46
Dicas & Ideias / Re:Como não criar um mundo
« Online: Fevereiro 19, 2015, 02:16:46 am »-Do lado do RPG: Bardos. A origem de seus poderes são descritos como vindo de histórias, poesias e semelhantes. E só. Que histórias são estas? Ninguém sabe. Por que só o personagem é capaz de aprender estes poderes ao invés de todo mundo que conhecer as histórias ser capaz? Ninguém sabe. Que efeitos que estas pessoas com violas mágicas tem no universo? Ninguém sabe.
Magos e clérigos e semelhantes podem ter descrições detalhadas de seu local na sociedade, a estrutura de suas sociedades e a natureza da magia em geral. Bardos? Aqueles caras que tem poderes mágicos de tão bem que tocam, mas que parecem desaparecer da memória coletiva quando não estão na taverna ou no grupo.
Aí já acho implicância sua. Várias culturas têm esse elemento do contador de histórias, do cantor, do aedo... e a questão é que ele representa a memória cultural de sociedades pré-escrita e mesmo nas que já escreviam: esse itinerante vagava pelos lugares e irradiava lendas, folclore e novidades em um tempo sem modos muito eficientes de comunicação à distância.
Conta-se que alguns aedos sabiam épicos inteiros de cor, mas não só "sabiam a história", como você diz, o que não confere assombro nenhum: eles sabiam as histórias palavra por palavra, canto por canto, em verso e rima e epíteto (o próprio verso sendo um recurso mnemônico com o benefício óbvio de melhorar a contação da história). É completamente diferente ouvir a história vinda de um bardo assim do que de um velho bêbado na sarjeta.
Quando as histórias foram finalmente escritas, ninguém de fato se lembrava daqueles que a transmitiam (tanto que muitos acreditam que Homero nem existiu de fato, só precisavam de um nome para dizer que alguém havia composto um corpus de lendas que circulavam por toda a região). Por vezes um autor era atribuído, mas isso é posterior.
Diversas outras culturas e mitologias acreditam no poder da música e/ou das palavras. Pense ainda no poder da performance versus simplesmente "saber a história", ou mesmo no poder da composição de uma música ou poema com palavras, ritmo, sílabas, rimas, cadência versus "falar alguma coisa".
O cantor itinerante tem um papel definidíssimo na sociedade. Engraçado você falar de magos quando, bem, eles não existem... e ignorar completamente que em povoações pré-escrita ou pré-imprensa as notícias, a cultura, o folclore e até a religião só podiam se movimentar através dos mensageiros viandantes que justamente cantavam, recitavam e pregavam.