Uma dúvida:(click to show/hide)
Se ele mesclar com o solo de uma grande cidade ou floresta, ele poderá aparecer em qualquer parte que ele quiser? E ele poderia se mesclar em uma brita?
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Bacana o cenários. Espero relatos.
Quero só ver o resto do grupo. E esse japonês parece bem apelão/versátil com esse poder dele. Como gerenciaste isso?
Uma dúvida:(click to show/hide)
E ele poderia se mesclar em uma brita?
Ele pode se mesclar com brita sim, tal como cimento asfalto e etc. Só nao funciona e metais (e certa vez ele se deu mal por isso, dentro de um elevador... um dia chegarei nesse relato :) )
Falta só dois personagens, e passo aos relatos das sessões.
Caio
Caio sentia o coração palpitar, mas manteve-se calmo. Eram 10 e 23 da manhã, e todos já haviam chegado. Fernan fora o último a chegar, como Caio previra, provavelmente rodeou o prédio e observou por vários minutos antes de decidir entrar. Frank informou pelo comunicador que ele estava armado – o scanner remoto havia acusado três objetos metálicos – mas Caio mandou deixá-lo subir sem revistas, o que Frank fez com clara insatisfação.
Marcelo foi o primeiro a entrar na sala, e logo lhe seguiram Cassiano, Tsuruji, e por último, Fernan.
- Olá a todos, sejam bem-vindos – disse Caio, com um sorriso, levantando-se com dificuldade. A perna direita, quebrada em duas partes em sua última tentativa de surfar uma onda gigante em Portugal, reclamou de dentro do gesso com um leve sinal de dor.
- Sentem-se, por favor – apontou paras quatro cadeiras a frente de sua mesa.
- Você não disse que teria outras pessoas – falou Marcelo. Isso é algum tipo de entrevista de emprego? Se for, esqueci de trazer meu currículo...
- Não exatamente, Marcelo. Está mais para uma proposta de emprego. Sentem, por favor, que logo explicarei melhor.
Depois que se sentaram, Caio analisou por um breve momento o rosto de todos. Cassiano, sentado mais a direita, mantinha-se calado e observador, com seus olhos argutos. Sua mente era uma das mais fantásticas que a humanidade tivera, e era provável que ele já tivesse deduzido grande parte do que Caio iria dizer. Era provável também que, quando Caio começasse a falar, Cassiano tentasse ler sua mente. Mas Caio confiava que as defesas implantadas por Mnemonic manteriam a salvo suas memórias mais preciosas, deixando apenas pensamentos superficiais para Cassiano ler.
Tsuruji estava claramente desconfortável, mas olhava a Caio com curiosidade por trás de seus óculos. O tímido e franzino rapaz de olhos puxados era provavelmente o mais poderoso de todos, e certamente o mais perigoso.
Marcelo era apura confiança e descontração. Havia tirado os óculos escuros com os quais tinha chegado, estava com cadeira chegada mais para perto da mesa e a cabeça careca inclinada para frente, num gesto de quem estava aberto a ouvir. Caio sabia que ele seria o primeiro a aceitar, o primeiro a acordar para os árduos treinamentos que viriam, o primeiro em tudo que houvesse para ser o primeiro. Sentia uma empatia pelo modo como Marcelo gostava de viver a vida intensamente, mas estava ciente de que teria problemas com sua impulsividade e irresponsabilidade.
Mas Fernan era quem mais o preocupava. Não era para menos. Desde que Alessandra morrera – uma terrível fatalidade - eles haviam perdido quase todo o controle e a vigilância sobre ele. De um jovem politizado e idealista, Fernan passou a ser um eremita, e quando seus poderes manifestaram, um terrorista. Ele olhava Caio com um misto de desconfiança e desdém. Tinha o rosto magro, a pele muito branca e um nariz grande. Muitos foram os que defenderam que ele deveria ser considerado uma “falha do projeto”, mas Caio manteve-se firme na decisão de convocá-lo também. Não perdia as esperanças. Não podia perder.
- Amigos – falou finalmente – agradeço a todos por terem vindo, imagino que estão um pouco confusos com toda essa situação, por isso serei bem objetivo.
- Eu trabalho para uma organização muito especial, com bastante influencia e poder. Nossa missão é apenas uma: melhorar o mundo. Pode soar ingênuo, e até hipócrita... mas se aceitarem nossa proposta, poderão ver com os próprios olhos que temos condições de realizar o que pretendemos, e que nossas intenções são genuínas.
- Essa sua organização tem um nome? – interrompeu Cassiano.
- Sim – disse Caio – evitamos falar nomes muito frequentemente, mas quando temos que nos chamar de algo, nos chamamos de Trama.
- Estranho... – respondeu ele – Pelo que pude saber, neste endereço funciona uma empresa de cosméticos chamada Sunyata, apesar de não ter nenhuma identificação na entrada, e isto aqui parecer muito mais um prédio residencial.
Muito esperto, pensou Caio. O nome Sunyata não estava em nenhum lugar da internet, e Caio fez uma anotação mental para descobrir depois com Cassiano soubera daquilo.
- Você está certo Cassiano, oficialmente, aqui é a sede da Sunyata, uma empresa japonesa de cosméticos de porte médio. Mas, como você já deve ter deduzido, trata-se apenas de uma fachada. Uma cobertura necessária para nossos verdadeiros negócios.
- E que negócios são esses? – perguntou Marcelo, claramente impaciente.
Era hora de mostrar o vídeo, mas Caio sabia que aquilo era apenas uma formalidade. Tinha certeza que, independente de qualquer coisa, eles aceitariam a proposta. Estavam destinados a isso. Jah era testemunha de quanto tempo Caio havia dedicado ao projeto – o quanto de sua vida havia dedicado àqueles quatro. E os sacrifícios... não foram poucos. Caio mantinha-se calmo – a calma era uma de suas maiores virtudes – mas por dentro, não conseguia deixar de sentir uma ansiedade, borboletas no estômago, como dizem os americanos. Afinal, era como se tudo tivesse levado àquele momento.
