Spell
RPG => Sistemas & Cenários => Tópico iniciado por: silva em Janeiro 16, 2012, 12:06:38 am
-
To curioso pra saber se alguém mais conheceu esse jogo e teve a mesma reação que eu. Eu to EMBASBACADO aqui. Tava procurando um sistema prático e ágil pra usar com Shadowrun e acabei encontrando algo maior. Eu já tinha falado sobre ele na spell antiga, mas não o tinha conhecido a fundo.
Long-story short:
Criação de personagens em 5 min (veja por si mesmo (http://apocalypse-world.com/ApocalypseWorld-playbooks.pdf)), classes de personagens evocativas e ligadas ao cenário (e olha que detesto sistema de classes), pouquíssimo planejamento por parte do mestre, combates rápidos com muito decision-making e nenhum cálculo, e o principal - estilo de jogo player-driven embutido no próprio sistema (falo disso mais à frente ). Em outras palavras: um jogo pra quem, como eu, não tem tempo pra perder com criações de personagens longas e combates enfadonhos, MAS curte mecânicas evocativas e um mínimo de profundidade tático-estratégica.
Short-story long:
O jogo é baseado em duas premissas importantes: 1. a idéia de que jogar rpg é, antes de mais nada, uma conversação entre pessoas. 2. a filosofia de player-driven gameplay.
Em cima disso vem sua mecânica de resolução central: - Quando quiser fazer alguma coisa, descreva-a e role os dados. se tiver sucesso, você a faz. se não tiver, a outra pessoa fala o que acontece.
Você sempre rola 2d6 pra tudo, e soma um atributo correlato (Cool, Hot, Hard, Sharp e Weird - Frieza, Charme, Resiliência, Astúcia e Intuição, respectivamente, que vão de -3 a +3). Se tirar 10+, tem sucesso no que deseja. Se tirar de 7-9, tem meio-sucesso: obtém o que queria porém a um custo. Se tirar abaixo de 7, você falhou, e o GM pode fazer o que quiser, dentro do contexto da situação.
Outros princípios importantes:
1. o GM nunca rola dados - todas suas ações são reações às escolhas e decisões dos jogadores.
2. todas as ações possíveis no jogo (tanto por parte dos jogadores, como do GM) já existem formalizadas em uma lista de ações "básicas" (ex: intimidar; manipular; agir sob pressão, etc). Porém cada classe de personagem confere ações adicionais, específicas e geralmente mais poderosas que as ações básicas.
3. é proibido pré-planejar aventuras. É proibido planejar qualquer desfecho para situações ou tramas em que os personagens estejam envolvidos. É proibido proteger NPCs só porque criou com carinho, ou porque pretende que seja o "chefão final" da sua crônica/aventura/dungeon, etc.. O papél do GM é instigar, desafiar e "ver o que acontece" com os personagens dos jogadores através das próprias escolhas e decisões destes, e não criar uma estória/crônica/aventura pré-planejada e guiar os jogadores através desta.
4. é proibido encarar o jogo como uma "narrativa compartilhada" onde os personagens são "heróis/protagonistas" de uma estória e possuem plot-imunity and all that crap. Os jogadores devem se comportar como se os personagens fossem reais, vivendo em um mundo real, e o GM deve reagir a isso respeitando a lógica interna e causalidade desse "mundo real" - em outras palavras, se os PCs forem estúpidos, não tenha piedade. mate-os. Isso não é um story-game.
Isso deve ter soado muito abstrato, então vou dar um exemplo concreto de jogo:
Exemplo 1: "João está tentando passar despercebido pelo guarda vigiando o portão de acesso, que calha de estar cochilando neste momento. João descreve seu personagem subindo no muro sorrateiramente e rola a ação "Acting under Fire" (agindo sob pressão), que funciona assim..
DO SOMETHING UNDER FIRE
When you do something under fire, roll+cool. On a 10+, you do it. On a 7–9, you flinch, hesitate, or stall: the MC can offer you a worse outcome, a hard bargain, or
an ugly choice.
"João rola um 6, ou seja, falhou. O mestre então narra: você cai do muro, fazendo um puta esporro, e o guarda, assustado, se vira e dispara uma rajada de sua submetralhadora na sua direção. Uma bala acerta na sua costela. Tome 2 de dano. O que você faz agora ?"
