Exército do Egito cria comitê para contrapor influência de religiosos
[hs width=600]http://edgblogs.s3.amazonaws.com/ofiltro/files/2011/12/Egito_SCAF_6201.jpg[/hs]
O Conselho Supremo das Forças Armadas (SCAF, na sigla em inglês) do Egito decidiu intervir para evitar que os partidos religiosos determinem os rumos que o Egito terá na transição após a queda de Hosni Mubarak. O segundo turno da primeira fase das eleições parlamentares, realizado no início desta semana, comprovou o triunfo do Partido Justiça e Liberdade (PJL), ligado à Irmandade Muçulmana, que ficou com 30 das 50 cadeiras em jogo. Os ultraconservadores salafistas do Al-Nour ficaram com seis cadeiras, mesmo número do Bloco Egípcio, de tendência secular e liberal.
A proeminência do PJL e do Al-Nour, que deve ser confirmada nas próximas duas fases da eleição, em dezembro e janeiro, fez com que o SCAF entendesse que o novo parlamento não será “representativo de toda a sociedade”, como disse o general Mukhtar Mulla, segundo a agência Associated Press. Assim, para contrapor a influência religiosa, o SCAF decidiu intervir na formação da Assembleia Constituinte, que contará com 100 membros e será escolhida pelo parlamento. Segundo Mulla, um conselho vai supervisionar a escolha dos 100 parlamentares constituintes, trabalhando em conjunto com o parlamento e o gabinete liderado pelo primeiro-ministro Kamal Ganzouri (que também responde ao SCAF), para garantir representação proporcional de todos partidos políticos, profissões e religiões.
Segundo a AP, o Al-Nour criticou a medida do SCAF, dizendo que ela era uma reprodução do comportamento da ditadura Mubarak. Saad al-Katatny, secretário-geral do PJL, disse que seu partido concorda que a Assembleia Constituinte reflita a sociedade egípcia e não o parlamento, mas que o SCAF não deve “guiar ou supervisionar” a escolha.
A vitória religiosa nas urnas deve fazer com que os grupos liberais se distanciem da Irmandade Muçulmana, que aparentemente tenta moderar seu discurso, comecem a ver os militares de forma diferente, como os garantidores do Estado civil no Egito.
O resultado foi um golpe devastador para a juventude que liderou o levante, majoritariamente secular e liberal. E apesar de serem altamente críticos do governo militar e de recentemente terem iniciado uma nova onda de protestos exigindo que os generais entregassem o poder a uma autoridade civil, as coisas mudaram com as eleições. Alguns liberais podem encontrar consolo na tentativa militar de proteger a constituição de tendências islamistas ultraconservadoras. “Muitas forças liberais, que antes eram contra a interferência dos militares, não vão se opor sempre que houver uma tentativa [por parte dos islamistas] de alterar direitos civis básicos”, disse Ammar Ali Hassan, um analista político.
Quando puseram um regime de exceção eu temi que eles simplesmente nunca fossem sair, mas sinceramente não esperei que a coisa fosse ficar desse jeito.