Pegou controle remoto em cima de sua mesa e apertou o botão. Uma tela de projeção deslizou do teto, atrás dele.
- Permitam que eu mostre a vocês um vídeo que vai ilustrar um pouco de nossos negócios.
O projetor começou a mostrar as imagens em preto-e-branco que Caio já vira algumas dezenas de vezes: os primeiros registros de agentes da Trama, nada mais que algumas pessoas em roupas da década de 60, reunidas ao redor de uma mesa, analisando gravações e documentos. Intercaladamente, via-se imagens históricas, como dos ex-presidentes Costa e Silva e Médici, e de Carlos Marighella, e algumas imagens que não estavam disponíveis na mídia comum, de atuação de guerrilhas e do regime militar. Caio havia, inclusive, adicionado ao vídeo uma cena na qual agentes do regime torturavam um preso político, embora tenha a editado deixando as partes mais chocantes de fora.
- Nossa organização foi fundada em 1969, embora com uma missão diferente da atual. No início, nosso objetivo era combater a ditadura militar que havia tomado o poder no Brasil. Mas, diferente dos grupos de guerrilha da época, nós não partíamos para a luta armada. Nossas armas eram espionagem e informação, e contávamos com uma forte ajuda internacional.
O vídeo continuou seu passeio pelas décadas – Com o tempo, nossos objetivos se expandiram - continuou Caio - e nossa atuação se tornou cada vez mais global. Acumulamos recursos financeiros, tecnologia, know-how, influência e especialmente, conhecimento – muito conhecimento, sobre várias coisas. Coisas que muitas pessoas - algumas delas bem poderosas - não gostariam que fossem sabidas.
Caio estava virado de lado para o vídeo, de modo que podia ver, com o canto do olho, um pouco das expressões deles. Estavam incrédulos, como esperava. Fernan mantinha o mesmo ar com que chegou, só que seu rosto agora demonstrava um pouco de raiva. Ele não havia falado nada desde que entraram, o que era um tanto preocupante.
- Hoje em dia, podemos dizer que nossa missão é trazer ao mundo uma “revolução silenciosa”. Combatemos a corrupção, a desigualdade, injustiça, ajudamos as pessoas que mais precisam de ajuda, mas nos concentramos nas ações com resultados mais abrangentes possíveis. É um trabalho árduo, longo, com poucos efeitos imediatos, mas que a longo prazo, simplesmente vai transformar o mundo, para melhor.
O vídeo chegou até a parte que mais interessava – Vou dar um exemplo recente de uma de nossas ações. Vocês, é claro, sabem do escândalo do mensalão, denunciado pelo deputado Roberto Jefferson, dois anos atrás. Podemos dizer que tivemos uma participação decisiva nesse caso. Fizemos uma proposta irrecusável ao nobre deputado: se ele denunciasse o esquema publicamente, nos “esqueceríamos” de vários outros esquemas em que ele tinha parte, assim como de vários detalhes escandalosos de sua vida pessoal – na tela, vários documentos sigilosos apareceram, assim como fotos de Roberto Jefferson em um hotel, participando de uma orgia.
- A primeira resposta do deputado foi negativa – um áudio de umas dos inúmeros contatos que a Trama fez com Roberto Jefferson começou a tocar. Podia-se ouvir a voz eletronicamente alterada do agente da Trama fazendo ameaças veladas, e Roberto Jefferson respondendo com palavrões.
- Então tivemos mostrar a ele que falávamos sério. Soltamos na imprensa uma gravação comprometedora para o deputado, o que gerou o escândalo dos correios. O deputado pareceu entender o recado, embora tenha sido idiota o bastante para tentar agredir o nosso agente que tinha ido lhe fazer uma visita – na tela, apareceu a famosa foto de Roberto Jefferson com um olho roxo, depondo na CPI dos Correios.
Caio apertou o botão que encerrava o vídeo e a tela deslizou para cima. Eles não saberiam disso, mas um programa deletaria o vídeo automaticamente, de forma irrecuperável.
- Certo... – disse Marcelo - vamos dizer que eu acredito que você trabalha para um super-agencia-de-espionagem-do-bem-que-ninguém-nunca-ouviu-falar... e o que a gente tem a ver isso? Que proposta é essa que você falou?
- Acompanhamos vocês há algum tempo e achamos que vocês tem o perfil necessário para o projeto que estamos iniciando. Um projeto que visa adicionar a nossa força de trabalho colaboradores com... capacidades especiais.
Caio sabia que tinha que ser sutil aqui, e viu isso no rosto deles. Só Cassiano não pareceu se incomodar com a menção de que eles eram meta-humanos, então era melhor não entrar no assunto agora. Logo eles estariam bem cientes dos poderes uns dos outros.
- O salário é de dez mil reais mensais, fora vários benéficos que nossa organização proporciona. Não é o bastante para torná-lo ricos, mas vai permitir que vocês e seus familiares vivam com conforto. Não procuramos pessoas interessadas em dinheiro, mas sim em nossos ideais.
Deixou digerirem a informação por alguns segundos e os observou. Cassiano mantinha a expressão neutra e pensativa. Tsuruji estava um tanto confuso, e Marcelo coçava o queixo, fingindo que tinha alguma dúvida se aceitaria a proposta. As sobrancelhas curvadas para baixo de Fernan não deixavam dúvida: ele não só não acreditava em nem uma palavra que Caio tinha dito, assim como não estava nada feliz com tudo aquilo.
- Vocês teriam que passar por um treinamento antes de se juntar a nós, é claro. Não vou enganá-los: será um treinamento duro, pesado e vocês terão que ficar pelo menos seis meses isolados. O treinamento também tem um caráter eliminatório, e não há garantias de que vocês sejam aprovados – aquilo era um tanto mentiroso, eles continuariam o treinamento até completarem todos os módulos, mas não era necessário dizer aquilo a eles.