Alternativamente, se João tivesse tirado entre 7-9 na sua rolagem, o mestre daria a ele um "meio-sucesso" : deixá-lo escolher entre "pular o muro, porém acordar o guarda com o ruído da queda - e este agora está em alerta, e caminhando suspeito na sua direção", ou "pular o muro em silêncio, o guarda continua dormindo, mas sua mochila ficou presa (com sua única arma dentro) lá em cima no pára-peito do muro. O que você faz ?"
Exemplo 2: "Carlota e Vini são dois personagens de jogadores. Carlota está encantada pelo relógio de ouro que Vini encontrou esses dias. Carlota propõe a Vini o seguinte.. você me dá o relógio, e eu faço sexo com você. Ela rola "Seduce/Manipulate" que funciona assim..
SEDUCE OR MANIPULATE
When you try to seduce or manipulate someone, tell them
what you want and roll +hot. For PCs: on a 10+, pick both. On a 7–9, choose 1:
• if they do it, they mark experience
• if they refuse, it’s acting under fire
Carlota rola um 10. Sucesso.
Vini olha na ficha de personagem da Carlota: "Aparência: andrógina; Olhos: peixe-morto; Corpo: raquítico e coberto de tatoos". "Não, obrigado" é sua primeira reação, mas se fizer isso estará dispensando 1 pt de experiência e ainda por cima "Agindo sob Pressão" (e correndo risco de fracassar na rolagem, já que seu atributo "Cool" é fraco). Vini respira fundo e:"Vamos nessa".
Bem, isso é o básico, mas já dá pra ter uma idéia. Quem quiser conhecer as classes e ações existentes, basta dar uma olhada aqui (http://apocalypse-world.com/ApocalypseWorld-playbooks.pdf). E o jogo é tão fácil de adaptar que já até existe uma adaptação inspirada em D&D chamada Dungeon World (http://www.dungeon-world.com/), já muito bem falada.
Eu to tão impressionado com esse jogo que já to pensando em adotá-lo exclusicamente pra todos os jogos que jogar daqui em diante, seja o cenário ou gênero que for. Até abri tópicos semelhantes em outros lugares (http://www.therpgsite.com/showthread.php?t=21713) que frequento (http://forum.rpg.net/showthread.php?610249-Apocalypse-World-really-awesome-or-am-I-missing-something-here) pra saber se essa minha reação é resultado da embriaguês dos ultimos dias, ou se o jogo é bão mesmo. Se alguem aqui conhecer, por favor, diga que não estou maluco (ou que estou :bwaha:).
P.S: aquele TOP 10 RPGs da MTV (http://geek-news.mtv.com/2010/12/27/top-10-rpg-products-of-2010/) fez até pouco juz a ele. Vendo hoje, não seria nenhum absurdo se entrasse em 1º lugar.
-
Olhando por cima, parece um Houses of the Blooded ainda mais estilizado.
-
Heirot, na verdade não tem muito a ver com Houses. Apocalypse é bem tradicional, até old-school eu diria.
O grande lance aqui é que todas as ações que o jogador pode fazer já estão pré-determinadas em uma lista (são chamadas "moves"). Ou seja, imagine que todo o jogo é um grande "combate". Só que ao invés de você escolher fazer ações/manobras como "ataque total" ou "usar poder x" ou "buscar cobertura", aqui você escolhe ações do tipo "agir sob pressão" ou "manipular/convencer" ou "Avaliar uma situação", etc. Ao fazer isso - ao tratar todo o jogo como um "grande combate" - você bota classes de personagens não-combatentes e combatentes no mesmo pé de igualdade e utilidade: não há diferença entre "ataque total" e "seduzir", por exemplo. As mesmas considerações táticas que se costuma fazer dentro do combate, aqui você é forçado a fazer fora dele também.
Se quiser, olha nesse link (http://apocalypse-world.com/ApocalypseWorld-playbooks.pdf) pra entender melhor. (no início são as classes de personagens, e no final tem a lista de "moves", as ações possíveis que falei acima)
-
Tem razão, muito do crunch é oldschool, só foi 'recolorido' e rebatizado.
Pessoalmente, eu gosto de manobras bem definidas ao invés de poderes genéricos e/ou generalistas, como em M&M, para determinados estilos de jogo.
Fica algo 'videogame', mas no bom sentido: contra um inimigo com forças e fraquezas específicas (mas não impossíveis), tu tem que usar a criatividade, e descobrir que tipo de ação usar para deixá-lo vulnerável e vencer, no melhor clima bossfight.
