Autor Tópico: Distopias  (Lida 4508 vezes)

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Offline Malena Mordekai

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Re:Distopias
« Resposta #15 Online: Junho 13, 2012, 07:38:12 pm »
Eu compreendo o orgião-espadão no momento em que, na Reserva, Lenina compara seu ritmo com o das danças das cerimônias primitivas. É um artifício para manter instintos em cheque. E ao mesmo tempo substitui cerimônias de comunhão como a missa e outras.
Dá pra sentir a agonia do Bernard (outro mala, só que em outro sentido: ele é um NERDÃO) ao não conseguir se conectar. Ele é de fato um desajustado.
DEVORAR PARA DECIFRAR
DEVOUR TO DECIPHER

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interesses rpgísticos atuais: FATE, DnD 5e, GUMSHOE System, DnD 4e, Storytelling System (CoD), Powered by the Apocalypse, UNSAFE

Re:Distopias
« Resposta #16 Online: Junho 13, 2012, 07:45:01 pm »
Madruga, do Fahrenheit 451 eu só vi o filme, que é do Truffaut. Confesso que não entendi direito qual é a pegada: se é uma declaração de amor aos livros e ao poder de liberdade que conseguimos através da imaginação, se é um exercício imaginativo sobre as possibilidades do presente, se é uma crítica a partir da subversão de um elemento da nossa realidade, ou se é tudo isso junto. Então acabei não gostando tanto. Você chegou a ler o livro? Qual é a ideia?

Do Ray Bradbury li apenas um: As Crônicas Marcianas, que é o meu livro de Ficção Especulativa favorito. É da década de 50, se não me engano, e narra, em capítulos curtos que levam o nome de datas e estão dispostos em ordem cronológica, a colonização de Marte. É fantástico, em todos os sentidos da palavra, e o autor não se preocupada em nada com o realismo, com a verossimilhança, com a cientificidade da coisa, preferindo construir imagens poéticas em aventuras impossíveis. É lindo, mágico. Recomendo pra todo fã do gênero. E não tem nada de distopia.

Re:Distopias
« Resposta #17 Online: Junho 13, 2012, 07:55:07 pm »
Um livro engraçado que é ao mesmo tempo utópico e distópico é Revolta de Atlas/Atlas Shrugged, da Ayn Rand. Como ela polarizava claramente os personagens (talvez a única exceção seja o Robert Stadler, mas ele pode ser visto como o "Sujeito que Sabe, mas não Age Contra") os Estados Unidos sob comando de Mr. Thompsom se torna lentamente uma distopia parasitária e corporativista, enquanto Galt´s Gunch é uma estranha descrição de uma utopia de egoístas racionais.

Não é exatamente uma distopia no sentido do tópico, mas tem alguns paralelos interessantes com uma sociedade que logo viraria uma distopia.

Offline kinn

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Re:Distopias
« Resposta #18 Online: Junho 13, 2012, 10:57:40 pm »
Madruga, me expressei mal acima. Quando disse ficção, era ficção científica, especificamente.
Mas entendi seu ponto. E eu não sabia que Dostoievsky era cristão. Com a quantidade de ateus e críticas à fé nas suas histórias, parece que ele passava longe da religião e da fé.

E realmente Orwell repete muito seus assuntos. Particularmente só consigo gostar de 1984 e Revolução dos bichos porque li quando era jovem e impressionável. Pesa mais ainda que foram os primeiros livros não maniqueístas e onde o bem não vence no final que li. Isso marcou.
Pesquisas provam:
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Offline VA

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Re:Distopias
« Resposta #19 Online: Junho 14, 2012, 12:23:57 am »
Sei que é apenas marginalmente relacionado ao assunto do tópico, que aborda literatura distópica, mas isso é, no mínimo, interessante:

http://www.huffingtonpost.co.uk/2012/06/12/man-plays-civilisation-ii_n_1589153.html

Re:Distopias
« Resposta #20 Online: Junho 14, 2012, 07:09:04 pm »
Hoje, em meio algumas discussões, surgiu o tema da utopia. Fiquei com uma dúvida que não foi sanada naquele momento.Não achei nada relevante (ou de acesso rápido na internet), eis que lembrei desse tópico.

Em suma, a pergunta: há, por parte da literatura especializada, o deslocamento do eixo de definição de Utopia a partir do século XIX e principalmente XX. Num primeiro momento, o imaginário utópico se projeta no espaço, i.e., se realiza numa extensão geográfica específica (a ilha-reino de Thomas Morus, idealização do Estado, por exemplo). Já num segundo momento, falo da segunda metade do XIX em diante, o imaginário utópico se projetaria não num locus específico, mas sim no tempo, na realização futura de idealizações (teóricos mais "sacanas" diriam que o marxismo seria um exemplo desse novo tipo de utopia).

Levando o parágrafo anterior em conta, em que sentido utopia e distopia se cruzam? Há um sentido genealógico nela, ou sua matriz é diversa? Qual seria a chave do discurso u/dis-tópico?