- Senhor Caio.... – Tsuruji venceu a timidez e falou pela primeira vez – Se aceitarmos essa proposta, nós vamos poder, depois... desistir? Quero dizer, nós poderemos deixar a Trama quando quisermos?
- Sem dúvida, Tsuruji. Claro que, devido à natureza de nossas operações, manteríamos um olho em vocês. Mas vocês poderiam partir a qualquer momento, sem nenhum tipo de retaliação – outra meia-verdade, mais que necessária.
- Então, amigos, a proposta é essa. Façam o treinamento, conheçam melhor a nossa organização. Tenho certeza que, ao fim, decidirão se juntar a nós.
Fernan levantou-se subitamente, colocando a mão por trás da jaqueta. Atravessou o um metro que separavas cadeiras da mesa de Caio, e colocou uma granada sobre mesa.
O negócio é seguinte – disse ele – vamos acabar com a palhaçada. Quer que eu acredite nesse teatro ridículo? Quero saber quem são vocês e como me encontraram, agora - enfatizou a última palavra com uma batida de mão na mesa, logo ao lado da granada.
Caio manteve a calma, com especial cuidado para não alterar sua expressão. Apenas olhou fixamente Fernan nos olhos. Estava esperando algo como aquilo o tempo todo, e talvez fosse pior se ele tivesse sacado uma pistola.
Marcelo sobressaltou-se da cadeira e veio em direção à mesa – Você está louco!! Tem noção do perigo disso!! – foi com a mão em direção a granada, mas Caio fez um gesto que o deteve.
- Acalme-se Marcelo, está tudo bem. Tenho certeza que Fernan não quer machucar ninguém - dirigiu-se a Fenan – Sei que você está desconfiado de tudo o que falei, e não é para menos. Não é algo que se possa simplesmente acreditar, sem ver com os próprios olhos. Nós encontramos você Fernan, porque podemos. Podemos muitas coisas. Apenas nos dê uma chance, e você verá que nossos ideais são muito próximos dos seus, e podemos dar as condições que você precisa para alcançá-los.
A calma com que Caio falou aquelas palavras claramente quebrou Fernan. Ele deveria estar esperando que sua ameaça surtisse feito, que Caio reagisse com violência ou ao menos se mostra-se surpreso, mas o fato de Caio não fazer nada o deixou apenas confuso.
Caio sabia que, àquela altura, Frank já estava do lado de fora com seus homens, a postos para reagir, e também que havia homens atrás da porta secreta lateral. Esperava que Frank seguisse suas ordens e interviesse apenas se fosse estritamente necessário. Mas não seria. Fernan não puxaria o pino da granada – não porque sua ameaça era vazia, mas porque, mesmo se ativasse seus poderes, a explosão poderia machucá-lo seriamente.
Fernan alterou sua expressão aos poucos, e voltou ao ar de desdém – Bem... vamos ver então. Talvez eu pense sobre essa sua proposta – pegou a granada e a recolocou atrás da jaqueta, e começou e se virar para a porta.
- Ótimo. Já é um começo – se aceitar então, vá até ao aeroporto de Jacarepaguá, nesse domingo. Partiremos às 10 horas – disse Caio, enquanto Fernan abria a porta e saia.
- Isso vale para vocês também, amigos – falou para os outros três. Pensem sobre isso hoje e amanhã, e se aceitarem, não se esqueçam de avisar seus parentes. Passaremos um bom tempo fora.
Os três levantaram lentamente, e saíram, pensativos, sem falar nada. Caio os observou pela câmera de segurança enquanto iam embora. Não tinha se dado conta de como nutria por eles uma afeição quase paternal. Tinha acompanhado a maior parte da vida deles, era como se fossem seus filhos.
Mas não eram seus filhos.
Eram Filhos da Esperança.
O Protocolo de Emergência
A Trama tem um procedimento padrão de inserir um gatilho mental em seus agentes através dos poderes do agente Mnemonic. Tal gatilho é ativado quando o agente ouve as palavras “Passe pela porta azul, [Nome do agente]”. Também pode ser ativado se o agente se concentrar por 1 minuto e realizar um teste de Vontade, enquanto se imagina em uma sala, com uma porta vermelha e outra azul, e passa pela porta azul. Ambos têm o mesmo efeito: o agente esquece tudo que se passou em sua vida até 1 dia antes de ser contatado ela Trama.
A verdade completa não é dita para os agentes, especialmente para os mais novos. Não se fala sobre o gatilho verbal, e diz-se que ele esquecerá apenas fatos relativos à Trama. Os agentes não são obrigados passar pelo procedimento, mas caso se recusem, serão relegados a agentes de apoio e nunca irão à campo.
Depois que o Protocolo é aplicado, é possível revertê-lo. A Trama só fará isso se for de seu interesse recuperar o agente.
Quando o protocolo for ativado pelo gatilho verbal, o alvo tem que fazer um teste de Von-10;
Os resultados dependem de sua margem de falha:
Sucesso: fica mentalmente atordoado, Von-10 por turno para recuperar.
1-3: Como o anterior, só que perde toda a memória. Pode fazer testes de recuperação diários.
4-6: Como o anterior, só que os testes de recuperação são mensais.
7-9: desmaia por 5d minutos. Testes de recuperação anuais.
10 ou mais: como o anterior, só que a perda de memória é permanente.
Testes de recuperação: é um teste de Von-10. Se passar, lembra de alguma memória, quanto maior a margem de sucesso, mais nítida. Se falhar em 3 testes de recuperação seguidos, passa a fazer testes uma categoria de tempo maior. Se estiver fazendo testes anuais e falhar 3 vezes seguidas, as memórias estarão perdidas para sempre.
Se alguém com a perícia Psicologia ou Hipnotismo estiver ajudando a vítima a recuperar a memória, pode adicionar sua margem de sucesso no teste da Perícia para aquele teste de recuperação específico, até um máximo de +5. Se falhar criticamente, o teste de recuperação falha.
