Autor Tópico: Ensaio: [Em busca de games pós-capitalistas]  (Lida 2009 vezes)

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Offline Fada Infravermelha

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Ensaio: [Em busca de games pós-capitalistas]
« Online: Janeiro 14, 2014, 03:49:43 pm »
Interessante para desenvolvedores E consumidores, legal pra pensar fora da caixa e lembrar como (ou se) a diversão afeta nossa lógica e comportamento fora da tela/tabuleiro/mesa.

Segue um pedacinho do texto original pra quem tem preguiça de abrir links/ler/clicar

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[No caso do Skyrim, a comunidade “do contra” – programadores e designers que se divertem criando versões não-oficiais do game – já transformou de modo inteligente a economia de Tamriel. Uma das versões limita os recursos naturais disponíveis (os logos podem ser extintos…). Outra, tornou o estoque de dinheiro finito. Uma terceira introduziu um sistema financeiro alternativo, no qual o ouro conquistado e não gasto pode ampliar a oferta de crédito para outros jogadores.

Mas e se fosse possível jogar qualquer um desses games sem tentar enriquecer por meio de conquistas, violência ou outras estratégias capitalistas de comprar barato e vender caro? E se fosse possível construir estratégias de criação colaborativa, fora do mercado, e tornar gratuito tudo o que é necessário para suprir as necessidades básicas da vida? Seria possível, individualmente ou em grupos, tensionar a economia de violência e conquista – a ponto de forçar uma transição para além da competição destrutiva?

São boas questões: uma importante escola de economistas acredita que elas expressam o problema essencial com que nos deparamos aqui fora, no mundo além dos games.]

link : http://outraspalavras.net/posts/sobre-games-capitalismo-e-como-supera-lo/
você pode se esquecer ou se divertir.

I'm in ur forum lurking ur posts...

Re:Ensaio: [Em busca de games pós-capitalistas]
« Resposta #1 Online: Janeiro 14, 2014, 08:57:34 pm »
O artigo é interessante, mas meio confuso. Ele une pós capitalismo ( pós escassez ? ) com violência, competição e comércio. Acho que no fundo ele quer jogos que quebrem o paradigma atual de violência e competição. Ou seja, mais Minecraft, e menos Call of Duty. Apesar de concordar que isso existe, a coisa vem diminuindo nos ultimos anos, acho, ainda mais com essa geração "indie" que está aí.

Curiosamente, existem alguns RPGs de mesa que quebraram esse paradigma. Eu tenho um aqui chamado Freemarket. Nele os jogadores são habitantes de uma estação espacial onde tudo é de graça - comida, riquezas, etc - e onde a morte não existe - todo mundo tem um clone sempre a disposição. O objetivo do jogo é acumular Reputação (a "moeda" dessa sociedade pós-escassez) da mesma forma que se acumula reputação no Facebook ou em outra rede social (através de "curtidas").Os jogadores se unem para concluir projetos temporários na estação, que vai desde abrir uma rede de nighclubs em gravidade zero até abrir uma companhia de assassinatos artísticos que na verdade são homenagens à vítima (afinal, todos têm clones sobrando, então a morte não é problema). Esse é o jogo mais pós-capitalista (e pós-paradigma) que conheço.

Além desse, tem uma série de RPGs japoneses também nessa direção, onde a ideia é construir/criar/ajudar, ao invés de matar/pilhar/competir.
« Última modificação: Janeiro 15, 2014, 01:45:59 am por silva »
The traditional playstyle is, above all else, the style of playing all games the same way, supported by the ambiguity and lack of procedure in the traditional game text. - Eero Tuovinen

Offline Torneco

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Re:Ensaio: [Em busca de games pós-capitalistas]
« Resposta #2 Online: Janeiro 16, 2014, 01:28:36 pm »
Creio que seja difícil se concentrar em criar uma sociedade de pós capitalismo, divisão de bens e coisas do tipo quando se vive em um mundo cheio de conflitos, com bandidos e lobos espreitando cada estrada e dragões estão aparecendo anunciando o fim do mundo.

Mas estou com o silva em relação ao artigo, ele me parece confuso. Acho que o que ele quer é que você tenha um jogo onde você consiga transformar uma situação de competição e guerra em uma situação de cooperação. Creio que você consiga achar isso em alguns god games por ai. Ou estratégia por turnos. Ou Dwarf Fortress.

