Para mim, esses grupos da USP levantaram pontos importantes a serem considerados e debatidos. O problema é que o radicalismo da postura e dos argumentos e o estopim ter sido uso de maconha ofuscam a pertinência dessas questões.
Não vou falar do Rodas, cuja trajetória e atuação não acompanhei e ignoro quase por completo. Vou me ater ao tema da presença policial na Universidade, que é o tópico de discussão em outras Universidades (como a UFRJ, onde estudo).
Devemos considerar que o rebuliço foi causado não pelos aspectos legais da presença policial em si, mas sim no significado dessa presença.
Vejamos, como exemplo, um trecho da declaração do Movimento Negação da Negação, envolvido com a ocupação da reitoria: "a Universidade exige o máximo de liberdade e é incompatível com qualquer tipo de restrição, policialesca ou burocrática." Cf.:
http://www.transicao.org/jornal/noticia/territoriolivre/2624Para contrapor, vide nota do PSTU: "A PM não resolveu o problema de combate à criminalidade e, ao contrario iniciou um processo de perseguição e controle dos estudantes e funcionários abordando e revistado-os, entrando em Centros Acadêmicos e prédios de aula, interferindo diretamente nos espaços que deveriam permitir um debate livre e democrático de idéias." Cf.:
http://www.pstu.org.br/juventude_materia.asp?id=13592&ida=0Com isso, podemos destacar dois argumentos centrais desses grupos, que chamarei aki de "radicais".
Primeiramente, a de que a simples presença policial gera repressão e cerceamento da liberdade. Mas cadê os dados concretos sobre? Quais são os meios de repressão policial? Como a presença da PM restringe a liberdade e o debate democrático na Universidade? Falta algo mais concreto na argumentação geral. São palavras jogadas ao vento.
O segundo, e é esse que julgo pertinente, é sobre o modo como age a PM, que seria indevidamente truculenta e incompatível com o tipo de cidadão com quem lidam. O problema é que se parte dessa constatação ao simples repúdio à Polícia, numa lógica segundo a qual: "se eles são maus, queremos eles longe". O que está em jogo, aqui, é o modus operandi da PM. Ora, não é pq ela tem erros em sua atuação que se vai querer que ela fique longe, não é essa a solução.
De todo modo, em ambos os argumentos, há um elemento implícito: uma certa concepção elitista da Universidade, segundo a qual o espaço universitário é de caráter distinto do restante da sociedade e superior em decorrência do saber e da crítica. E daí advém a idéia de que a Universidade deve se manter como espaço livre, para possibilitar o debate crítico e democrático, o que demanda o uso de um conjunto de regras específicas e distintas do resto da sociedade.
Dessa concepção elitista, decorre, ainda, a idéia de que a PM aborda um estudante ou um trabalhador para reprimí-lo. Soa-me paranóico, como se a pessoa policial fosse uma peça de um maquinário regido por uma grupo de conspiradores que querem controlar os estudantes e o pensamento na sociedade. E é como se o status de "estudante" ou de "trabalhador" o isentasse de culpa por seus atos, como se tudo que fizesse, como seus crimes, decorresse de atos politicamente conscientes que anulasse os efeitos legais da ação. No fim das contas, critica-se um tipo de ação policial é legal e com efeitos preventivos eficientes: a abordagem policial.
E, mais uma vez, com a argumentação deficitária dos que denomino radiciais, perde-se um elemento pertinente: o modo como a abordagem é feita. Como essa abordagem deve ser feita? Quais os critérios para se avaliar um transeunte qualquer como supeito e, por isso, legítima a abordagem? Como o PM deve agir e reagir durante uma abordagem? E é claro, nessas condições, as circunstâncias da situação em que o estudante é abordado são irrelevantes - afinal, ser 10 da manhã ou se estar em frente a uma biblioteca não impede a pessoa de estar em situação de ilegalidade.