Todas as perícias que a vítima aprendeu durante o período que foi apagado estão submetidas a -4 (se forem baseadas em Destreza ou Vitalidade), ou não podem ser acessadas (baseadas em Inteligencia).
O Neutralizador
É uma arma desenvolvida pela Trama, com o objetivo de neutralizar adversários sem arriscar suas vidas. Parece uma pistola comum, mas um teste de Per -2 revelará diferenças. Dispara projéteis que se agarram a pele do alvo, liberam uma descarga elétrica e injetam um potente tranqüilizante. Cada projétil causa 1d-3 de dano por queimadura e exige um teste do alvo de Vitalidade-4 para não atordoar. O tranquilizante obriga um teste de Vitalidade-6, se falhar fica Sonolento (-2 na Destreza, Inteligencia e auto-controle) por 24 h, se falhar por 5 ou mais, cai no sono.
O Neutralizador é feito em maior parte de polímeros especias, que o tornam dificil de ser detectado por detector de metais.
Tem Precisão 2, alcance 200m, pesa 1,5 kg carregada, Recuo 1, Cadencia 3, Magnitude 2, Força Mínima 7, 15 balas que demoram 3 segundos para recarregar o cartucho.
– Bem Caio, acho que você já poderia dar mais detalhes sobre a missão, não? “Invadir um prédio de alta segurança” é um tanto vago... – disse Cassiano, aproveitando a pausa que Marcelo fizera no seu falatório sobre seu último voo de asa delta.
- Claro – respondeu Caio com um sorriso – aliás, posso fazer melhor. Vou mostrar a missão para vocês – virou-se para o motorista – Ludvik, será que podemos fazer um desvio?
- Claro, você quem manda – respondeu o tcheco, já compreendendo para onde Caio queria ir. O novo Chefe de Segurança da República Tcheca era um rapaz vinte e tantos anos, bastante alto e com espertos olhos verdes. Embora Caio não o conhecesse bem, sabia que ele era o típico carreirista da Trama: idealista, ambicioso e competente.
O QG ficava na Cidade Velha, não muito longe do hotel. No caminho, foram brindados com a visão das maravilhas arquitetônicas de Praga. A mistura de estilos era simplesmente maravilhosa, com torres góticas e casas renascentistas ao lado palácios medievais.
- Caramba, essa cidade é realmente bonita... e dizem que a noite por aqui é uma das melhores da Europa... Será que vamos ter tempo para fazer uma visitinha a algum “clube”, hein? – disse Marcelo, cutucando Caio com o cotovelo.
- Podemos ver isso depois Marcelo, mas acho difícil – na verdade, era impossível; assim que a missão terminasse, partiriam imediatamente. Eles iriam mexer com pessoas grandes, que não gostam nem um pouco de serem incomodadas, e quanto mais rápido sumissem do mapa, melhor.
Na segunda fileira da minivan, Cassiano ia sozinho, apenas observando a paisagem. Na terceira fileira, Kuan e Tsuruji conversavam em voz baixa. Caio ficava feliz que eles tivessem se aproximado. Quando escolheu Kuan para substituir Fernan no grupo, pretendia que sua lealdade férrea á Trama fosse um exemplo para os outros, mas temia que, por sua personalidade, ele ficasse por demais deslocado, afetando seu desempenho. Mas o coreano mostrou seu valor na missão de proteção a João Carlos Salvador, e isso trazia alivio para Caio. A recusa de Fernan a se submeter ao Protocolo havia angustiado Caio pormuito tempo, e a pressão que os outros Diretores estavam fazendo – especialmente Kudd –não era pouca. Infelizmente, Kuan fazia parte do quadro asiático de agentes, o que significava que ele estava “emprestado” ao grupo, e a Diretoria japonesa poderia requistá-lo de volta a qualquer momento. Esperava que isso não tivesse que acontecer, pelo menos não muito cedo... Caio mantinha as esperanças de persuadir Fernan a se unir ao grupo, e Kuan poderia lhe dar o tempo necessário para isso.
O QG, que Caio já vira por fotos, se encaixava perfeitamente na paisagem ao redor. Era um largo bloco de três andares, repleto de pilastras que lhe davam um ar de templo greco-romano. Oito estátuas dos deuses romanos que davam nome aos principais heróis do grupo vigiavam a entrada.
- Esta é a missão, amigos – disse Caio, enquanto contemplavam o prédio.
- O Quartel-General dos Olímpicos – reconheceu Cassiano
- Exatamente, agente Silva. Não se enganem com a aparência, não há nada de velho nesse lugar. Pelo menos não quanto à segurança.
- É esse o prédio que vamos invadir? - perguntou Tsuruji.
- Sim, mas apenas você vai invadi-lo, agente Tetsuo.
Tsuruji fez uma expressão de surpresa descrente.
- Fique tranquilo, eu vou ajudá-lo. Todos nós vamos. O objetivo é copiar a base de dados do computador central deles, por isso que precisamos de você.
- Não tem como fazer isso por fora? Digo, eu poderia hackear...
- Não há como. O sistema deles é completamente interno, sem conexão com a internet.
- E o resto de nós, o que vai fazer? – Kuan perguntou, com seu sotaque oriental e modo discreto de falar.
- Eu vou contar o plano com mais detalhes no hotel, não se preocupem. Vamos voltar agora.
Chegaram ao hotel com a noite caindo. Como de costume, o lugar era discreto e confortável, sem ser luxuoso. Uma hora depois, estavam todos no quarto de Caio, sentados ao redor de uma pequena mesa, apenas com um laptop em cima. Na tela, estava a foto de um homem bastante gordo, calvo, de olhos pequenos e barba emaranhada.