Edit: Já resolvi minhas dúvidas. Obrigado.
« Última modificação: Junho 15, 2012, 09:16:18 am por Bispo »

Offline Vincer

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Re:Distopias
« Resposta #21 Online: Junho 16, 2012, 12:23:05 am »
Eu sinceramente não sei quais as definições corretas mas definitivamente vi diferentes apropriações tanto do termo utopia quanto distopia. Elas (distopias) partem de uma proposta anti-utópica onde uma utopia só seria possível de forma aparente, trazendo uma realidade preocupante ou aterradora sob essa aparência. Mas isso ficou tão marcado pela abordagem de estado controlador/controle das massas que se tornou sinônimo de distopia. Então não sei até que ponto o termo deveria se aplicar apenas a esses casos ou se serviria a um âmbito maior de falsa utopia(não importando como for a abordagem). Eu particularmente só conheço exemplos já citados aqui com essa crítica política.

Offline Batata

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Re:Distopias
« Resposta #22 Online: Junho 19, 2012, 01:10:16 pm »
Bom, sendo um fanático por Rush, eu estou esperando apreensivamente pelo livro baseado no último disco Clockwork Angels ficar disponível. Se trata de uma distopia, que se passa em um cenário Cyberpunk, com alquimia, dirigíveis, piratas e cidades perdidas.

Não sei exatamente se algum de vocês já leu algo do Neil Peart (livros ou textos em seu site pessoal), mas eu considero incrível o fato de citar um baterista como um de meus autores prediletos.

O meu post parece meio fora de contexto dentro do tópico, mas vou direto ao ponto:

Depois de ler comentários do Elfo (Dr. Strangelove) sobre Atlas Shrugged (neste tópico e no dos "livros de cabeçeira"), e também sendo um grande admirador dos resumos de Eberron, eu estou ansioso por ler uma futura resenha dele aqui no tópico.

Por isso Elfo, peço que considere carinhosamente esse pedido, e abra um espaço dentro da tua agenda de próximos livros para ler!

/Fim do agarramento de testítculos.
« Última modificação: Junho 19, 2012, 01:12:44 pm por Batata »

Offline Madrüga

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Re:Distopias
« Resposta #23 Online: Junho 20, 2012, 01:00:16 pm »
Eu sinceramente não sei quais as definições corretas mas definitivamente vi diferentes apropriações tanto do termo utopia quanto distopia. Elas (distopias) partem de uma proposta anti-utópica onde uma utopia só seria possível de forma aparente, trazendo uma realidade preocupante ou aterradora sob essa aparência. Mas isso ficou tão marcado pela abordagem de estado controlador/controle das massas que se tornou sinônimo de distopia. Então não sei até que ponto o termo deveria se aplicar apenas a esses casos ou se serviria a um âmbito maior de falsa utopia(não importando como for a abordagem). Eu particularmente só conheço exemplos já citados aqui com essa crítica política.

Mas utopia é um termo moderno (ACHO que cunhado pelo próprio Thomas More), então as análises que levam em conta esse conceito são... retroanálises.

Utopias (a meu ver) têm um cunho político-social. Elas são idealizações e expectativas com um pé na realidade, não chegando a ser míticas. Queria ver o que a galera aqui acha dessa definição.

Se utopia é algo moderno, é possível aplicar o conceito na República de Platão, por exemplo, mas não nos mitos de Avalon ou do País da Cocanha (que são materializações de desejos mais enraizados no próprio mito, não evoluções sociais -- pense, por exemplo, na volta de um rei morto [mítico] ou na comida que flui do chão).

Em suma, a pergunta: há, por parte da literatura especializada, o deslocamento do eixo de definição de Utopia a partir do século XIX e principalmente XX. Num primeiro momento, o imaginário utópico se projeta no espaço, i.e., se realiza numa extensão geográfica específica (a ilha-reino de Thomas Morus, idealização do Estado, por exemplo). Já num segundo momento, falo da segunda metade do XIX em diante, o imaginário utópico se projetaria não num locus específico, mas sim no tempo, na realização futura de idealizações (teóricos mais "sacanas" diriam que o marxismo seria um exemplo desse novo tipo de utopia).

A ideia de utopia/distopia não seria meramente uma transformação da sociedade vigente?

Esses ideais de sociedades mais antigas levavam em conta não só outras localidades (mas principalmente, já que parecia impossível que a própria sociedade se alterasse), mas também uma realidade diferente. Penso em, sei lá, Atlântida, Ávalon, o País da Cocanha, a terra da flor de pêssego, El Dorado, Hyperborea, o reino do Preste João... era um paraíso transferido, era outro lugar.

O livro Utopia pode ser o meio do caminho, pois descreve um lugar alhures, mas sem a carga mítica desses paraísos terrestres que citei antes.

A partir daí, utopias e distopias parecem se focar num futuro possível/provável/verossímil. A palavra "utópico" começa a ter sentido pejorativo. Distopias vão dominando o pensamento e as obras começam a pipocar. Por envolver o futuro, elas vão inevitavelmente misturando palpites tecnológicos e, consequentemente, parecem lidar com ficção científica. O que muda é o foco. Boa parte dos livros que citamos aqui (no começo do tópico) não se foca no fator tecnológico (e no "Iron heel" as citações são quase inexistentes, o foco é completamente político).

Acho que já passei do ponto e já virou groselha. Mas é isso.
"If there are ten thousand medieval peasants who create vampires by believing them real, there may be one -- probably a child -- who will imagine the stake necessary to kill it. But a stake is only stupid wood; the mind is the mallet which drives it home."
-- Stephen King, It (p. 916)