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E eu vou discordar de você. As experiências e estilos de jogo variavam, mas o modelo de desafio tático onde tudo que importava era explorar ao máximo seus recursos para sobreviver (usando tanto conhecimento do personagem quanto do jogador) é um dos estilos mais antigos e tradicionais. Existem até módulos criados para trabalhar esse tipo de experiência nas primeiras edições de D&D (Tomb of Horrors é o primeiro que me vem a cabeça). Isso não é essencialmente diferente de RPGs eletrônicos tradicionais. O próprio Gygax escreveu um livro onde falava sobre "dominar o sistema" e se tornar um "mestre" na utilização da mecânica como uma forma de alcançar a "vitória".
Eu to com medo de me repetir, porque repetição de mesmas palavras não ajuda a esclarecer algo que ficou confuso, mas vamos lá.
Um Jogo onde tu tem um objetivo, e requer que você crie uma personagem para esse fim
não é um jogo de interpretação de personagens! é simplesmente um Jogo!
Fazendo uma comparação simples.
1) Considere um jogo onde eu crie um personagem e tenha que agir como tal. Eu crio um ladino, e escolho ações furtivas sobre ações de confronto direto. Eu tenho um objetivo claro me dado por um conjunto de regras e um Mestre e todas as minhas decisões são para otimizar isso.
2) Considere um segundo jogo onde eu seja obrigatoriamente um investidor. Eu preciso agir como um investidor e tomar ações que derrotem minha concorrência. Eu escolho comprar a maior quantidade de propriedades possíveis para ganhar em quantidade de pequenos lucros ao invés de um grande lucro. Eu tenho um objetivo claro me dados por um conjunto de regras e todas as minhas decisões são para otimizar isso.
Existe tanta diferença assim entre os dois?
o primeiro pode ser qualquer seção de Dungeon & Dragons que tu queria imaginar onde o incentivo a interpretação e ação do que é coerente pras personagens (ao contrário do que é vantajoso pro jogador) é pequena, enquanto o segundo é um jogo de banco imobiliário.
Um rpg só nasce no momento que a história deixa de ser o pano de fundo do jogo e passa a ser o foco do jogo. Quando ao invés de criar um Ladino, tu crias um Eladrin Ladrino de nome Quarion, que saiu de sua casa em busca de aventura, e nunca conseguiu ficar muito tempo em um mesmo lugar por causa de sua extrema curiosidade, e pelo fato de ter saido de casa mais velho, sem nunca ter interagido com nenhuma sociedade que nao seja dos próprios Eladrins.
O rpg nasce quando o sistema de rpg serve pra definir dificuldade das ações que a tua personagem vai tomar, independente do quão inepto ela seja, porque a personagem faria isso, mesmo sendo ruim em fazer aquilo (enquanto o jogador, por outro lado, deixaria pra alguém outro fazer, ou nem tentaria porque é, pelo sistema, uma falha automática)
Nota que Role só fica na frente do Playing no inglês por uma questão gramatical. E que existe uma diferença entre "interpretar" e "liberdade de ação." Eu entendo o que você quer sugerir, mas liberdade de ação é um elemento cada vez mais presente nos jogos e por esse raciocínio, alguns MMOs poderiam ser encarados como verdadeiros RPGs. Já interpretação, inclusive nos primeiros RPGs, era algo muito aberto e com pouco impacto real no jogo. Assim como acontece em muitos jogos eletrônicos. Eu posso interpretar um Rei bonzinho numa partida de Crusader's King, mas a mecânica do jogo não é modificada por isso. Exatamente como ocorre em alguns sistemas, onde a interpretação do personagem não possui consequências reais no jogo e a única coisa que importa são suas ações.
-Mas eu não posso fazer tudo que eu quiser num MMO!
Assim como você não pode fazer tudo que quiser num RPG. O que varia entre os dois é a quantidade de escolhas abertas e com consequências que você tem nos dois, onde os rpgs de mesa ainda tem vantagem. A interpretação, em si, pode ocorrer em qualquer tipo de jogo.
o termo correto em inglês é Role-Playing Game, portanto, gramaticalmente falando Role-Playing é adjetivo de Game, e nada mais.
agora, eu entendo que o termo Role-Playing Game possa ter evoluido a um ponto que qualquer jogo que tu assuma qualquer papel (por exemplo, o papel de um tank no wow) seja um RPG, e nesse sentido, todos os jogos que não sejam essencialmente exercícios mentais (como por exemplo, free-cel, paciência) são RPGs, e eu entendo isso. A menos de 30 anos atrás, aqui na minha terra Bicha era o nome que usávamos para fila, e hoje é uma palavra de baixo calão. Termos mutam-se e evoluem, independente das pessoas gostarem disso ou não.
O meu ponto e argumento, é que um jogo de Interpretação de Papéis não é o mesmo que um jogo de Interpretação de Personagem. Por mais que em ambos tipos de jogos você possa ser um ladino, apenas no jogo de interpretação de personagem que você pode ser o Eladrin Ladrino de nome Quarion, que saiu de sua casa em busca de aventura, etc..
Essencialmente o que muda entre eles é a importância dos elementos do jogo, e isso ocorre não dentro do sistema, ou da mecânica do jogo, mas no comportamento do jogador, de forma que qualquer jogo de interpretação de papel pode se tornar um jogo de interpretação de Personagem, desde que o personagem seja interpretado desempenhando o papel, e não simplesmente o papel seja desempenhado buscando a "perfeição sistêmica"