- Este é Vladimir Arutyunian, mas conhecido como Vulcano, e é o alvo da primeira parte de nossa missão - anunciou Caio - Ele é o desenvolvedor e responsável por toda tecnologia dos Olímpicos, incluindo os sistemas de segurança e informática. Nós queremos duas coisas dele: informações sobre o sistema de segurança; e um pendrive que ele carrega o tempo inteiro com ele, preso em uma corrente em seu pescoço.
- O que tem no pendrive? - perguntou Cassiano
- Dados de um programa que ele vem desenvolvendo, para aprimorar a segurança do sistema do grupo. Precisaremos das informações para conseguir ultrapassar as defesas do sistema. Ele estará amanhã, por volta das 17 horas, em um prostíbulo de luxo, não muito longe do QG deles. Eu, Sonjo e Silva nos passaremos por clientes para nos aproximarmos dele.
- E eu não vou?! – exclamou Marcelo.
- Não. Você e Testsuo tem outra missão, que logo vou explicar – respondeu Caio. Marcelo ficou claramente desapontado por saber que não conheceria os encantos das prostitutas tchecas.
Caio explicou com detalhes o plano para se aproximar de Vulcano, e mostrou a todos o arquivo da trama sobre o super-herói.
– Ele é um meta-humano com genialidade inventiva e poder de gerar calor. Tem um papel menor no grupo, de apoio, é pouco valorizado pelos outros Olímpicos e se ressente bastante disso. Vulcano é um homem invejoso, glutão e viciado em sexo ,especialmente sexo pago.
- Nossa, que criatura patética – observou Marcelo.
- Não entendo porque fui escolhido para essa parte da missão- questionou Kuan – Isto parece muito mais um trabalho de engenharia social, que não é exatamente minha especialidade.
- Ele anda sempre com dois seguranças, Sonjo, muito capazes e bastante profissionais. Nós teremos que encontrar um jeito de lidar com eles. Aí que você entra.
Virou-se para Tsuruji e Marcelo – A missão de vocês será diferente. Vulcano estará neste prostíbulo amanhã porque o QG dos Olímpicos estará aberto para uma visitação ao público. Isto é parte de um projeto deles para tentar ser tornarem mais populares. Só haverá um Olímpico lá para receber as pessoas - Caio fez aparecer na tela a foto um homem jovem, absurdamente musculoso, com uma vasta cabeleira negra até os ombros.
- Eu conheço ele! – exclamou Tsuruji – não é aquele que lutou com o Apolo dois anos atrás? Eu vi o vídeo no Youtube...
- Ele é considerado o segundo herói mais poderoso do mundo – informou Cassiano.
- O cara é sinistro – completou Marcelo – saiu uma notícia recente de que ele ficou noivo da Vênus, aquela delícia ruiva...
- Sim, é ele mesmo, Júpiter, o líder dos Olímpicos. Não vou entrar em detalhes sobre ele agora, isso faz parte da próxima etapa da missão.
Caio continuou a explanação com algumas fotos da parte interna do QG dos olímpicos. Mostrou a Marcelo a localização da parede em que deveria instalar o explosivo que serviria para abrir uma rota de fuga caso fosse necessário. Quando contou a Tsuruji qual era sua incumbência, não pode deixar de sorrir diante do espanto do rapaz.
- Como assim pegar um autógrafo do Júpiter?! – disse ele
- Um autógrafo bem especial. Vocês certamente lembram das aulas com Mentor que todos os meta-humanos te uma assinatura energética, um campo eletromagnético de baixa intensidade que é emitido de seus corpos, com uma frequência única para cada indivíduo. Você, agente Tetsuo, irá até Júpiter com um meta-frenquencímetro, parar capturar a frequência dele. O aparelho estará disfarçado com uma maquina fotográfica, e basta apertar um botão para acioná-lo. Mas ele é pesado, e deve ser encostado na pele dele para a leitura ser perfeita. Além disso, Júpiter está familiarizado com essa tecnologia, e pode desconfiar, por isso você vai ter que ser bem discreto.
- Certo – disse Tsuruji – eu consigo.
Caio dispensou os quatro, pedindo que descansassem bem para o dia seguinte. Ele sabia bem que Marcelo ignoraria essa recomendação e sairia na madrugada para explorar a cidade, mas não faria nada para impedi-lo. Caio evitava ao máximo toda forma de liderança por medo ou imposição. Sabia que seu estilo poderia gerar indisciplina entre seus comandados, mas por outro lado, costumava ganhar a confiança e lealdade genuína deles.
Foi para a cama um tanto sem sono, refletindo sobre a missão e suas chances de sucesso. Eles havia se saído bem na missão Salvador, apesar do tiro no pescoço que o vereador levou. Kudd dissera categoricamente, na reunião da Diretoria, que a missão fora um fracasso por conta desse tiro, que Salvador sobrevivera por sorte, que todo um projeto importante como o Projeto Salvador foi colocado em risco para dar experiência a novatos, mas Caio discordava. Não havia como prever aquilo, e diante das circunstancias, eles reagirem muito bem, mostrando serem capazes de lidar com emergências. A maioria dos diretores concordou com Caio, e o idiota de cara vermelha do Kudd teria que arranjar outro argumento para sustentar sua empreitada em tomar a liderança do projeto de Caio.
Quando adormeceu teve um estranho sonho, no qual ele ainda era casado com Mariana e morava no apartamento de Ipanema. Mas no sonho, eles tinham três filhos, três adoráveis meninos, um de olhos puxados, um muito inteligente e um careca. Mariana queria lhe contar alguma coisa, uma historia confusa sobre um quarto filho rebelde que havia fugido de casa, sobre como ela não aguentava mais cuidar das crianças e que ela estava deixando Caio. Quando ela saiu pela porta com as malas, um homem esperava para levá-la, ninguém menos que Edgard Kudd, com seu terno azul-marinho, seu chapéu e suas bochechas avermelhadas.