Offline Bodine

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Re:Ensaio: [Em busca de games pós-capitalistas]
« Resposta #3 Online: Janeiro 16, 2014, 03:03:17 pm »
Compartilho das opiniões acima... o tema é interessante, mas achei confuso porque o autor se detém em uma análise fechada no conteúdo dos games – a economia em Skyrim, em EVE Online, em GTA etc. E isso para falar em pós-capitalismo, quando na verdade o universo dos games tem comparecido, nas últimas décadas, como uma das pontas-de-lança do "capitalismo real".

Não vejo como seria possível obter uma iluminação pós-capitalista sem refletir os princípios que regem a produção e a distribuição desses games atualmente... seria preciso sair dos mundos fechados que ele analisa, transversalizar a análise para criticar as condições de existência de tais jogos – isto é, que vendam a preços altos, quiçá cobrem mensalidade, estabeleçam mercados paralelos de itens etc.

Supondo que alguma companhia trabalhe duro no desenvolvimento de novas mecânicas mercantis in-game, o jogo provavelmente seria comercializado nos estritos termos capitalistas. Tem que ver isso aí.

Re:Ensaio: [Em busca de games pós-capitalistas]
« Resposta #4 Online: Janeiro 16, 2014, 03:37:12 pm »
Eu fico curioso porque praticamente nenhum jogo (salvo exceções como a série Democracy e Capitalism) tenta simular uma economia de mercado de fato, já que toda a "economia" se resume em geral a apenas um consumidor (seu personagem) e os custos são os mesmos durante todo o tempo e em qualquer lugar do jogo.

Então, eu não vejo muito sentido em falar em "pós-capitalismo" em mecânicas de jogo, se sequer existe algo próximo a "capitalismo" (ou qualquer forma reconhecível de economia) em praticamente qualquer jogo.

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lembrar como (ou se) a diversão afeta nossa lógica e comportamento fora da tela/tabuleiro/mesa.

Isso vale também para a associação entre violência e consumo de jogos violentos ou música agressiva? :)
« Última modificação: Janeiro 16, 2014, 03:46:36 pm por Heilel »

Re:Ensaio: [Em busca de games pós-capitalistas]
« Resposta #5 Online: Janeiro 16, 2014, 04:31:29 pm »
Eu fico curioso porque praticamente nenhum jogo (salvo exceções como a série Democracy e Capitalism) tenta simular uma economia de mercado de fato, já que toda a "economia" se resume em geral a apenas um consumidor (seu personagem) e os custos são os mesmos durante todo o tempo e em qualquer lugar do jogo.

Então, eu não vejo muito sentido em falar em "pós-capitalismo" em mecânicas de jogo, se sequer existe algo próximo a "capitalismo" (ou qualquer forma reconhecível de economia) em praticamente qualquer jogo.
Bingo! E mais um motivo pro artigo soar estranho. Não dá pra saber se no fundo o autor queria uma desculpa pra fazer jabá dos mods de Skyrim citados, ou externar sua frustração pelo paradigma atual de jogos, ou relacionar a tendência eletrônica de games com nosso mundo real. Enfim, confuso pra caceta.

Acho a direção que o Elfo deu mais interessante: que jogos realmente "capitalistas" existem hoje ? (acho EVE Online o mais quotado pra levantar esse "troféu", devido a economia dinâmica baseada na interação dos players, e que simula certos comportamentos de mercado, ao menos no meu pequeno entendimento do assunto).

No mais, poderíamos dizer que o que vemos na maioria dos jogos não deixa de ser uma espécie de capitalismo de "pequena escala" ou algo assim ? Como se congelássemos um certo mercado num ponto do tempo e espaço e botássemos uma entidade (o jogador) pra interagir com ele ? Nesse contexto, não chega a ser tão absurdo a existência de preços, indices de demanda e suprimentos, estáticos, não ?

