Eu sinceramente não sei quais as definições corretas mas definitivamente vi diferentes apropriações tanto do termo utopia quanto distopia. Elas (distopias) partem de uma proposta anti-utópica onde uma utopia só seria possível de forma aparente, trazendo uma realidade preocupante ou aterradora sob essa aparência. Mas isso ficou tão marcado pela abordagem de estado controlador/controle das massas que se tornou sinônimo de distopia. Então não sei até que ponto o termo deveria se aplicar apenas a esses casos ou se serviria a um âmbito maior de falsa utopia(não importando como for a abordagem). Eu particularmente só conheço exemplos já citados aqui com essa crítica política.
Mas utopia é um termo moderno (ACHO que cunhado pelo próprio Thomas More), então as análises que levam em conta esse conceito são... retroanálises.
Utopias (a meu ver) têm um cunho político-social. Elas são idealizações e expectativas com um pé na realidade, não chegando a ser míticas. Queria ver o que a galera aqui acha dessa definição.
Se utopia é algo moderno, é possível aplicar o conceito na
República de Platão, por exemplo, mas não nos mitos de Avalon ou do País da Cocanha (que são materializações de desejos mais enraizados no próprio mito, não evoluções sociais -- pense, por exemplo, na volta de um rei morto [mítico] ou na comida que flui do chão).
Em suma, a pergunta: há, por parte da literatura especializada, o deslocamento do eixo de definição de Utopia a partir do século XIX e principalmente XX. Num primeiro momento, o imaginário utópico se projeta no espaço, i.e., se realiza numa extensão geográfica específica (a ilha-reino de Thomas Morus, idealização do Estado, por exemplo). Já num segundo momento, falo da segunda metade do XIX em diante, o imaginário utópico se projetaria não num locus específico, mas sim no tempo, na realização futura de idealizações (teóricos mais "sacanas" diriam que o marxismo seria um exemplo desse novo tipo de utopia).
A ideia de utopia/distopia não seria meramente uma transformação da sociedade vigente?
Esses ideais de sociedades mais antigas levavam em conta não só outras localidades (mas principalmente, já que parecia impossível que a própria sociedade se alterasse), mas também uma realidade diferente. Penso em, sei lá, Atlântida, Ávalon, o País da Cocanha, a terra da flor de pêssego, El Dorado, Hyperborea, o reino do Preste João... era um paraíso transferido, era
outro lugar.
O livro
Utopia pode ser o meio do caminho, pois descreve um lugar alhures, mas sem a carga mítica desses paraísos terrestres que citei antes.
A partir daí, utopias e distopias parecem se focar num futuro possível/provável/verossímil. A palavra "utópico" começa a ter sentido pejorativo. Distopias vão dominando o pensamento e as obras começam a pipocar. Por envolver o futuro, elas vão inevitavelmente misturando palpites tecnológicos e, consequentemente, parecem lidar com ficção científica. O que muda é o foco. Boa parte dos livros que citamos aqui (no começo do tópico) não se foca no fator tecnológico (e no "Iron heel" as citações são quase inexistentes, o foco é completamente político).
Acho que já passei do ponto e já virou groselha. Mas é isso.