No dia seguinte, por volta meio-dia, todos estavam no quarto de Caio, almoçando. Marcelo, como era de se esperar, ostentava algumas olheiras, mas nada que devesse atrapalha-lo. Ludvik também estava lá, e ajudou Caio a colocar disfarces em todos, nada complexo, maquiagem, barbas falsas, próteses de dente e queixo e tintura de cabelo. O objetivo era apenas evitar possibilidade de serem reconhecidos futuramente. Caio repassou o plano e tirou algumas dúvidas, mas ele pareciam já ter entendido bem suas missões.
Uma mensagem chegou ao celular de Caio: “Pronto. 2, na porta, dentro”, o que significava que Vulcano havia chegado ao prostíbulo, e seus dois seguranças o acompanhavam, tendo um ficado na porta do estabelecimento, e outro lá dentro, provavelmente guardando ele. Os cinco colocaram seus comunicadores ocultos e partiram. Tsuruji e Marcelo foram na minivã dirigida por Ludvik até o QG dos olímpicos. Caio não podia desdobrar sua atenção para fazer o controle da missão deles, por isso esse papel caberia a Ludvik, que acompanharia tudo por uma microcâmera presa à roupa dos dois. Mas Caio tinha certeza que não haveria necessidade de uma intervenção.
Caio, Cassiano e Kuan saíram em um luxuoso sedan alugado, como era de se esperar de turistas endinheirados, com Caio ao volante. Embora Cassiano fosse bem mais novo que eles, a barba e os óculos que agora ostentava o fazia parecer com vinte e poucos anos. Como Caio, embora já tivesse seus quarenta, aparentava a mesma idade de Kuan, quem os olhasse veria apenas três amigos fazendo turismo sexual pela Europa.
Chegaram até o estabelecimento na Cidade Velha, um casarão de dois andares, com um aspecto antigo, como tudo naquela parte da cidade. Não havia nenhum movimento além de dois seguranças na porta, como era de se esperar para aquela hora do dia. Caio entrou com o carro pela porta da garagem nos fundos, sempre evitando olhar para as câmeras de segurança, o que os outros dois também faziam. Saíram da garagem por uma porta lateral, e uma linda moça de pele clara e olhos azuis, que já passara muito dos 30 mas estava em excelente forma, saiu de trás de um balcão para recebê-los.
- Olá, bem vindos ao Carioca Cabaret – disse ela com um largo sorriso de dentes muito brancos, em um inglês carregado – No primeiro andar temos o bar e um ambiente comum, para os senhores relaxarem e conhecerem nossas garotas, e onde também haverá shows ao vivo de hora em hora; os senhores poderão pagar por shows privados, o ir para o quarto com alguma garota, no segundo andar. Cada menina tem um preço, e os senhores poderão perguntar diretamente a elas. Cobramos 30 euros pela entrada; como gostariam de pagar?
Caio pagou a entrada dos três em dinheiro, e logo eles estavam na sala principal do primeiro andar.
A primeira visão do local deixou claro para Caio que ele escolhera os homens certos para aquela missão. Marcelo certamente seria incapaz de se concentrar em outras coisas além das mulheres lindas, seminuas, de diversas etnias espalhadas por todo o recinto; Tsuruji também poderia se distrair, haja vista que ainda era um adolescente. Cassiano, embora um adolescente também, tinha uma mente tão fantástica que nem mesmo a chuva de hormônios da idade poderia desconcentrá-lo; E Kuan, autodisciplina e dedicação encarnadas, também manteria foco.
O ambiente era pouco iluminado, enevoado pela fumaça de charutos e cigarros, e cheirava a perfume e álcool. Uma música instrumental antiga tocava ao fundo, em volume baixo. A decoração era ainda mais antiquada que a fachada do prédio, repleta de móveis que pareciam ter vindo diretamente do século 17. Havia muitas coisas com o que de distrair ali, e até mesmo Caio por um momento, não pode ver o que realmente procurava.
- Caio, no fundo, à direita – foi Cassiano quem viu primeiro. Vulcano estava em um sofá, com uma belíssima ruiva com os seios de fora ao seu lado, com a cabeça recostada em seu ombro. Ambos estavam silencio, e Vulcano, com um copo de bebida à mão, apenas observava o ambiente, com um olhar carrancudo. Sua espessa barba negra deixava seu rosto ainda mais sombrio.
Encostado em uma parede próxima, meio oculto pela escuridão, estava um dos seguranças de Vulcano, um homem surpreendentemente baixo, com uma roupa social. Ele observou os três por alguns segundos, avaliando, mas logo decidiu não eram ameaça e desviou o olhar. O segundo segurança não estava visível a principio, mas quando caminharam para o bar, puderam vê-lo no corredor que dava para a entrada principal. Era bem maior que o outro – na verdade era maior que qualquer um naquela sala - e estava com uma jaqueta.
Compraram algumas cervejas e começaram sua pequena encenação. Sentaram-se perto de Vulcano o bastante para que ele pudesse ouvi-los, mas longe o bastante para que não desconfiar que era um alvo.
Então, primo – falou em inglês Caio– Ainda acha que era melhor ter ido visitar aquela casa dos super-heróis?
- Com certeza não, primo, isso é bem melhor! – respondeu Cassiano, com naturalidade.
Com o canto do olho, Caio pode ver que o assunto tinha atraíra a atenção de Vulcano, e agora seu olha sombrio se dirigia a eles.
Continuaram conversando sobre o tema, com Cassiano desempenhando bem papel de jovem fã de super-heróis, que ainda queria fazer uma visita os Olímpicos naquela viagem à Praga. Caio bancava o primo que achava super-heroismo uma besteira, e que sacaneava o primo mais novo por gostar disso. Kuan pouco participava da conversa – aquele ambiente certamente o deixava constrangido.
Alguns minutos depois, Cassiano, como estava combinado, levantou para procurar pelo banheiro, e fingindo-se um tanto bêbado e perdido, passou perto da poltrona de Vulcano. O segurança baixinho na parede retesou-se olhando fixamente para. Cassiano, mas o jovem interpretou bem o seu papel, lançou um olhar para Vulcano como se o reconhecesse, e saiu rapidamente em direção ao banheiro. Pouco tempo depois estava de volta, junto a eles no bar.
