Mandaram-me escrever alguma coisa pra abrir minha coluna. Qualquer coisa. Mas poxa, escrever “qualquer coisa” é justamente tudo que sou contra. Na Spell tenho a (injusta, devo pontuar) fama de ser um ranzinza e uma das minhas maiores reclamações é quando alguém começa a postar nos tópicos só por postar, falar/digitar pelos cotovelos coisas que parece que não apenas não conhece como nem parou pra pensar a respeito. O que pensei logo em seguida foi o mais interessante: “ei, todas as pessoas da Spell também são assim! Aliás, a maior prova é justamente o fato de serem todos assim e ainda virem reclamar de mim! Nunca vi pessoas tão chatas! Ranzinzas, implicantes e... putz, como isso é legal!”

É por isso que a primeira coisa que escrevo não é “qualquer coisa”, é a coisa toda, é o charme e a repelência da Spell e é provavelmente a pior maneira para começar, o pior tema para escrever, e faço isso justamente porque também estou nesse balaio: nós não somos bonzinhos, somos sinceros!

Você que não está familiarizado com os freqüentadores deste local que caiu de pára-quedas, não tenha a impressão errada. Não é que sejamos intelectualóides e gostemos de exigir erudição e pertinência em cada post. É bem pior do que isso: se ao menos a Spell fosse um antro cultural que quer manter discussões de alto nível e usuários com conhecimentos relevantes, ainda se justificaria. Mas não, não somos. Somos apenas pessoas que gostam muito de RPG (muito mesmo!), de debater toda e qualquer coisa e fazer piada sobre absolutamente tudo.  Ah, é claro, me desculpe: e somos sinceros. Incomodamente sinceros.

Todos os adjetivos ruins que dizem da Spell e seus usuários são verdadeiros – possivelmente a realidade seja ainda pior – e talvez a exceção seja só uma: definitivamente não somos um grupo fechado, tampouco hostis a novos usuários. Você pode conseguir depoimentos de dezenas de usuários que confirmem isso. A cada ano que passa, temos uma grande quantidade de novos membros ativos, uma constante renovação de elenco, e estes sobreviventes costumam não largar mais esse canto virtual. E eu disse “sobreviventes” não foi à toa, porque o que na verdade acontece é que somos tão implicantes com novos usuários quanto somos uns com os outros. Simplesmente não gostamos de ler “qualquer coisa” e vamos fazer piadas de suas piadas infames (logo, aprenda a rir de si mesmo), vamos apontar suas incoerências em debates sérios e ai de você se usar alguma falácia (portanto, aprenderá a debater). Eu, que tenho um ego tão grande a ponto de ser uma entidade separada, tive de ter a humildade de abaixar a cabeça a aprender com a Spell.

Mais de uma vez ouvi dizer que existe certa homogeneidade entre os RPGistas, que se formos a encontros de RPG ou a fóruns encontraremos uma maioria absoluta que gosta de ouvir metal, adoram animes e mangás e outros estereótipos. Essa pessoa não conhecia a Spell.  Aqui conheci pessoas que amam todos os estilos de música; tem quem realmente goste muito de mangá, mas um número igual ou maior de quem odeia; alguns que entendem muito de computador e outros que mal sabem ligar seu PC; pessoas de todas as idades, de 10 aos 40 anos. Não, essas pessoas não se amam, não dão as mãos e cantam “Why cant we be friends?” (hahaha, você realmente esperava isso depois de tudo que eu disse?!). Elas vivem se alfinetando e criticando umas às outras, mas os “sobreviventes”, todos eles, (quase) sempre têm a grandeza de espírito de saber ouvir críticas.

Não vou ficar mais embromando. Está tarde e tenho muito que fazer de minha vida ao invés de dar atenção a vocês. Então prestem atenção: se você não está familiarizado com a Spell e desejar fazer seu cadastro, saiba que sofre um sério risco de adição. Estou nessa joça há nove anos e por mais que eu xingue, reclame, despreze, sempre volto. Porque no final das contas, não importe por onde você rode nesse mundo internético, não encontrará local mais engraçado, insano, plural e possível de ter debates de qualidade com pessoas ridiculamente diferentes.

Então não vou dizer “seja bem-vindo a Spell”, porque não seria realista. Digo, no entanto: “se ferrou! Aperte os cintos e curta a viagem!” Porque não somos bonzinhos, não queremos nos entupir de pessoas que vão nos obrigar a usar o saco de vômito nessa viagem. Queremos gente interessante, de qualquer tipo. E, claro, que você continue a ler minha coluna, inflando essa entidade que dizem ser meu ego.