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ÁREA SOCIAL => Off-Topic => Tópico iniciado por: Agnelo em Dezembro 08, 2011, 01:21:24 pm

Título: Exército do Egito cria comitê para contrapor influência de religiosos
Enviado por: Agnelo em Dezembro 08, 2011, 01:21:24 pm
Exército do Egito cria comitê para contrapor influência de religiosos

[hs width=600]http://edgblogs.s3.amazonaws.com/ofiltro/files/2011/12/Egito_SCAF_6201.jpg[/hs]

O Conselho Supremo das Forças Armadas (SCAF, na sigla em inglês) do Egito decidiu intervir para evitar que os partidos religiosos determinem os rumos que o Egito terá na transição após a queda de Hosni Mubarak. O segundo turno da primeira fase das eleições parlamentares, realizado no início desta semana, comprovou o triunfo do Partido Justiça e Liberdade (PJL), ligado à Irmandade Muçulmana, que ficou com 30 das 50 cadeiras em jogo. Os ultraconservadores salafistas do Al-Nour ficaram com seis cadeiras, mesmo número do Bloco Egípcio, de tendência secular e liberal.

A proeminência do PJL e do Al-Nour, que deve ser confirmada nas próximas duas fases da eleição, em dezembro e janeiro, fez com que o SCAF entendesse que o novo parlamento não será “representativo de toda a sociedade”, como disse o general Mukhtar Mulla, segundo a agência Associated Press. Assim, para contrapor a influência religiosa, o SCAF decidiu intervir na formação da Assembleia Constituinte, que contará com 100 membros e será escolhida pelo parlamento. Segundo Mulla, um conselho vai supervisionar a escolha dos 100 parlamentares constituintes, trabalhando em conjunto com o parlamento e o gabinete liderado pelo primeiro-ministro Kamal Ganzouri (que também responde ao SCAF), para garantir representação proporcional de todos partidos políticos, profissões e religiões.

Segundo a AP, o Al-Nour criticou a medida do SCAF, dizendo que ela era uma reprodução do comportamento da ditadura Mubarak. Saad al-Katatny, secretário-geral do PJL, disse que seu partido concorda que a Assembleia Constituinte reflita a sociedade egípcia e não o parlamento, mas que o SCAF não deve “guiar ou supervisionar” a escolha.

A vitória religiosa nas urnas deve fazer com que os grupos liberais se distanciem da Irmandade Muçulmana, que aparentemente tenta moderar seu discurso, comecem a ver os militares de forma diferente, como os garantidores do Estado civil no Egito.


O resultado foi um golpe devastador para a juventude que liderou o levante, majoritariamente secular e liberal. E apesar de serem altamente críticos do governo militar e de recentemente terem iniciado uma nova onda de protestos exigindo que os generais entregassem o poder a uma autoridade civil, as coisas mudaram com as eleições. Alguns liberais podem encontrar consolo na tentativa militar de proteger a constituição de tendências islamistas ultraconservadoras. “Muitas forças liberais, que antes eram contra a interferência dos militares, não vão se opor sempre que houver uma tentativa [por parte dos islamistas] de alterar direitos civis básicos”, disse Ammar Ali Hassan, um analista político.

Quando puseram um regime de exceção eu temi que eles simplesmente nunca fossem sair, mas sinceramente não esperei que a coisa fosse ficar desse jeito.
Título: Re:Exército do Egito cria comitê para contrapor influência de religiosos
Enviado por: Torneco em Dezembro 08, 2011, 11:34:50 pm
Estamos em tempos loucos. Primeiro, vemos o povo lutar por seus direitos e tirar do poder ditadores com séculos de estadia no poder. E agora, vemos as forças armadas, que normalmente são as que costumam liderar golpes e manter a ditadura buscando proteger os direitos do povo. O que mais falta eu ver agora? Um político ser cassado aqui no Brasil?
Título: Re:Exército do Egito cria comitê para contrapor influência de religiosos
Enviado por: Elven Paladin em Dezembro 09, 2011, 01:38:06 am
Não é exatamente defender os direitos populares, Torneco.