- E então? – perguntou Caio, em voz baixa.
- Acho que ele mordeu a isca – respondeu Cassiano – Vamos ver.
Os três então passaram a olhar não direção de Vulcano disfarçadamente, fingindo que falavam sobre ele. Não demorou para que Vulcano fizesse um gesto para trás, chamando o segurança. Vulcano falou-lhe algo ao ouvido, apontando para eles. O homem se aproximou, com um ar um tanto desconfiado, e falou para o barman:
- Mais uma rodada para os três aqui, por conta do Sr. Vulcano – virou-se para eles – O senhor Vulcano está convidando vocês para se sentarem com ele.
- Claro! - Respondeu Cassiano de imediato – vai ser uma honra!
Os três se aproximaram e Vulcano falou, com uma voz rouca e ébria.
- Sentem aí, fiquem a vontade – apontou coma cabeça para o sofá logo a sua frente, e falou algo em tcheco para a ruiva, que saiu rapidamente. O segurança baixinho voltou para seu posto, atento.
- Você é o Vulcano dos Olímpicos, não é? – falou Cassiano, logo que sentou.
- Sim, sou eu – respondeu Vulcano, com um claro sorriso de orgulho – São poucos o que me reconhecem. Você deve ser um grande fã.
- Com certeza! Eu sei que o senhor foi quem inventou toda tecnologia dos Olímpicos... claro que o senhor não aparece tanto para o público, porque fica no suporte ás missões... mas o senhor é fundamental para o grupo, com certeza...
Vulcano analisou o rosto de Cassiano por alguns segundos, como que duvidando da sinceridade das palavras... mas então soltou um risinho irônico e respondeu – Eu deveria levar você para dizer isso para algumas pessoas, rapaz... mas chega de tantos senhores, sim? Me chama apenas de Vulcano.
Ele havia mordido a isca. Cassiano continuou habilmente o jogo de inflar o ego dele, e logo ele estava a falar abertamente sobre seu super-grupo. À medida que ficava mais bêbado, ficava mais amargo.
- E aquele Júpiter é um arrogante - tagarelava ele - Se acha muito melhor do que eu, acha que manda no grupo... - Soltou uma gargalhada sinistra – Mas o líder de verdade meus amigos é outro, e esse é mil vezes pior que ele... um velho maldito, manipulador como o diabo...
Caio e Kuan foram entrando aos poucos na conversa, e logo eles estavam junto a ele, no mesmo sofá. No entanto, o segurança estava perto o tempo todo, e não havia brecha para Caio executar o plano. Passou-se meia hora até que Vulcano mandasse o segurança buscar mais cervejas, já que não havia garçons por perto, e Caio teve sua chance. Um gesto rápido, e o pequeno cristal de flunitrazepam foi pousar no fundo uisque de Vulcano.
- E Venus, ah não se enganem com ela... uma das heroinas mais bonitas do mundo, nãoé? É uma escrota, que nem sabe que os outrso existem... Nao se enganem com ela, com esse noivado com o Júpiter, é tudo armação pra gerar mídia – abaixou o tom do voz e se inclinuou para frente com expressão sombria – Vou contar um segredo sobre ela... essa aí é uma puta, a vida inteira foi, muito pior que qualquer uma dessas aqui...
Então o monólogo que continuou nos dez mintuos que demoraram para o sedativo agirpassou para um tom muito mais lamentoso. Vulcano falava de arrependimentos e frustrações, num falatório sem fim de autocomiseração. Kuan deve ser sentido pena dele, porque passou a tentar consolá-lo, mas isso só fez com que o super-herói romper em lágrimas, para o espanto do coreano.Chorando como um bebê, enconstou a cabeça no ombro de Kuan e simplesmente apagou.
- O que houve?! – perguntou o segurança, se aproximando.
- Acho que ele... desmaiou de bêbado – respondeu Kuan
- Merda, de novo não – fez um sinal para o outro segurança, que veio rapidamente. Os dois trocaram algumas palavras em tcheco, e o baixinho virou-se para eles e disse, no tom mais ameaçador que seu péssimo inglês permitia.
- Vocês não vão falar nenhuma palavra do que aconteceu aqui para ninguém. Se eu souber que alguma coisa saiu na imprensa, eu vou ter que ir atrás de vocês... entenderam?
- Cla-claro, amigo... -respondeu Caio, fingindo estar com medo – fica tranquilo, ninguém vai falar nada...
Os dois levaram Vulcano apoiado nos ombros pela escada que dava no segundo andar. Clientes e funcionários olhavam curiosos a cena, alguns soltavam risinhos e comentavam.
Caio foi à menina mais próxima, e combinou rapidamente um programa. Teve que oferecer quase cinco vezes mais que o preço normal para ela aceitar subir com os três. O segundo andar nada mais era que um largo corredor com dezenas de portas. Quando chegou em frente ao quarto que usariam, Caio tirou 50 euros do bolso e ofereceu para garota.
– Olha, na verdade a gente só que ficar sozinho no quarto... você entende, não é? Pega isso aqui e dá uma voltinha por aí, pra ninguém desconfiar... – ela não entendeu a principio, mas depois sorriu maliciosamente, pegando a nota e saindo.
Os três entraram no quarto. Caio espiava por uma fresta da porta, enquanto Kuan e Cassiano aguardavam. Demorou um minuto para que avistasse os dois guarda-costas, saindo de um quarto do lado oposto. Eles trancaram a porta e desceram as escadas, enquanto menor deles falava efusivamente em tcheco ao celular.
- Vamos. Eles devem voltar logo, não teremos muito tempo.
