Ah, velho, simplificando muito, é que um dos professores do curso tinha toda uma tese a respeito do Clarimundo, que é um romance de cavalaria do século XVI (uns cem anos antes da morte do gênero com o Dom Quixote) e explicava Clarimundo como uma obra de retórica.
E não sei se tu sabe mas a retórica -- me exprimindo de maneira bastante leviana -- usa de culhudas, mentiras escritas com técnica e método, pra fazer uma argumentação. No caso do Clarimundo como havia essa pretensão histórica -- histórica no sentido antigo da coisa, no sentido de que os antigos percebiam a Odisseia e a Ilíada como História -- e a história daquela época seria um subtipo de retórica demonstrativa... e esta seja usada pra falar bem ou falar mal de alguma coisa, você colocar elementos de nobreza patente faz com que algo seja exaltado.
Se você diz que Clarimundo era filho de reis, isso é uma exaltação, se diz que ele é filho de um bandido com uma prostituta está dizendo que é uma pessoa ruim.
Daí Robin Hood, mesmo não sendo aqui literatura de cavalaria per se, claro, mas Robin Hood ser um salteador que usava armas vis (arco, à distância) que tinha origem nobre oculta, filho do senhor feudal que foi enganado e morto.... então por isso digno de ser líder do bando e real chefe daquela região em vez do Xerife de Nottingham e outros canalhas.
Pense em quantas histórias de genealogias foram inventadas pra legitimar líderes e figuras.
Lembrei agora daquele cenário de AD&D, Birthright, alguém teve oportunidade de jogar?