1984 bem pior.

Num outro ponto...

Tem uma coisa que sempre achei notável em cyberpunk mas vejo ser a menos mencionada; Muito provavelmente é porque em tudo quanto é ficção temos protagonistas tendo papel de impacto e uma miríade de coincidências e plot-armor para que isso aconteça que fica menos notável...

Cyberpunk ao meu ver traz um interessante contraste entre poder corporativo(uma realidade) ou do 'sistema' e... poder pessoal.
Em diversas obras os protagonistas apenas ficam a deriva na miríade de todas as coisas, eu não falo que cyberpunk seja sobre como o indivíduo pode ser poderoso... mas em todas, conscientemente ou não, dá para notar como a tecnologia traz um novo elemento que em outras ficções(e épocas da história) não seria possível, não na mesma escala. Principalmente com hackers, óbvio, mas até mesmo além deles.

Justamente ao tocar tão perto de temas como o 'sistema' evidencia os pequenos detalhes que esquecemos quando tentamos pintar um quadro maior das coisas: as pessoas. Como pequenos eventos, decisões e interesses pessoais podem causar grandes impactos mesmo num mundo de massas e interesses corporativos. É como a teoria do caos, uma gota num lago criando ondas cada vez maiores...

E isso é uma realidade hoje, e só vai intensificar. Hoje eu posso organizar um movimento global do meu quarto; Hoje qualquer um pode brincar com desinformação como a mídia e governo tantas vezes já fez na história. Daqui há alguns anos estaremos muito mais poderosos com a primeira e mais importante expansão humana... que ao meu ver não é genética nem implantes ou nanomáquinas mas puramente computadores mais inteligentes, 'IA', e o conforto da ubiquidade.

Em uns 10 anos mais ou menos eu vou poder responder n número de pessoas com meu computador respondendo por mim; Pedir que ele busque quaisquer dados e selecione o que importa enquanto faço outra coisa... E o que dirá de bigdata, corporações com dados demais e computadores cada vez mais poderosos, que cada vez mais vão conseguir prever o que vai acontecer numa semana ou como a tendência vai mudar...

Eu sinto pena de ver o 'gênero'(o potencial dele) ainda preso em coisas óbvias, estilísticas e 'na sua cara' como modificações cibernéticas ou genéticas. Não deveria ser sobre isso.

Eu li, mas não podia perder a oportunidade de fazer uma parede de texto! E jogar outros tópicos no meio... deve ter dado para reparar que além do noir e estilo(que eu amo) eu tenho toda uma atração pelas questões sociais, além é claro de tecnologia porque sou tão geek assim.

Melhor lançarem o google glass logo, senão o 'novo cyberpunk' vai ser um monte de corcundas, gerações olhando para baixo enquanto usam seus gadgets super slick que acabaram de sair.