A fechadura do quarto era bem simples, e Caio arrombou-a em sem problemas. Lá dentro, Vulcano jazia numa grande cama redonda, com a barriga para cima, ressonando fortemente pela boca aberta. Caio foi até ele, meteu a mão pela gola de sua blusa e arrancou pendrive, preso por uma fina corrente em seu pescoço, e colocou-o no bolso.
- Não é melhor você só copiar as informações? – perguntou Kuan – Eles vão ficar em alerta se souberem que o pendrive foi roubado.
- Ele não vai ter coragem de contar isso a ninguém, eu te garanto. Além disso, as informações aqui estão criptografadas, vamos precisar de tempo para quebrar o código.
Virou-se para Cassiano - Agora e com você, agente Silva. Aqueles dois podem voltar a qualquer momento, então faça o trabalho rápido.
Cassiano pôs-se ao lado de Vulcano, com a mão em sua cabeça, concentrando-se para iniciar seu vasculhamento mental. Kuan pôs-se perto da porta, vigilante.
- Vem vindo alguém – disse o coreano, quando não havia passado mais de tês minutos – Acho que são eles.
Cassiano precisaria de mais tempo, então eles teriam que improvisar. Caio colocou-se a esquerda da porta, com o neutralizador em punho, e Kuan fez o mesmo do lado oposto. Ouviram os dois homens se aproximar, conversando, e um barulho de chave girando na fechadura. A conversa parou de repente, e então sussurraram algo um para o outro. Certamente haviam percebido o arrombamento.
Alguns segundos se passaram sem que nada acontecesse, e então porta se abriu bruscamente, encobrindo Kuan.
- Co to děláš? – perguntou a voz trovejante do segurança grandalhão, do outro lado da porta. Do ponto que estava, econstado na parede, Caio só conseguia ver a ponta da pistola do homem, apontada para Cassiano. O jovem manteve-se impassível e homem repetiu a pergunta, desta vez antrando no quarto. Quando notou Caio atrás de si, já era tarde demais, e um disparo de neutralizador em sua perna o pôs ao chão, se contorcendo. O homem ainda tinha a arma na mão – não era incomum pessoas grandes como ele conseguirem manter algum nível de controle muscular depois deuma descarga do neutralizador – então caio precipitou-se até ele e chutou a arma de sua mão antes que fizesse algum disparao. Mas arrependeu-se imediatamente desse momento de distração, porque o outro guarda-costa surgiu como um raio na porta, com uma pistola apontada para Caio, pronto para disparar. E o teria acertado, se Kuan não tivesse empurrado a porta com toda força, atingindo o homem em cheio
- Neutraliza ele e traz pra dentro, rápido! –Caio falou para Kuan, e voltou sua atenção para o segurança que estava no chão e que teimava em se levantar.Disparou mais um tiro, e dessa vez, ele apagou.
Caio não chegou a ver como exatamente aconteceu, mais um instante depois o neutralizador de Kuan voou pelo quarto, e segurança baixinho, com o rosto todo ensanguentado, estava sobre ele. Caio tentava achar um ângulo para um tiro, mas o as chances de acertar Kuan eram grandes, então confiou que o coreano resolveria a situação. O guarda-costas era feroz e movia-se um gato, disparando socos velozes enquanto mantinha a guarda, com uma postura de quem certamente era perito em alguma arte marcial. Mas não era páreo para Kuan. O coreano esquivou-se dos dois primeiros ataques e aparou o terceiro, e num movimento fluido girou o braço do homem para trás das costas dele numa chave. Com uma velocidade inacreditável, desfez a chave e aplicou um mata-leão perfeitamente ajustado. O homenzinho sacudiu-se, ficou pálido e finalmente desfaleceu. Caio ainda lhe de um tiro de neutralizador quando ele deslizou para o chão, para garantir que ficasse ali um bom tempo.
- Fecha a porta e fique atento, Kuan, a luta deve ter chamado atenção – falou Caio – Cassiano, mais rápido, não temos mais tempo.
- Creio que já tenho o bastante – disse o rapaz, abrindo os olhos – mas antes de irmos tenho uma ideia. O Vulcano certamente não vai falar sobre o que aconteceu aqui hoje, mas nada garante que os guarda-costas farão o mesmo.
- É um risco que vamos ter que correr... – respondeu Caio.
- Não se colocarmos a masculinidade deles em jogo. Vamos tirar a roupa deles e colocá-los na cama.
Caio não entendeu por um segundo, mas depois alcançou o que Cassiano queria dizer. A ideia era brilhante.
Deixaram os dois homens e Vulcano apenas de cueca, sobre a cama, e tiraram uma foto com câmera do celular.
- Ótimo – falou Caio – depois dou um jeito de isso chegar para eles.
Saíram o mais rapidamente possível do prostíbulo, com o cuidado de não chamar atenção. Quando chegaram ao hotel, Tsuruji e Marcelo já estavam no quarto, com Ludvik.
- Então, como foi? – perguntou Caio para os dois
- Tão fácil que chegou a ser chato – respondeu Marcelo.
- Deu tudo certo, Caio – falou Tsuruji – o Marce... digo, o agente Lutor instalou o explosivo, e eu peguei a assinatura do Júpiter – entregou o chip da máquina fotográfica para Caio – e vocês, como se saíram?
- Tivemos mais contratempos que vocês, mas também conseguimos. Isso é pra você, Tetsuo – entregou o pendrive para ele – O próximo passo é você usar as informações que estão aqui para encontrar um modo de passar pelas defesas do computador deles. Quero que você se concentre apenas nisso agora, certo?
- Certo. Vou começar agora.
- E quanto a nós três, o que vamos fazer? – perguntou Kuan – pelo o que entendi, só você e Tetsuo vão invadir o QG.
- Vocês vão ficar com aparte mais difícil da missão, rapazes, e nós vamos nos preparar para ela enquanto Tetsuo trabalha no pendrive.
- Ah é? – falou Marcelo – que beleza, até que enfim um pouco de ação...
- Sim, bastante ação, Lutor -respondeu Caio – Vocês vão lutar com o Júpiter.