ARTE > Contos

(Pós-Apocalíptico)A Última Primeira Mensagem

(1/1)

Barão Nemo:

O único sobrevivente do fim do mundo precisa deixar uma mensagem para a próxima civilização
(click to show/hide)Preste atenção, O mundo acabou e apenas um sobreviveu ao fogo.

O último imortal da terra.

Preste atenção, este processo já aconteceu antes, de novo e de novo. A extinção é uma ciência de regras bem definidas.

Observe enquanto o inverno nuclear se espalha pelo céu. Note como os continentes se reúnem em sua posição original, pangeia novamente. Testemunhe teatro da Terra se organizando antes que o show recomece.

Um último passo é necessário para avançar o processo: O último imortal deve visitar a ilha no topo do mundo e lá escrever uma mensagem, uma lição de sua civilização deixada para a próxima.

O imortal recebe suas instruções e começa a peregrinação, movido pela esperança de que poderia evitar o próximo fim.

A viagem é perigosa, mesmo enquanto os cogumelos da destruição se dissipam. Metal e chamas chovem sobre a terra. Ao mesmo tempo a jornada é assegurada, pois quando o processo do apocalipse começa nada pode interrompê-lo, exceto pela morte total do universo.

Os desafios no meio do caminho não são importantes, apenas as lições que se aprendem com o lixo decaindo na estrada.

Observe enquanto o último sobrevivente caminha pelo o que sobrou das Torres dos Sussurros. Por milênios as espirais de queratina se alimentaram do dia, em troca libertando os imortais de suas necessidades biológicas. Nem fome e nem sede atormentaram aquela civilização, secas e doenças pouco a ameaçavam, mas ainda sim a guerra veio e a derrubou.

A roda de Ouroboros continua a girar.

Note do que sobrou das megalópoles: Antes largas o bastante para cobrir a superfície e altas o suficiente para alcançar o limite da atmosfera, agora apenas restos de desfazendo em areia radioativa. Os prédios foram construídos por povos avançados o bastante para se livrar da velhice e da decadência, mas que se mantinham presos á planeta pelo medo do que se esconde atrás do sol. O último imortal reflete sobre isto nos nove anos que leva para atravessar as ruínas.

A pena de Sísifo volta ao começo.

Testemunhe enquanto o imortal atravessa a máquina de guerra, seus restos formando uma ponte entre a costa e a ilha no topo do mundo. A natureza deu imortalidade á uma população inteira, e a ciência a aproximou da perfeição, mas o ódio nunca morreu. Almas imortais sabiam guardar receios, e aqueles que não temiam fome ou idade aprenderam outros motivos para rivalidade. Mentes antigas tramavam vinganças ardilosas e cruéis, e tecnologias avançadas traziam grandes ferramentas. Milênios de inimizades chegaram ao fim quando as grandes máquinas foram ligadas, terminando tudo em apenas alguns dias.

Pó mais uma vez.

O último imortal chega á ilha e comtempla a grande arma por alguns minutos, antes de deixa-la para afundar no mar ácido.

O local não está deserto, outros imortais esperam. Não aqueles da civilização que acabou, pois dela só sobreviveu um filho, mas aqueles que vieram antes de outros ciclos e outros processos.

Eles lhe mostram o caminho até o livro onde a mensagem seria escrita, uma última lição daqueles que falharam para aqueles que viriam.

A mensagem seria distribuída pela essência do próprio universo; No formato das nuvens ao vento, no movimento errático das chamas, nos códigos dos flocos de neve, na estática criptográfica do rádio, no ranger noturno da madeira e no som memético dos bocejos sonolentos.

O último imortal refle sobre sua viagem, sobre tudo o que viu, sobre aqueles que morreram e sobre todos os imortais que falharam em mudar o ciclo.

Com suas pinças cristalinas ele pega o instrumento e escreve a mensagem para o próximo povo, herdeiros de roedores e primatas.

Tudo o que nascer há de decair. Tudo o que viver há de morrer.

Com isto o livro se dissolve em átomos. Todos abandonam a ilha, esperando que nunca tenham de retornar. O processo continua, dando início á um mundo onde nenhum imortal jamais nasceria novamente, um mundo que o último deles esperasse durar para sempre.

Preste atenção. Note as calamidades na televisão, observe a corrupção na água e no ar, testemunhe o relógio do mundo chegando á meia-noite.

Ele falhou.
(click to show/hide)Versão do site
E mais uma vez com um arquivo em anexo ao post.

Navegação

[0] Índice de mensagens

Ir para versão completa