-
Levanta-te e anda ! [topico ressurrected]
Entao, nessas epocas de Mad Max, meu novo grupo pilhou de jogar Apocalypse World. Alguem sabe boas traducoes para os termos "moves" e "psychic maelstrom" ?
Eu pensei em "jogadas" e "foda psiquica", mas nao sei se sao os mais adequados. Tem algo similar a isso no Dungeon World ? Como ficou a traducao naquele ?
*edit*
Só pra registrar alguns nomes que pensei agora:
- A Sombra Psíquica
- A Entidade Psíquica
- O Espectro Psíquico
- A Esfera Psíquica
- A Coisa Psíquica
- O Fode-Mentes
(Hmm gostei desse ultimo)
-
Eu pensei em "jogadas" e "foda psiquica", mas nao sei se sao os mais adequados. Tem algo similar a isso no Dungeon World ? Como ficou a traducao naquele ?
No DW, "move" foi traduzido como "movimento".
Quanto ao Psychic Maelstrom: eu sempre imaginei como uma tempestade, mas a ideia do sorvedouro/sumidouro é boa.
-
Poxa, achei "movimento" meio meh.
E o que seria sorvedouro ou sumidouro, Roque ? Sinonimos de abismo ou algo assim ? (um lugar onde as coisas somem ?)
E pensei em mais alguns:
- a Insanidade
- o Ruído Psíquico
- o Abismo Psíquico
(eu acho "a Insanidade" interessante pois poe em duvida a existência de fato do fenômeno, ou se a coisa toda não passa de uma loucura que mais cedo ou tarde assola a todos nessa terra maldita, ou algo assim)
*edit* Ok, mais uma: o "Caos Psíquico". (lembrando que a tradução mais literal da coisa parece ser Turbilhão Psíquico, mas acho esse termo feio que dói )
-
Boa ideia buscar adotar termos mais pelo feeling do que pelo literal.
Se não curte "Movimento", provavelmente não curtirá "Manobra" tb, então pq não vai direto ao ponto e fica logo com "Ação" (ou "Feito", ou "Abordagem")?
Quanto a Maelstrom, de suas sugestões, as que mais curti foram Caos e Ruído.
Assumindo que o termo original pode significar tanto uma forte corrente de água que sai levando tudo no caminho quanto uma situação de descontrole e forte intensidade emocional (e que Vincent potencialmente quis usar ambos), eu queria deixar mais algumas sugestões (indo das mais fracas para as minhas favoritas): Enxurrada/ Arrastão/ Sobrecarga/ Pesadelo/ Frenesi.
Todas, claro, em conjunto a "Psíquico".
-
Manifestação Psíquica
Tormenta Psíquica
Obliteração Psíquica
Ruptura Psíquica
(gostei de "Fode Mentes" :bwaha:)
-
Valeu galera. Adorei o "Manobras" pra moves, e to entre "Pesadelo" e "Tormenta" pro maelstrom.
Aliás, alguns jogadores do grupo são novos e meio que torceram o nariz pra existência explícita de Psi. Se isso realmente se confirmar, estou pensando em tratar o maelstrom simplesmente como loucura/insanidade, e chamá-lo exatamente assim ("Abrir sua mente para a Loucura"). A justificativa seria que esse mundo é tão fodido que cedo ou tarde você é obrigado a lidar com sua loucura ou sucumbir. ou algo assim.
Mas vou tentar convencer a galera a adotar o maelstrom literalmete, por que eu acho Brainer muito legal.
-
Pensei num conceito de personagem inspirado nessa imagem:
(http://i59.tinypic.com/era0ih.jpg)
Uma espécie de menestrel das wastes, carregando um violão e uma m16 nas costas, pra trazer esperança aos desafortunados e chumbo quente aos corruptos.
Mas to em dúvida sobre que arquétipo se adequa melhor. Tanto o Touchstone como o Hocus ressonam bem com a ideia. No caso do Touchstone seria mais um visionário solitário levando esperança aos povoados que visita. Já no caso do Hocus ele teria um gropo de seguidores fanáticos (fãs de sua música e letras ?), que o seguem pra todos os lados, e inclusive lutam por sua causa.
Ou quem sabe começar como um Touchstone, e no meio do caminho mudar pro Hocus (através daquela opção avançada de progressão de mudar o arquétipo). Isso representaria uma mudança de perspectiva, de uma mais positiva e pacífica (Touchstone) pra uma mais cínica e violenta (o Hocus), inclusive esse ultimo poderia usar os seguidores como uma espécie de guerrilha band pra destronar warlords pela wasteland afora.
