Autor Tópico: Editora de RPG no Brasil: é possível?  (Lida 2054 vezes)

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Editora de RPG no Brasil: é possível?
« Online: Março 18, 2015, 08:21:31 pm »
Respondendo à pergunta-título: sim, é possível. Só olhar a quantidade de material pipocando no mercado nacional ultimamente (via financiamento coletivo ou não).

Mas daí mesmo que veio também a dúvida: a galera tá sabendo administrar, ou mais simplesmente, ter uma boa ideia do que é bancar uma editora de RPGs no Brasil?

Alguns dias atrás, recebi um e-mail do Guilherme Moraes desculpando-se, de novo, pelos atrasos na entrega dos produtos do Catarse do Savage Worlds (veja, uma campanha bem-sucedida em 2012!). No mesmo texto, o Moraes ainda põe em dúvida, de maneira bem frustrada e frustrante, o próprio futuro da Retropunk.

Na mesma época, troquei umas ideias com um editor/dono de uma dessas novas editoras nacionais de RPG sobre um produto que eles irão lançar em breve e do qual particularmente gosto (pra não entregar, só pense "13 e confirma"). Pareceu-me que, apesar da boa vontade e iniciativa, a editora não tem um planejamento em torno do produto. Mesmo o marketing básico deixa a desejar (página no Facebook que mais retransmite conteúdos de outros produtos do que o original para a qual foi criada? Check).

Por fim, a Solar Entretenimento hoje desculpou-se com os apoiadores, dizendo que a entrega do FATE/FAE irá atrasar em relação ao previsto no financiamento coletivo.

E aí, quais as ideias de vocês para uma (boa) editora de RPG no Brasil?

PS: Sobre financiamentos coletivos e atrasos: sim, sei que fazem parte. Diversos fatores contam nessa matemática nem sempre exata (números de apoiadores, grana arrecadada, metas extras alcançadas, taxas/cobranças/preços adicionais, imprevistos [com a gráfica, por exemplo]). E isso vale pros Kickstarters da vida. De maneira geral, não me importo muito com isso. Mas ter prazos irreais (e principalmente valores de recompensa E FRETE) demonstra um pouco de amadorismo e falta de uma avaliação mais séria do produto/iniciativa por parte da empresa por trás do projeto.

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Re:Editora de RPG no Brasil: é possível?
« Resposta #1 Online: Março 19, 2015, 09:44:38 am »
Existem ótimos títulos nacionais, e estamos melhorando cada vez mais na apresentação final do produto.

Essa é a visão de consumidor e foleando um livro nacional, vemos menos erros e melhor qualidade no acabamento.

MAAAAAS o que devemos nos perguntar é: a que custo isso foi feito?

Atrasos? Confere. Erros de negociação e desentendimentos com autores e ilustradores? Também confere. Marketing ineficiente ou inexistente? Confere.

Muitos encaram financiamento coletivo como uma "loja on-line" e esse é um dos erros mais grotescos que a editora pode cometer. Nehuma editora deveria visar lucro com financiamento coletivo.

Seguindo este pensamento, nenhuma editora deveria vislumbrar um financiamento coletivo como ÚNICO investimento monetário de um projeto. Ou você acredita no produto e investe grana ou não se dê ao trabalho de lançar. Essa postura faz de você um entusiasta, não um profissional. Existe um abismo entre eles.

Ter amor à camisa do "RPG Nacional" é até bonito de ver, mas pra isso, crie um blog e lance seu jogo, pronto.

Ser uma editora de RPG é:
1. ver como uma mídia de papel pode capturar um público cativo
2. investir em ideias que correspondam a qualquer expectativa que o público do item 1 pode ter
3. criar uma identidade visual do produto: estilo de arte, layout agradável, formato do livro
4. juntar tudo em uma campanha publicitária que tenha mais de um canal. Só Facebook é furada com as recentes mudanças. Mídias sociais e portais gerenciados por formadores de opinião é uma ótima alternativa, e não sai de graça (nem o seu livro é, proque esperar caridade dos outros).
5. Ser realista nas metas e dar continuidade (mesmo que seja um livro de 30 páginas a cada 6 meses) e suporte à linha criada. O que o seu público prefere? 5 livros básicos diferentes ou 2 linhas sólidas com lançamentos regulares?
6. e nunca, mas NUNCA, culpe o público pelas cagadas que VOCÊ (e mais ninguém) fez nos itens acima.
"The secret we should never let the gamemasters know is that they don't need any rules." - Gary Gygax

"RPG é pra jogar, c@r#$ho!!! Abandone o ódio e vai jogar alguma coisa" - Eu

Re:Editora de RPG no Brasil: é possível?
« Resposta #2 Online: Março 20, 2015, 02:43:44 pm »
Como alguém relativamente alheio ao cenário de RPG Nacional, quais são as editoras daqui que tem lançamentos mais ou menos regulares? Eu só tenho em mente duas, a Jambô e a Redbox. Existe alguma outra?

Quando ao que saiu de financiamento, até onde eu sei a maioria dos RPG foram anunciados por o que seria novas empresas, e bem, não é uma surpresa que novas empresas não sejam regulares e previsíveis como velhas editoras (se bem que, isso me lembra do Kickstarter de Exalted 3 e dos atrasos regulares da Onyx Path. Ou da Devir).


