Fazendo outro Necropost:
Ponto 1, primeira frase: não implica, mas impedir, impedir, também não impede.
Eu ainda estou para ver um monopólio não-coercitivo durar muito tempo. Especialmente se lembrar que as indústrias de medicamentos são reguladas pesadamente por Ministérios da Saúde/FDA, que colocam padrãos consideravelmente altos para que um remédio seja colocado no mercado (isso compensa o custo do oligopólio? Para mim, não muito).
Segunda frase: na verdade, também não vem do Lenin. O que vem do carequinha e todo mundo acha que é do barbudão na verdade é a noção de que o comunismo se daria mais facilmente nos países desenvolvidos, embora a relação não seja direta. O que o Lenin sabia é que, devido à situação de miséria da população na Rússia czarista, foi muito mais fácil começar uma revolução lá. As pessoas estavam putas e tinham muito pouco a perder. No resto da Europa, como as massas tinham mais direitos, mais benesses à disposição, começar uma revolução socialista seria muito mais difícil. Entretanto, Lenin não achava que a revolução russa já tivesse levado ao comunismo; ele acreditava que seria um processo árduo e longo. E ele achava que, se por ventura ocorresse uma revolução num dos países com capitalismo avançado, embora ela fosse muito mais difícil de começar que na Rússia, provavelmente ela levaria ao comunismo muito mais rápido do que a revolução soviética. Eu creio que essas noções foram abandonadas e outras palavras foram colocadas na boca do Lenin pelo stalinismo, mas ainda não tenho nada pra provar essa hipótese. De qualquer forma, vocês não precisam acreditar em mim, e podem checar a fonte de onde eu estou tirando isso: um livro escrito pelo próprio Lenin que se chama Esquerdismo: doença infantil do comunismo. Coisa fina.
Bom, aqui eu vou confiar em você, então considere-me corrigido. ;)
Terceira frase: claro que quando há interferência direta do estado nesse sentido, as Megacorps arranjam monopólio com muito mais velocidade, mas não é necessariamente verdade que quando não há, não acontece. Mas isso é o de menos. O ruim mesmo é considerar que os agentes do mercado e o Estado são sempre entidades separadas que se repelem, e o Estado é um entrave para o funcionamento de um mercado mais livre porque o Estado é assim e pronto. Nada impede de agentes do mercado se apoderarem do estado (seja por meio de ações diretas, como meter seus quadros em posições estratégicas do governo, ou indiretas, usando de lobbys, pressões, e meios menos legais). E isso pode fazer sim com que os próprios agentes causem o colapso do mercado, seja porque determinada empresa acumulou monopólio, seja porque a precarização do trabalho pode acabar com a demanda. De qualquer forma, choque de realidade: se a Microsoft chegou perto de monopolizar o mercado de computadores no fim dos anos noventa, não foi porque o Estado simplesmente deu dinheiro pro Bill Gates.
Note que eu não afirmei que Estado e Mercado se repelem (eu adoraria que isso acontecesse, mas o Fascismo e a Social-Democracia estão aí para provar que essa idéia é errada), mas sim que o Estado não deveria ter poderes que permitam ele de ter tamanha manipulação de eventos que são resolvidos por meio do mercado. A partir do momento que isso passa a acontecer, a infiltração corporativa no Estado é uma consequência natural.
E pelo choque de realidade, estamos falando da mesma Microsoft que tem enfrentado desde 2000 reduções no mercado de SO (corporativo ou de usuário final), servidores, browsers e outras áreas? Como eu disse, monopólios não duram quando não tem um agente coercitivo ao seu lado.
O problema é o "todos"
Aqui eu mando a resposta "Liberal Padrão": Desigualdade não é um problema por si só - Miséria, essa sim é um problema de fato.
pro capitalismo chegar na Índia nos anos 50, ele teve que foder com ela no XIX e no início do XX. E embora graças à revolução verde nós finalmente produzamos alimento suficiente para alimentar o mundo, ela também destruiu muitos métodos tradicionais de agricultura (o que náo necessariamente é ruim), despojando pequenas populações de seus meios produtivos em nome de esquemas fuderosos de agronegócio (dude, that is sick). Como diz o Jameson, de onde eu tirei parte dessas informações, o capitalismo tem que ser visto ao mesmo tempo como a melhor e a pior coisa que nós já produzimos.
Aqui eu tenho que usar uma pergunta: Os indianos durante a colonização britânica (por meio da East Indie Company, que tinha poder monopolístico assegurado pela Coroa) estariam em melhor estado se administrados pelos Rajahs indianos? Pode-se falar o que for do que os britânicos aprontaram por lá, mas eu não vejo como eles seriam ainda piores do que os Moguls ou os Rajs.
Embora seja verdade que a Europa tenha sido um dos bastiões da social-democracia, na era Thatcher-Reagan o arranjo econômico dos países centrais tendeu muito mais para o que se convencionou chamar neoliberalismo do que as práticas fordistas-keynesianas que predominaram desde o pós-guerra até a década de 70 e as crises do final dos 70 e começo dos 80. Não digo que a economia keynesiana foi de todo abandonada (mesmo nos EUA, onde ela sofreu mais desmontes, tudo o mais pode ter sido modificado, mas a maneira como os gastos com defesa estão organizados são muito mais influência pesada do estado decidindo o tipo de investimento que deve ser feito e onde deve ser feito que outra coisa), mas a flexibilização da relação estado-mercado ganhou muita força, e tem uma boa parcela de culpa na crise atual
Só lembrando que Reagan e Tatcher só foram "relativamente liberais" (e aqui estou fazendo uma concessão em tanto, dado que
Reagan foi mais neoconservador do que neoliberal) e não mudaram tanto as "Regras do Jogo" quanto se alega.
Digamos que Reagan está para os Liberais Clássicos assim como Lênin está para os Marxistas Ortodoxos - todo mundo alega que eles são os ícones que levaram esses ideários em prática, mas nem liberais nem marxistas conseguem ver de onde diabos tiraram isso.

(tipo, quase toda.)
Isso aqui é algo que gera discussões incríveis entre economistas austríacos, neoclássicos e neokeynesianos. É um comentário a parte e que não contribui muito, mas tempos desses eu vi (não me lembro onde) um austríaco usando Marx para explicar tal crise.