O que acham ? Idéias são bem vindas.
P.S: aliás, esse site aqui (http://nerdwerds.blogspot.com.br/2012/12/all-of-playbooks.html) tem uma porção de arquétipos novos, a maioria deles bem elaborada. Recomendo.
-
Não conheço o Hocus e nunca vi um mesa.
Dito isso, acho que a ideia cai bem com um Touchstone. O violão/guitarra pode ser seu "amuleto de esperança". Joguei com um numa campanha recente, e apesar dele ser relativamente pacífico, era bem violento quando a situação demandava.
O playbook funciona muito bem, ainda mais pro que vc quer porque ele tem a opção de adquirir moves de outros playbooks. E "Indomitable" é muito maneiro. Bem, só se lembre que a classe é centrada em "Hard", então se prepare para muitos "Seize by Force".
-
Pois é Bispo, só agora reparei que o Touchstone usa Hard. Hmm.. taí o desafio: quanto tempo você consegue manter sua convicção sem ter que apelar pra violência ?
No mais, andei brincando com essa ideia de troca de arquétipos, ou mesmo de começar com um porém pegar moves de outros durante o jogo, e me veio isso:
- Angel + Savvyhead: Um angel que, após um choque traumático, começa a enxergar pessoas como se fossem objetos. Ele entra em transes em meio a cirurgias e, ao "brincar" com os órgãos internos dos pacientes, tem visões do futuro/presságios. (ele usa o augúrio do Savvyhead, só que com órgãos durante cirurgias, ao invés de peças mecânicas). A ideia de criar um construto vivo (um frankenstein apocalíptico ? ) cada vez o seduz mais.
Dá pra fazer combinações super loucas muito fácil. Vou pensar em mais algumas... :bwaha:
-
Pois é Bispo, só agora reparei que o Touchstone usa Hard. Hmm.. taí o desafio: quanto tempo você consegue manter sua convicção sem ter que apelar pra violência ?
Bom, na minha opinião, aí vai do jogo mesmo. Não é algo prescrito nas regras, mesmo com a ênfase do Touchstone em Hard. Meu personagem mesmo era bastante pacífico, usando da violência somente quando necessário. (Imagine-o como uma mistura de Jason Bourne e Eli, d'O Livro de Eli).
No mais, andei brincando com essa ideia de troca de arquétipos, ou mesmo de começar com um porém pegar moves de outros durante o jogo, e me veio isso:
- Angel + Savvyhead: Um angel que, após um choque traumático, começa a enxergar pessoas como se fossem objetos. Ele entra em transes em meio a cirurgias e, ao "brincar" com os órgãos internos dos pacientes, tem visões do futuro/presságios. (ele usa o augúrio do Savvyhead, só que com órgãos durante cirurgias, ao invés de peças mecânicas). A ideia de criar um construto vivo (um frankenstein apocalíptico ? ) cada vez o seduz mais.
Dá pra fazer combinações super loucas muito fácil. Vou pensar em mais algumas... :bwaha:
Silva fazendo builds? Mas isso não é coisa de wargames que se dizem RPGs? :linguinha:
-
Silva fazendo builds? Mas isso não é coisa de wargames que se dizem RPGs? :linguinha:
Cara sabe que tenho jogado numa mesa de D&D 5ª edição e achando o maior barato ? É, o mundo dá voltas. :haha:
Voltando ao AW, você chegou a imprimir os playbooks, Bispo ? Reparei que estão no formato legal/ofício1 (216 x 355 ), um tipo de folha difícil de encontrar por essas bandas. Quando tentei imprimir em A4 as fontes ficam muito pequeninas, difíceis de ler. Como você fez ?
-
Cara sabe que tenho jogado numa mesa de D&D 5ª edição e achando o maior barato ? É, o mundo dá voltas. :haha:
Que bom, cara. Não pelo DnD, mas por vc warar estar se divertindo. No fim, penso que esse seja o componente principal do RPG.
Voltando ao AW, você chegou a imprimir os playbooks, Bispo ? Reparei que estão no formato legal/ofício1 (216 x 355 ), um tipo de folha difícil de encontrar por essas bandas. Quando tentei imprimir em A4 as fontes ficam muito pequeninas, difíceis de ler. Como você fez ?
Então, quem imprimiu o playbook foi o MC. Nem sei como ele fez. Vou ficar devendo essa.