Re:Editora de RPG no Brasil: é possível?
« Resposta #3 Online: Março 31, 2015, 10:18:59 am »
Vamos lá, também financiei o Savage Worlds da Retropunk, também recebi os emails no que se tornou uma "Novela". O detalhe mais interessante é que eles precisam entregar o que prometeram ou então devem devolver todo o dinheiro. Ou seja, já estão na situação loss-loss

Dito isso, financiamentos coletivos - como definidos por um cara mais inteligente que eu - gastam a boa vontade das pessoas, mais que o dinheiro.

Toda vez que uma empresa faz um FC, ela está gastando essa "moeda".
Portanto é importante entender que não é só uma pré-venda.

Outro detalhe que todas aprendem a duras penas é o pesadelo logístico do FC somado ao pesadelo normal de traduzir e publicar um produto. Encaixe aí um dimensionamento equivocado de receitas, custos e prazos e BANG! receita pra desastre.

e claro, imagine colocar no meio de todos esses pesadelos, mais um, de organizar uma campanha de divulgação e tal do produto que você vai lançar, porque - como dito abaixo, sabiamente - não se deve enxergar o FC como único método de capitalização em cima do produto.

Re:Editora de RPG no Brasil: é possível?
« Resposta #4 Online: Abril 04, 2015, 05:23:21 am »
Citação de: Elfo
Como alguém relativamente alheio ao cenário de RPG Nacional, quais são as editoras daqui que tem lançamentos mais ou menos regulares? Eu só tenho em mente duas, a Jambô e a Redbox. Existe alguma outra?

Primeiro você tem que definir o que quer dizer por "regular". Com certeza, o "regular" do mercado americano é possivelmente diferente de um "regular" do Brasil. Na minha opinião, qualquer editora brasileira que lance mais de três produtos ligados ao RPG num ano, poderia se classificada como tal. Dito isto, além destas que você mencionou, tem a Devir (embora mais na linha de promessas do que realmente algo concreto), a Retropunk (se você considerar as publicações em formato digital). A New Order, em 2015, já vem contando Yggdrasill, L5A e provavelmente 13E (acrônimo do 13th Age em português).



Bom, a ideia do tópico era ser mais abrangente com a ideia de editora de RPG no Brasil. Mas como o foco seguiu pro financiamento coletivo -- talvez por minha causa mesmo --, vamos a ele.

Sim, eu penso que a maioria dos proponentes de financiamentos coletivos no Brasil não têm ideia dos custos totais de um produto de RPG (livro principalmente) no nosso país. É um mercado extremamente volátil, porque calcado em royalties e em moeda estrangeira. Um dólar em disparada como nos últimos tempos afeta toda a cadeia produtiva: dos direitos do RPG até o papel usado para imprimi-lo. É complicado. Imagino que a maioria dos projetos já saiam no prejuízo, considerando o tempo entre financiamento e produção efetiva do produto.

Por outro lado, existe essa ideia por parte de muito editor de que  financiamento coletivo é fonte de renda, isto é, o que você arrecadou é diretamente o seu "lucro". FC não tem lucro, cara! (Ou algo digno desse nome, embora existam exceções: um Exploding Kittens e seu mais de 8 milhões de dólares deve ter dado um retorno razoável a seus idealizadores). Mas a realidade é bem diferente disso. Este bom artigo sobre a economia dos FCs mostra como a rentabilidade de um projeto para seu idealizador chega a ser menos de 10% do valor arrecadado. Mas, enfim, a gente pode abrir outro tópico para discutir FCs.

Parece-me que o que vem acontecendo no mercado de RPG do Brasil, proporcionado pela existência de FCs, é algo semelhante ao circuito de shows realizados no país nos últimos anos: aposta em grandes "marcas" com histórico consolidado no mercado. Quando o cenário de RPG no Brasil girava praticamente em torno da Devir (até meados dos anos 2000, antes do boom da OGL d20), quem imaginaria um L5A publicado em português, por exemplo? (Tá, isso tem que se concretizar ainda, mas as apostas são boas). A questão é: após esse filão de "grandes jogos", o que sobra? Suplementos? (Isso se eles forem rentáveis). E depois?

Daí que veio meu sentimento de que a galera não tá sabendo interpretar o que é ser uma editora de RPG nas terras tupiniquins. Legal, cara, você lançou três RPGs diferentes num ano. Conseguiu cobrir os custos? Ótimo! E agora, vai dar suporte às três linhas? Como? E por aí vai.

Vejam, não considero um problema o cara ter como plano uma vida "útil" de 5 anos para sua editora. Você veio, publicou seu RPG, lucrou (ou não) com isso, e segue a vida. Ótimo, ainda mais porque esse processo partiu de um planejamento inicial. O problema é quando esse planejamento nem existe, e a editora fica lá se debatendo para sobreviver e, na maioria das vezes, arrasta seus donos numa espiral de dívidas e insatisfações. E levando consigo suas linhas de produtos (o que é ruim pro RPG, na minha opinião). O mercado comporta pequenas editoras, mas não é tão amador como no início dos anos 1980.