Tradicionalmente, as Forças Armadas de países islâmicos (seja do Oriente Médio, seja do Norte da África) são altamente influenciados pelo ideário positivista e pelos instrutores militares franceses, alemães e ingleses desde o século XIX, o que faz que embora vivam em países altamente islamizados, elas sejam defensoras incorrigíveis do secularismo á francesa.

A maior expressão disso é o kemalismo (http://en.wikipedia.org/wiki/Kemalism) turco, que tem aos trancos e barrancos, mantido a Turquia como uma democracia secular em um país com uns 95% de população islâmica, ao custo de terem iniciado o primeiro genocídio moderno (armênio) e feito uns 3 ou 4 golpes militares (mas retornado á democracia em um ou dois anos).

Por outro lado, não é por algo ser majoritariamente islâmico que não será democrático - a Irmandade Islâmica no Egito é uma defensora da democracia a anos, mas concepção democrática dela é diferente da que nós costumamos a aceitar (a começar, eles não são laicos).
Título: Re:Exército do Egito cria comitê para contrapor influência de religiosos
Enviado por: Agnelo em Dezembro 09, 2011, 07:58:55 am
Pois é elfo, eu tenho visto algo assim mesmo.

Mas a minha maior preocupação, e do exército egípcio também, pelo jeito, é o al-nour, e a influencia que ele pode exercer numa assembléia constituinte.

Eu temo pelo estragos que podem acontecer num país onde a democracia seja implantada sem tolerância a quem não faz parte da maioria.

Eu ainda não sei ao certo quem é o mocinho dessa história, se é que existe um, mas sei que vamos ter um punhado de vítimas.
Título: Re:Exército do Egito cria comitê para contrapor influência de religiosos
Enviado por: Agnelo em Dezembro 21, 2011, 11:18:47 am
Violência do Exército do Egito contra mulheres choca o mundo; veja (http://www1.folha.uol.com.br/mundo/1024293-violencia-do-exercito-do-egito-contra-mulheres-choca-o-mundo-veja.shtml)
Título: Re:Exército do Egito cria comitê para contrapor influência de religiosos
Enviado por: Skar em Dezembro 22, 2011, 12:39:29 am
mulheres e crianças sempre são as pessoas que mais sofrerem com revoltas. Eu realmente espero que consigam criar um ambiente que seja possível reorganizar o governo, embora não acredite muito nessa possibilidade.
Título: Re:Exército do Egito cria comitê para contrapor influência de religiosos
Enviado por: Elven Paladin em Dezembro 22, 2011, 04:56:30 am
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Mas a minha maior preocupação, e do exército egípcio também, pelo jeito, é o al-nour, e a influencia que ele pode exercer numa assembléia constituinte.

Pois é, eles são afiliados á interpretação islâmica mais próxima do fundamentalismo cristão, se associando a idéias como "retorno ás raízes", ausência de inovação (em matéria teológica) e literalismo na interpretação da Sharia e do Corão.

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Eu temo pelo estragos que podem acontecer num país onde a democracia seja implantada sem tolerância a quem não faz parte da maioria.

Os primeiros anos de uma democracia são quase sempre, mais violentos e conturbados do que o regime anterior. Contudo, parece-me que há um futuro democrático sim no Egito, mas ser democrático não implica ser secular, tolerante ou "liberal", e sim respeitar as decisões da maioria, proteger alguns direitos básicos dos indivíduos, direitos esses geralmente cláusulas pétreas, e haver eleições "limpas" e em prazos determinadas. Veremos se essa "Democracia á moda Islâmica" engrena.

Particularmente, eu tenho dúvidas honestas se uma democracia islâmica é preferível á uma ditadura secular, embora quero acreditar que a primeira alternativa será melhor a longo prazo.