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Isso vale também para a associação entre violência e consumo de jogos violentos ou música agressiva? :)
Da ultima vez que joguei , eu levantei do sofá com vontade de dar porrada no primeiro que aparecesse na frente. XD

Citação de: Torneco
Creio que seja difícil se concentrar em criar uma sociedade de pós capitalismo, divisão de bens e coisas do tipo quando se vive em um mundo cheio de conflitos, com bandidos e lobos espreitando cada estrada e dragões estão aparecendo anunciando o fim do mundo.
Será, Torneco ? Não sei se consigo relacionar essas duas coisas dessa maneira. Acho que nas sociedades não-capitalistas que tivemos no mundo real (tribos diversas, kibutz, soviets da revolução russa, Cuba, etc) esses fatores que você cita sempre existiram (criminalidade, conflitos de interesse, etc) e mesmo assim a o sistema não "parou" por causa disso. Mas não sou expert no assunto pra saber.

« Última modificação: Janeiro 16, 2014, 04:49:37 pm por silva »
The traditional playstyle is, above all else, the style of playing all games the same way, supported by the ambiguity and lack of procedure in the traditional game text. - Eero Tuovinen

Offline Torneco

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Re:Ensaio: [Em busca de games pós-capitalistas]
« Resposta #6 Online: Janeiro 16, 2014, 05:56:04 pm »
Acho que antes de falar de capitalismo ou mercado de um jogo temos que pensar no que o comércio do jogo significa. Na maior parte dos jogos, o comercio está ali para fornecer ao jogador formas de ajudar seu personagem a cumprir objetivos dando a ele mais opções. Com o dinheiro que você recebe você compra mais defesa, mais ataque ou formas de encher a vida, ou qualquer coisa do tipo. São poucos os jogos que buscam simular uma economia de verdade, no geral, as economias são apenas formas de se administrar recursos para que o personagem possa ser customizado sem que você precise mexer no próprio personagem.

Então, como o Bodine e o Elfo disseram, não existe normalmente, um Capitalismo real nos jogos para que possamos começar a falar em jogos com pós capitalismo. O objetivo em geral não é nem esse, é só criar mecânicas para auxiliar a narrativa ou a experiência que se se propõe. Então, imagino que a discussão da filosofia das relações econômicas costuma ficar de fora do planejamento da maioria dos jogos, e sim como a oferta do dinheiro e dos equipamentos irá interferir no equilíbrio de jogo.

Também não entendi a relação entre violência e capitalismo que o texto pareceu associar. Creio que não exista essa associação, tudo depende de como você deseja construir a história e a experiência de jogo.

Agora, sobre a economia de Skyrim, o que eu não entendi foi o seguinte. Você tem dragões anunciando o fim do mundo e brota um cara com a capacidade de matá-los de verdade. Porque não fornecem ao cara todos os equipamentos, treinamento e ajuda possível para que o dovahkin possa ir derrotando os dragões? Não, você precisa fazer tudo sozinho, ninguém está afim de te ajudar com nada de graça. Nem dão bola para o fato de você ser o ser mais importante dessa era.

Offline Bodine

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Re:Ensaio: [Em busca de games pós-capitalistas]
« Resposta #7 Online: Janeiro 16, 2014, 07:36:18 pm »
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Acho a direção que o Elfo deu mais interessante: que jogos realmente "capitalistas" existem hoje ? (acho EVE Online o mais quotado pra levantar esse "troféu", devido a economia dinâmica baseada na interação dos players, e que simula certos comportamentos de mercado, ao menos no meu pequeno entendimento do assunto).

No GTA V implementaram um sistema em que você pode investir na bolsa, ganhar centenas de milhões de dinheiros... é meio tosco, mas tem até especulação. Uma pegada bem "capitalista".

Outra coisa: vimos como deu errado a Auction House de Diablo III. Mas foi evidente a tentativa de fazer funcionar um sistema que matizava o capitalismo "de carne e osso" com modelos de simulação que também faziam parte do jogo.

Outra coisa: também temos o caso da Valve/Steam, que há um bom tempo vem inovando em estratégias para produção e distribuição de games, tendo inclusive criado um grande mercado paralelo de itens/cartas/bugigangas digitais. Acho que, como fenômenos para estudar relações entre o universo dos games e as práticas/discursos capitalistas – condição para se pensar em "pós-capitalismo" –, essas últimas experiências são bem mais frutíferas do que aquelas analisadas pelo autor.