Mas as piadas fazem mal mesmo quando são ouvidas só por gentinha descolada que curte esse humor ousado e corajoso. Servem pra encorajar preconceitos que já existem, e tornar aceitável todo tipo de discriminação, afinal tem tanta gente rindo junto comigo daqueles pretos/viados/judeus, essa laia deve ter problema mesmo! Mesmo que o indivíduo não se dê conta disso de forma consciente, esse sentimento influi na hora de escolher um preto com cara de macaco na entrevista de emprego. Ou fechar um olho quando vê uma dessas sub-pessoas sendo agredida verbalmente por uma pessoa diferente, com um preconceito igual. Ou destratar um desses por ter a audácia de namorar com a sua filha. E por aí vai.
Tenho minhas dúvidas e acredito que isso depende mais da região onde vivem do que "gentinha descolada". Dando um exemplo pessoal, aqui no interior Paraná (tanto no Norte ou atualmente vivo quanto no Sul) as piadas de negros, por exemplo, não parecem causar o mesmo efeito de repulsa ou de quesito racial como no Rio de Janeiro.
Sábado mesmo, um cara negro foi jogar bola e levou o seu filho de uns 7 anos. O molequinho tava trepado em uma caçamba de Saveiro, e o pai disse: "Sai daí moleque que tu vai cair". O cara do lado disse "Nem esquente, ele é um macaquinho". O pai respondeu "Oh vagabundo, eu escutei essa hein!" e dando risada porque ele mesmo achou engraçado.
Já quando fui no Rio de Janeiro, já senti uma certa tensão racial nesse meio, no sentido de "ah você tem esse costume porque é branco do Sul", "lá tem muita branquinha gata né?".
Nunca na minha vida me chamaram de "branco" por motivo algum. Até porque nem me vejo com identidade ou característica de branco ou pardo.
Devido a isso, tenho lá minhas dúvidas se tais piadas irão mesmo reforçar tão fortemente esses preconceitos. Talvez isso seja diferente de uma região para outra. A ponto de não ver nenhum exemplo real de piadas de "negro = cagada", "japonês = pau pequeno", "gaúcho = viado", "loira = burra" de fato ter se prejudicado por causa de estereótipos.